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Estado de Minas ESTIAGEM

'Novembro vermelho' em MG: em 15 dias, 21 localidades entraram em racionamento

Atraso da chuva espalha pelo estado restrição no fornecimento de água, que já afeta 35 sistemas geridos pela Copasa


postado em 16/11/2019 06:00 / atualizado em 16/11/2019 07:31

Escassez de água é realidade em barragens de várias cidades do Norte mineiro. Professor fala em 90% dos recursos hídricos comprometidos(foto: Ronaldo Xavier/Divulgação)
Escassez de água é realidade em barragens de várias cidades do Norte mineiro. Professor fala em 90% dos recursos hídricos comprometidos (foto: Ronaldo Xavier/Divulgação)


Na conscientização para a prevenção contra o câncer de próstata, as campanhas destacam o “novembro azul”. Mas, em termos de clima, para muitas cidades mineiras, especialmente na Região Norte, até agora o mês tem mais cara de “novembro vermelho”. Após mais de seis meses de estiagem prolongada, existia a expectativa do retorno das chuvas em todo o estado neste mês, para a recuperação dos mananciais. No entanto, o pouco que caiu do céu ainda não foi nem de longe o bastante. Das 35 comunidades atendidas pela Copasa com racionamento de água declarado, como mostrou ontem o Estado de Minas, pelo menos em 21 a restrição no abastecimento foi adotada na primeira quinzena deste mês.

O quadro é severo no Norte de Minas, que historicamente sofre com as estiagens prolongadas. De acordo com o superintendente de Operação Norte da Copasa em Montes Claros, Roberto Botelho, houve queda dos recursos hídricos de 60% em alguns municípios da região. Em alguns. mananciais que eram usados para o abastecimento das sedes urbanas secaram completamente. O drama ocorre nos municípios de Curral de Dentro, Divisa Alegre e Cristália, onde a população enfrenta o racionamento de água. Em dezenas de comunidades rurais, moradores são atendidos por caminhões-pipa.

Para manter garantir o atendimento da população, a Copasa vem recorrendo a poços tubulares. Porém, com o atraso na chegada das chuvas, as reservas subterrâneas também diminuíram na Região Norte, como se verifica em Montes Claros e em Varzelândia, onde “vários poços profundos estão com vazão nula”, informa Botelho.

Por essa e outras razões, a partir de amanhã os 404,8 mil habitantes de Montes Claros começam a receber água em dias alternados. O principal motivo do rodízio adotado pela Copasa é que a Barragem do Rio Juramento, responsável por 60% da água distribuída na cidade, está com 13,3% da capacidade. Além disso,  o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) decretou situação de escassez hídrica do Rio Pacuí, no município de Coração de Jesus, onde também é feita a captação de água para Montes Claros. De acordo com o Igam, o Pacuí teve redução de 70% da vazão normal nos últimos meses.

Roberto Botelho salienta que as previsões eram que a estação chuvosa teria início no Norte de Minas no fim de setembro, com volumes mensais próximos da média histórica. “Entretanto,  o volume acumulado de 1º de outubro até hoje (ontem) é de cerca de 40% da média histórica”, informa. Segundo ele, no período foram registrados em Montes Claros 47 milímetros de chuvas, ou 15% dos 325 milímetros do mesmo período do ano passado.

“O atraso no início da temporada de chuvas tem provocado queda acentuada na capacidade de produção dos mananciais, tanto superficiais quanto subterrâneos, ocasionando sérios problemas no abastecimento de água em várias cidades e localidades do Norte de Minas”, salienta o superintendente de Operação Norte da Copasa. Além de Montes Claros, afirma, a companhia adotou restrição em mais 10 sistemas de abastecimento da região.

E o quadro pode piorar mais ainda nos próximos dias, pois as previsões indicam que chuvas mais intensas, capazes de recuperar os mananciais de superfície e o lençol freático somente deverão ocorrer nessa parte do estado nos meses de dezembro e janeiro.

Devido à estiagem prolongada, a Barragem do Bico da Pedra, no Rio Gorutuba, no município de Janaúba, está com pouco mais de 10% da sua capacidade. No início desta semana, o Igam decretou situação de escassez hídrica no reservatório, determinando também redução do uso da água para as diversas finalidades.

Mais de 90% dos mananciais secos


“Após seis, sete, oito meses de seca, se chuvas se atrasam mais ainda os impactos são muito grandes. Essa é a realidade que estamos presenciado. Chegamos a um patamar muito crítico no Norte de Minas. Mais de 90% dos nossos recursos hídricos estão secos. A realidade é triste mesmo”, afirma o professor e doutor em engenharia agrícola Flávio Pimenta de Figueiredo, do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em Montes Claros.

Ele lembra que a temporada de chuvas no Norte do estado tivesse chegado há pelo menos 15 dias, o reservatório do Rio Juramento não estaria com um volume tão baixo como se encontra. “Atualmente, a Barragem de Juramento está com pouco mais de 13% da capacidade. No mesmo período do ano passado, acumulava 35%”, compara.

Contudo, ele destaca que há previsão de que as chuvas vão começar no Norte de Minas a partir deste fim de semana, com a perspectiva de serem registrados cerca de 500 milímetros até meados de janeiro. “O desafio é segurar a água. Só vamos resolver o problema da falta d água quando se permitir que toda chuva que cai se infiltrem na terra para recarregar ao aquíferos freáticos e, consequentemente, perenizar os rios”, opina o especialista.

Mês de alerta


Conforme levantamento do Estado de Minas, dos 35 sistemas de abastecimento da Copasa que estão em racionamento, em 21 a restrição foi determinada neste mês. A situação ocorreu nos municípios de Montes Claros, Taiobeiras, Curral de Dentro, Lontra, Divisa Alegre, Capitão Enéas, todas no Norte de Minas; Poté (Vale do Mucuri); Campanha (Sul de Minas); Belo Oriente (Vale do Aço); Tarumirim,  Virginópolis, Santa Efigênia de Minas (Leste de Minas); e Pedra Azul  (Vale do Jequitinhonha). Também neste mês, a Copasa anunciou rodízio nas comunidades de Topázio (em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri); São Sebastião de Braúnas, Bom Jesus do Bagre e Perpétuo Socorro (todos em Belo Oriente, no Leste de Minas); no Barro Industrial e Ipaba de Paraíso (em Santana do Paraíso); em Edgar de Melo (Itanhomi) e em Vale Verde de Minas (Ipaba), as três últimas no Vale do Rio Doce.



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