“Estou muito feliz. E também surpresa”. Com essas palavras, após chegar de São Paulo (SP) na primeira viagem na vida sem os pais, a estudante Nicole Rodrigues Florentino descreveu, na tarde de ontem, o sentimento por uma grande conquista com apenas 11 anos: é uma das finalistas na categoria Poema da 6ª Edição da Olimpíada de Língua Portuguesa. Com o tema O lugar onde vivo, as cinco categorias do concurso Poema, Memórias Literárias, Crônica, Documentário e Artigo de Opinião atingiram mais de 170 mil inscrições em todo o país. “Não fiquei cansada, e lá não estava frio”, contou a menina, ao lado da mãe, a cuidadora Eliene Rodrigues, de 42, na casa da família no Bairro Serra Verde, na Região de Venda Nova, em Belo Horizonte.
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Aluna de escola em Venda Nova é finalista da Olimpíada de Língua PortuguesaCampeonato de matemática leva estudantes de escolas públicas para a NasaEstudantes mineiros ganham medalha de bronze em competição de matemática em Taiwan Mineira é premiada por pesquisa sobre câncer nos Estados UnidosLoterias: sonho de virar milionário fica mais caro a partir de domingoA revelação e premiação dos vencedores ocorrerá em 9 de dezembro. em cerimônia na cidade de São Paulo. Os 173 participantes selecionados para reta final do concurso concorrem a viagens culturais, enquanto os professores vencedores terão direito a uma imersão pedagógica internacional. A menina está tranquila e, por enquanto, não sabe a profissão a seguir, pois tudo muda na cabeça da criança. Mas tem uma certeza, brinca a mãe: “Agora, é escritora”. A participação no concurso deu à mineirinha a chance de viajar de avião pela primeira vez.
Iniciativa do Ministério da Educação e do Itaú Social, com coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), a Olimpíada de Língua Portuguesa é um concurso de produção de textos para alunos de escolas públicas de todo o país e integra as ações desenvolvidas pelo Programa Escrevendo o Futuro. O tema das produções desta vez destacou O lugar onde vivo, propiciando aos alunos, conforme os organizadores, “estreitar vínculos com a comunidade e aprofundar o conhecimento sobre a realidade local, contribuindo para o desenvolvimento de sua cidadania”. Nesta edição, a premiada escritora mineira Conceição Evaristo é a grande homenageada e estará presente na cerimônia de entrega das medalhas.
Acompanhamento
Durante o processo, Terezinha Lima da Silva, professora da menina, desenvolveu oficinas com os alunos e fez um acompanhamento extraclasse com Nicole, trabalhando a estrutura do seu poema e aperfeiçoamento do texto. As duas viajaram para São Paulo, na segunda-feira, onde participaram de atividades culturais e formativas proporcionadas aos finalistas da competição. Além disso, receberam, na quarta-feira, a medalha de prata durante cerimônia de premiação que escolheu os finalistas da categoria Poema.
"Foi muito bacana, um orgulho ver a Nicole como finalista. Para nós, é maravilhoso ter a Nicole como aluna, pois ela conseguiu nos sensibilizar com o seu poema. Especialmente para mim, é um privilégio muito grande poder ajudar a aflorar esse dom para a escrita que ela já tem", disse a professora. E mais: "Maravilhoso participar das oficinas, uma formação importante tanto para nós, professores, quanto para os alunos. Acredito muito na Nicole, vejo que tem potencial de levar a medalha de ouro, mesmo não sendo nada fácil. "
Professora de língua portuguesa, Terezinha destacou ainda a forma como Nicole se referiu a Belo Horizonte e depois à tragédia de Brumadinho, que completará um ano em 25 de janeiro. “Ela pede justiça, tem esperança”. *Estagiária sob supervisão da subeditora Rachel Botelho
Da janela de Minas
Nicole Rodrigues
Da janela de minha casa,
Vejo um belo horizonte.
Que lugar maravilhoso!
Aqui é um lugar esplêndido
De se viver, curtir e divertir.
Da janela de minha casa,
Vejo turistas curiosos,
Com um olhar fascinante,
Admirando nossa
Pampulha exuberante.
Da janela de minha casa,
Vejo um delicioso feijão-tropeiro,
Digno de um mineiro,
Tão bom quanto o seu cheiro.
Da janela de minha casa,
Vejo belos museus ordenados,
Com nosso passado
Muito bem guardado.
Da janela de minha casa,
Vejo cintilantes cachoeiras,
Onde nadamos e nos refrescamos.
Da janela de minha casa,
Vejo tanto desemprego,
Assombrando nossa gente,
Que é honesta e decente.
Da janela de minha casa,
Vejo crianças sem cama,
Sem casa e sem comida.
Da janela de minha casa,
Vejo lágrimas tristes escorrendo,
Pelo rosto de quem perdeu
Um ente querido
Na barragem que se rompeu.
Da janela de minha casa,
Vejo a realidade de nossa sociedade,
Gente que não tem nada,
Mas ainda resta a fé.
Da janela da minha casa,
Vejo quase tudo...
Só aguardo a justiça,
A solidariedade e a honestidade
Serem feitas para vivermos
em igualdade.
Essa é a mais pura verdade.