Depois de nove meses de pousadas sem hóspedes, cachoeiras vazias e restaurantes com cadeiras sobre as mesas, o turístico distrito de São Sebastião das Águas Claras, em Nova Lima, mais conhecido como Macacos, começa a se recuperar após as remoções de moradores e comerciantes de seus imóveis, instalação de sirenes de alerta e de estruturas para lidar com a apreensão quanto ao rompimento de barragens de mineração. Fins de semana e feriados prolongados, como o da Proclamação da República, amanhã, já recebem grande público, principalmente pela disseminação de informações sobre os locais onde realmente há risco e também das medidas para alerta em caso de acidentes e para a necessidade de fuga. No recesso que começa amanhã, por exemplo, bares e restaurantes já se preparam para receber um público substancial. Várias pousadas trabalham com lotação máxima, sendo que algumas já estão sem vagas para reservas nos fins de semana deste ano.
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Vale anuncia obras de contenção de barragens em Macacos, Barão de Cocais e ItabiritoBarreira será construída em Macacos devido a risco de rompimento de barragemTermina operação "siga e pare" em estradas da região de Macacos, em Nova LimaPacientes enfrentam longa fila por consulta pelo SUS na Santa Casa Vai ficar em BH? Veja o que abre e fecha no feriado da Proclamação da RepúblicaCom 12 mil policiais, PM lança operação com foco em roubos e furtos em Minas Belo Horizonte expõe presépio de papel com inspiração ecológicaO fato é que o turismo que começa a redescobrir Macacos sofreu pesado golpe em diversas cidades depois do rompimento da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, em 25 de janeiro, e a subsequente evacuação de áreas próximas a outras represas de mineração pelo estado. No caso de Macacos, em 16 de fevereiro a sirene de alerta soou e deu início à fuga de visitantes de Macacos, na zona de influência da Barragem B3/B4 da mina de Mar Azul, também da Vale. Ainda hoje, muitos habitantes não retornaram a suas casas. Segundo a mineradora, 125 famílias deixaram suas moradias, sendo que 108 estão hospedadas e outras 17 moram em casas alugadas.
A estrada de oito quilômetros do trecho coincidente das rodovias BRs 040 e 356 até o centro de Macacos ainda tem resquícios dos pontos de bloqueio que foram erguidos emergencialmente na época da evacuação da comunidade. Várias placas indicam rotas de saída e há inclusive sinalização com mensagens eletrônicas que pode ser programada dependendo da necessidade. Ao longo da via foram montados quatro pontos de observação, todos com pessoas prontas a intervir, bloqueando ou restringindo o tráfego em caso de emergências.
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Já no vilarejo, as áreas que podem ser afetadas caso uma onda de rejeitos se desprenda da Barragem B3/B4 estão demarcadas por placas, algumas indicando rotas de fuga e pontos de encontro. Por todo local, em meio à população local e visitantes circulam equipes de segurança contratadas pela Vale, grupos de ação social e guardas municipais, o que amplia a sensação de segurança.
Essas medidas parecem contribuir para que, aos poucos, a confiança do turista volte. Na Pousada do Seu João, por exemplo, todos os 25 chalés estão ocupados para os fins de semana até o fim do ano, só restando reservas para 2020. “Assustou mesmo no dia em que a sirene tocou e apareceu aquele tanto de gente mandando as pessoas saírem de casa. Mas aos pouquinhos as coisas foram voltando. Vem gente comentando, perguntando e a gente então explica que não tem perigo, que a empresa avisa antes de acontecer qualquer coisa”, disse um dos responsáveis pela hospedagem, João Gabriel Rodrigues, de 78 anos. Na pousada Canto da Lua, todos os 11 quartos estão ocupados para o feriado. A Pousada Vilarejo também estava com mais da metade de seus quartos ocupados, ontem, e a previsão era de que todos estivessem ocupados durante o recesso.
‘O principal é a informação’
Um dos bares mais conhecidos de Macacos, o Bar do Marcinho, chegou a penar nos tempos magros pós-acionamento de sirenes. O estabelecimento que cresceu ao longo de 30 anos e experimentava lotação praticamente máxima todos os fins de semana e feriados viu os clientes rarearem. “Caiu muito, mas já está melhorando. Sábado, o movimento de clientes ainda está um pouco fraco, mas nos domingos e feriados conseguimos lotar. Nesta sexta-feira, a expectativa é de casa cheia”, afirma o proprietário, Márcio Rodrigues.
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Ele afirma que todos os comerciantes enfrentaram dificuldades, mas considera que o segredo é não desistir. “Muita gente fechou. Minha ideia foi trabalhar mais. Foi trabalhando que superamos o que veio e agora estamos voltando a ser o que era. Acho que o principal é a informação. Todo mundo que vier a Macacos saberá onde há perigo e onde pode ficar tranquilo”, disse.
Há ainda quem fique com receio, sobretudo de frequentar as conhecidas cachoeiras do distrito. “Não nado mais não, porque é justamente pela água dos rios que descem os rejeitos das barragens”, disse o pedreiro Neviton Aquino, de 35, morador do lugar. “Gosto e acho que se tiver qualquer problema, vamos saber a tempo. Mais gente tem voltado a frequentar as cachoeiras, que são muito boas”, disse o carpinteiro Antônio Magalhães de Matos, de 56, também de Macacos.
Programa busca estimular setor
De acordo com a Prefeitura de Nova Lima, estão sendo estudadas alternativas para a retomada econômica da região. Há projetos de fomento ao turismo, com um novo Centro de Atendimento ao Turista (CAT) e a Escola de Turismo e Gastronomia. Um city tour para a região está sendo planejado para o próximo ano, além de campanhas de publicidade. “A revitalização de pontos turísticos do arraial de Macacos, como a Igrejinha de São Sebastião já está sendo feita pela Vale, assim como melhorias na infraestrutura viária”, informou a administração municipal.
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A empresa Vale espera concluir um barramento entre a represa de rejeitos e Macacos até dezembro. “A contenção de pedras já atingiu 15 metros de um total de 30 metros de altura por 190 metros de extensão, localizada oito quilômetros da barragem. Depois de concluída, a barreira terá a capacidade de reter todo o rejeito da barragem em caso de rompimento”, informou a empresa. Ainda de acordo com a mineradora, a comunidade recebe assistência humanitária com apoio psicossocial e atendimento médico emergencial, alojamento em hotéis, pousadas e moradias provisórias e o fornecimento de alimentação, itens de higiene pessoal e primeira necessidade, medicamentos, vestuário e transporte.
“As famílias receberam os imóveis reformados, limpos, mobiliados e abastecidos com alimentos e materiais de higiene pessoal. Como complementação, também receberam repasses de auxílio-vestuário de R$ 2 mil por adulto e R$ 1 mil por criança e adolescente, além de R$ 300, por pessoa, para adquirir itens de higiene, fora auxílio para transporte e custo com água e gás”, informou. Segundo a empresa, moradores da zona mais próxima à barragem ou que têm imóveis nas áreas que foram evacuadas receberam doações financeiras no valor de R$ 5 mil para despesas emergenciais.