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Estado de Minas ENTREGA E DEVOÇÃO

Missa e CD comemoram os 70 anos de atuação do mosteiro das irmãs beneditinas em BH

Dedicadas a preces e trabalhos sociais, 40 irmãs de diferentes gerações vivem em clausura no Mosteiro de Nossa Senhora das Graças, na Vila Paris


postado em 09/11/2019 04:00 / atualizado em 09/11/2019 08:05

Religiosas participam de celebração na igreja do mosteiro, localizado no Bairro Vila Paris (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Religiosas participam de celebração na igreja do mosteiro, localizado no Bairro Vila Paris (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


A chuva da tarde traz, do jardim, o cheiro de mirra, que aguça os sentidos e torna mais celestiais os cânticos em latim. São 15h e começa a oração de Noa ou nona hora do dia, que recorda a morte de Jesus, conforme São Bento (480-547), o monge italiano iniciador da ordem beneditina. A não ser pelas vozes femininas e alguns trovões lá fora, o silêncio é absoluto na igreja do Mosteiro de Nossa Senhora das Graças, na Vila Paris, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, onde, em regime de clausura, vivem mais de 40 religiosas de várias gerações. Segunda mais antiga do país exclusivamente para monjas beneditinas – a primeira, de 1911, fica em São Paulo – a casa do lema Ora et labora (Oração e trabalho) comemora amanhã 70 anos de fundação, com missa solene, às 8h, celebrada pelo arcebispo metropolitano de BH e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo.

A data certa é 12 de novembro, mas, por cair na terça-feira, a comunidade beneditina decidiu festejar as sete décadas amanhã, por ser domingo, dando oportunidade a mais gente de comparecer, incluindo convidados do interior mineiro e de outros estados. Para quem se apaixonar pelas melodias e vozes afinadas, vale a dica: na oportunidade, será apresentado o CD comemorativo Cantarei ao Senhor por toda a vida, com o canto gregoriano dando o tom a músicas litúrgicas e marianas com a regência da maestrina Marilene Gangana e do cravista Antônio Carlos de Magalhães. “Estar aqui é como ter Deus na alma”, acredita a regente.

Parte importante da cidade cresceu em torno do mosteiro, cercado de árvores, como ipê, colorido pelas orquídeas, perfumado pelas camélias e com o imbé alastrando-se pelos cantos. “Sempre estivemos aqui, mas o bairro, que nasceu da antiga Colônia Afonso Pena, já se chamou Coração de Jesus, Santa Lúcia e, hoje, Vila Paris. A região foi crescendo e se desmembrando. Já disseram que desmatamos para construir, mas, na verdade, foram as beneditinas as reponsáveis de todo o bosque, com sementes doadas pela prefeitura”, conta a subprioreza irmã Maristella Matos, natural de Januária, no Norte de Minas, e há 60 anos na comunidade. Acima na hierarquia estão a abadessa madre Maria Letícia Silva e a prioreza irmã Melânia Almeida.

“Foram 40 anos para a construção, iniciada em 1952, ficar pronta, e a grande ajuda vem sempre de Deus. Para conduzir o mosteiro, temos uma pequena hospedaria, a Betânia, com nove quartos e aberta a religiosos, seminaristas, casais e outros interessados, venda de artesanato e nossas aposentadorias”, revela a irmã Maristella. Com brilho nos olhos, ela se orgulha do atendimento “aos que nos procuram para desabafar, contar seus problemas e buscar uma palavra de conforto”, o que é feito também pelo telefone”. Logo na chegada ao local, e pouco antes de conversar com a freira, a equipe do Estado de Minas viu uma mulher, aos prantos, conversando no parlatório, onde são recebidas as pessoas para o contato particular.

GERAÇÕES Como se trata de clausura e vida contemplativa determinado pela Regra de São Bento, as irmãs têm limitações no contato com o mundo exterior, embora muito tenha mudado a partir do Concílio Vaticano II, convocado em 25 de dezembro de 1961, pela bula papal Humanae salutis, de João XXIII (1881-1963), hoje São João XXIII. “Antes, era difícil chamar um médico”, recorda a irmã. Muitas religiosas assistiram às transformações, a exemplo de irmã Helena Quintiliano dos Santos, que completará 100 anos em janeiro e vive mais recolhida pela idade avançada. Numa volta no tempo, a religiosa mostra documentos informando que “as 12 pioneiras, vindas de São Paulo a convite do então arcebispo dom Antônio dos Santos Cabral (1884-1967), passaram três anos numa casa apelidada de Mosteirinho, no Bairro da Serra”.

No início da tarde, como ocorre agora na hora canônica Noa, o dia já vai longe para as irmãs. Diariamente, elas acordam às 4h25, seguindo para a igreja a fim de participar da oração das Vigílias ou santificação da noite. Depois, meditação de 10 a 20 minutos, dependendo da extensão do salmo, e parada para o café servido às 6h. Feita a limpeza, vem Laudes (6h20), para celebrar o dia que começa. De segunda a sábado, há missa às 7h, e uma hora mais tarde, um momento importante: o Lectio divina, a leitura da Bíblia na cela (quarto individual), no jardim ou na igreja. Já às 9h30, tem início o trabalho na cozinha, copa, lavanderia, bordados e encadernação.
A tarde tem mais Ora et Labora. Às 11h30 tem oração coletiva, depois o almoço e limpeza dos pratos, com a pausa para o recreio e oportunidade de jogar peteca. Das 14h às 15h, mais atividades e estudo, como a preparação para o noviciado, e depois a oração de Noa. No fim da tarde, é a vez das Vésperas, celebração da Eucaristia. O jantar é servido às 18h e o dia termina com as Completas. “Temos aqui quatro noviças em experiência, um número bom, está crescendo”, diz a sub-prioreza do mosteiro vinculado à Congregação Beneditina Brasileira.

NOVOS TEMPOS Dificilmente alguém vai dizer que a irmã Angélica Tavares Leite tem mais de 20 anos de idade – e nisso concordam piamente o repórter e o fotógrafo. Porém, com um sorriso discreto e palavras precisas, a postulante à vida permanente em clausura esclarece: “Não sou jovem, não. Tenho 35 anos”. Com saia e blusa cinzas, que diferem do hábito preto das irmãs, a belo-horizontina formada em teologia na PUC Minas e com trabalho missionário de cinco anos em São Paulo (SP) não tem dúvida quanto à escolha e a busca vocacional. Teve um namoro aos 22 anos, ouviu gente tentando desestimulá-la e mas manteve a fé inabalável nos seus propósitos.

“Deus nos faz pensar por nós mesmos um caminho de religiosidade. Ele é quem o coloca no nosso coração”, diz irmã Angélica, ressaltando que, em 2018, teve uma experiência no Mosteiro Nossa Senhora das Graças e definiu os objetivos. “Gostei muito”. Em 28 de junho último, retornou como postulante e sabe que a estrada é longa, passando pela profissão simples (votos para três anos) até a consagração (votos definitivos), quando passará a usar a aliança na mão esquerda simbolizando o casamento com Jesus, com a Igreja. “Aqui fico mais leve, sinto a liberdade de mim mesma, tenho um dom, professo o desapego”. Para a irmã, é fundamental ver a vida com os olhos do coração e amar profundamente o dia a dia em comunidade.

HISTÓRIA As 12 beneditinas pioneiras em BH vieram da Abadia de Santa Maria, em São Paulo, primeiro mosteiro feminino da Ordem de São Bento na América Latina, com a missão de irradiar a espiritualidade. De posse de um livro com muitas fotos em preto e branco e livro com folhas datilografadas, a irmã Maristella, que trabalha no arquivo, fala da história: Dom Cabral visitou o mosteiro em São Paulo e fez o convite para que retornassem à capital mineira um grupo de irmãs que haviam pertencido à Juventude Feminina de Ação Católica, da Arquidiocese de BH. “Foi dom Cabral quem escolheu o nome do futuro mosteiro, devido à grande devoção à Virgem das Graças.”

Tendo à frente o casal Balbino Ribeiro da Silva e Maria José Rezende Silva, pais da fundadora Irmã Luzia Ribeiro de Oliveira (1914-2004), um grupo de moradores arregaçou as mangas e trabalhou para viabilizar o projeto. Conforme um documento, “o terreno foi adquirido da prefeitura, em hasta pública e, na ocasião, só tinha à sua volta as belas montanhas de Belo Horizonte, e, embaixo, o Colégio Sacré Coeur de Jésus e a favela da Barragem Santa Lúcia”. Em 1952, ocorreu a mudança definitiva para, no ano seguinte, ser elevado a abadia. Mantendo a Regra de São Bento, os convidados são sempre bem acolhidos, afinal, o santo queria que “todos os que vêm ao mosteiro sejam recebidos como se fossem o Cristo”.

SERVIÇO 

Missa comemorativa dos 70 anos do Mosteiro Nossa Senhora das Graças, da Ordem das Beneditinas
» Data e horário: Amanhã, às 8h, com missa celebrada pelo arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo
» Apresentação do CD comemorativo Cantarei ao Senhor por toda a vida, com o canto gregoriano (R$ 20) 
» Local: Rua do Mosteiro, 138, Vila Paris, BH. Informações pelo telefone (31) 3344 4344 ou pelo e-mail mnsgbh@gmail.com – As missas são celebradas de segunda-feira a sábado, às 7h; e aos domingos, às 8h.
» Obra social: o Mosteiro de Nossa Senhora das Graças acompanha crianças, adolescentes e adultos, havendo encontros com os assistidos aos domingos, após a missa das 8h, no espaço chamado Pavilhão, localizado no Conjunto Santa Maria 


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