Chuva constante, grande volume de veículos e quedas de barreiras. Os ingredientes para uma saída de feriado caótica se uniram ontem, trazendo morte e transtornos para quem pegou a estrada ou deixou Belo Horizonte de ônibus para o recesso da Proclamação da República. Uma situação que, além da mobilização de equipes de controle e policiamento de trânsito, gera um alerta para amanhã, quando milhares de viajantes voltam para casa. No aspecto mais trágico da saída para o feriadão, pelo menos cinco pessoas morreram e 11 ficaram feridas em quatro acidentes nas rodovias BR-381 (Pouso Alegre e João Monlevade), 265 (Barbacena) e MG-010 (Jaboticatubas). Entre as vítimas de ferimentos estão uma criança de 2 anos e um bebê de 11 meses, que sobreviveu por estar protegido por uma cadeirinha. O dia também foi de grandes congestionamentos, tanto na rodoviária da capital quanto na saída para o litoral do Espírito Santo – quadro que tende a se repetir entre a noite de domingo e a manhã de segunda-feira.
O mais grave acidente ocorreu por volta das 10h, quando um Chevrolet Prisma com cinco ocupantes bateu num Renault Sandero na BR-265, altura do Km 210, em Barbacena, na Região Central de Minas Gerais. O condutor e um passageiro morreram no local. A esposa do motorista e um bebê de 11 meses, que estava protegido em uma cadeirinha veicular, foram levados para o Hospital Regional de Barbacena. Ela foi internada no CTI, em estado grave. A criança estava em observação. O outro passageiro teve ferimentos leves. A identidade dos envolvidos não foi divulgada. Segundo o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o Prisma seguia no sentido Barbacena e capotou depois de sair da pista e bater no Sandero.
No outro acidente envolvendo criança, duas pessoas morreram, enquanto um menino de 2 anos e outro ocupante de um carro ficaram feridos. Depois de uma derrapagem na BR-381, em Pouso Alegre, Sul de Minas, o veículo rodou na pista escorregadia e acabou caindo de um viaduto no Km 857 da rodovia. A criança e um dos adultos que estavam a bordo foram encaminhados em estado grave ao Hospital das Clínicas Samuel Libânio, em Pouso Alegre. Liberados das ferragens pelos bombeiros, os corpos das duas vítimas foram levados ao IML. Segundo os bombeiros, os envolvidos no acidente são da mesma família, mas não se sabia ainda qual o grau de parentesco entre eles. O sexo, a identidade e a idade das vítimas também não foram revelados. Na rodovia MG-010, em Jaboticatubas, no acesso à Serra do Cipó, uma adolescente de 15 anos perdeu a vida em uma capotagem. Outras duas pessoas que estavam no carro sobreviveram.
Transtorno
Mesmo depois de a véspera do recesso ter registrado grande movimento e de a maior parte das vias de BH terem se transformado em um deserto, a saída para o Leste mineiro e para as praias capixabas, assim como a rodoviária da capital concentraram ilhas de congestionamentos, uma provação para os viajantes. Da capital mineira às praias do Espírito Santo, a BR-381, em obras, e a BR-262, com queda de barreiras, foram as rodovias onde esse teste de paciência se mostrou mais árduo, com fechamento de pistas e acidentes ao longo dos 555 quilômetros entre BH e Guarapari (ES), um dos mais procurados destinos de mineiros.
A BR-381, na saída para o Vale do Aço, litoral Nordeste e costa do Espírito Santo, chegou a concentrar mais de 10 quilômetros de congestionamentos, desde o Anel Rodoviário de Belo Horizonte até o Bairro dos Borges, em Sabará, na Grande BH. Nessa região foram registradas batidas sem vítimas, sem maior gravidade, mas que ajudaram a piorar os gargalos da rodovia, tanto por comprometer faixas da estrada como por causar a redução da velocidade por parte de condutores curiosos.
E os percalços seguiram adiante, no trecho conhecido como Rodovia da Morte, onde há mais de 200 curvas no segmento de 100 quilômetros até João Monlevade, na Região Central de Minas Gerais, que para piorar passa por obras de duplicação. Na altura do Km 362, em Monlevade, a estrada precisou ser interditada entre as 9h e as 11h devido a um acidente. Um carro e um caminhão bateram de frente, deixando três pessoas feridas.
Já a BR-262, que é a sequência da BR-381 no caminho para o litoral capixaba, foi completamente fechada entre os Kms 20 e 35, na altura do município de Domingos Martins, já na Região Serrana do Espírito Santo. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), o bloqueio se deve à queda de barrancos da rodovia, causada pelas fortes chuvas que atingiram o estado vizinho na quinta-feira. A Polícia Rodoviária Federal no Espírito Santo informou que o tráfego foi aberto parcialmente na tarde de ontem, após mais de 24 horas de interrupção, mas poderia ser novamente interrompido em caso de chuvas. O que, se confirmado, pode influir na volta do feriadão. Na ida, o trajeto alternativo rumo a Vitória foi feito pelo Posto do Café, próximo ao município de Marechal Floriano, até a cidade de Alfredo Chaves, depois Guarapari e BR-101.
Sufoco na rodoviária
Em Belo Horizonte, o Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro (Tergip), no Hipercentro da capital, voltou a mostrar os problemas de uma rodoviária instalada em local de fluxo normalmente já intenso de veículos e pedestres, dando uma prévia do que ocorrerá no fim do recesso. Na manhã de sexta-feira, o quadro da noite de quinta-feira se repetiu, com intensa procura de viajantes e grande movimento de veículos de passeio, táxis, carros a serviço de aplicativos, ônibus urbanos e de viagem. O resultado: engarrafamentos que irradiaram pela região e para o complexo da Lagoinha, que dá acesso ao Centro.
Pelo menos 25 quarteirões no entorno da rodoviária receberam movimento intenso, com a chegada de passageiros para embarcar e outros que desembarcaram na capital. A Rua dos Caetés foi uma das mais comprometidas, apresentando sete quarteirões de lentidão, entre a Avenida do Contorno e a Rua Espírito Santo. Trechos de engarrafamento quase paralisaram as avenidas Santos Dumont, do Contorno, Paraná e ruas Paulo de Frontin, Saturnino de Brito, Curitiba e dos Tupinambás.
Agentes da BHTrans tentaram controlar o fluxo de veículos para impedir que cruzamentos fossem fechados. “Aqui é sempre movimentado. Mas hoje ainda está melhor do que ontem (quinta-feira), porque só em volta da rodoviária é que está ruim. Ontem o tráfego estava agarrado em qualquer avenida que viesse para cá. A hora de garantir algumas corridas é agora, também, porque depois a cidade vai ficar vazia. Aí, só domingo mesmo”, disse Wellington Gonçalves, de 43 anos, motorista de aplicativo que buscou faturar com o movimento.
A lentidão não desanimou a doméstica Arlinda Maria dos Santos Clementino, de 56, e as filhas e netos que foram visitar a família em Almenara, no Vale do Jequitinhonha. “Demora um pouquinho, mas a gente madruga para chegar cedinho e não perder a condução. Depois que sai do Centro, também melhora. A estrada é boa e vazia. Ruim mesmo é depois o ônibus que a gente pega lá em Almenara para a roça”, disse.
RECOMENDAÇÕES
Para o retorno do feriado, a BHTrans montará esquema especial no entorno do terminal, das 15h de domingo até o meio-dia de segunda-feira. Porém, caso seja possível é recomendável evitar a região, onde os congestionamentos tendem a se repetir na volta do recesso, principalmente em caso de chuva. No caso das estradas, a Polícia Rodoviária Federal recomenda aos viajantes que, ao conduzir seus veículos sob chuva não se esqueçam de acender os faróis, reduzir a velocidade e aumentar a distância para os demais veículos.