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Metrô paga preço do tarifaço: 2,4 milhões de passageiros a menos em nove meses

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(foto: Arte EM)


O preço das viagens sobe e o custo do transporte pesa no orçamento, ao mesmo tempo em que o metrô de Belo Horizonte assiste à fuga de usuários. Cerca de 2,44 milhões de tíquetes deixaram de ser vendidos para o trem metropolitano da capital apenas de janeiro a setembro, na comparação com igual período de 2018. Mais de 12% da queda ocorreu apenas em julho, data que coincide com um dos aumentos da tarifa. E o número de usuários pode cair ainda mais, pois neste mês o bilhete teve novo reajuste: o valor saltou de R$ 3,40 para R$ 3,70.



O reajuste segue escala prevista em decisão da 15ª Vara da Justiça Federal em Minas Gerais. E essa escalada não terminou: até março de 2020, a tarifa custará R$ 4,25, quase o mesmo valor cobrado no transporte metropolitano por ônibus. Especialistas avaliam que muitos usuário reclamam que o preço dos bilhetes tem pesado no bolso e na escolha do meio de transporte. Vários já optaram por outras formas de locomoção, como ônibus, aplicativos de transporte, caronas e até perueiros.

O aumento vem sendo feito de maneira progressiva em todas as capitais onde a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) atua. “O escalonamento tarifário foi definido após audiência de conciliação realizada em 24 de abril e começou a ser aplicado, em maio, pela CBTU, depois de 13 anos sem reajustes nas tarifas em Belo Horizonte, 15 anos em Natal, Maceió e João Pessoa e sete anos em Recife, o que resultou em elevada defasagem em relação ao custo de manutenção do sistema”, sustenta a CBTU. O último reajuste havia sido aplicado em setembro, quando a passagem em Belo Horizonte aumentou de R$ 2,90 para R$ 3,40. Em janeiro a passagem passará a custar R$4 e em março R$4,25.

O estudante Iago Oliveira, de 22 anos, que usa o metrô quatro vezes por dia, já sentiu no bolso o peso do aumento. “Estudo na Pampulha e no Horto (Região Leste), trabalho no Bairro Floresta (Região Leste) e moro em Contagem (Região Metropolitana de Belo Horizonte). O metrô é o meu principal meio de transporte e a situação é desesperadora”, disse. Ele diz que usa o trem para economizar tempo: “Fico uma hora e meia no metrô. Se faço todo esse trajeto de ônibus, gasto três vezes mais tempo. Porém, vou precisar rever. É inviável pagar R$ 4,25”, afirma.




A advogada Simone Moreira, de 39, também se sente prejudicada. “Já estou gastando mais de R$ 6 de passagem. Pesa muito na conta do fim do mês. Vou precisar sair mais cedo e me adequar ao ônibus”, afirmou. Levantamento feito pelo Estado de Minas indica que o passageiro que usar o metrô 24 dias a cada quatro semanas (excluindo os domingos) vai gastar R$ 204. Isso equivale a 20,44% do salário-mínimo – considerado-se o valor de R$ 998. Em janeiro deste ano, o usuário gastou R$ 84,60, ou seja, houve um aumento de R$ 119,40, corresponde a um aumento de 141,1%.

Com esse valor, o passageiro pode estar deixando de comprar produtos básicos ou alimentícios como: dois botijões de gás e 31 caixas de leite de 1 litro. O impacto é perceptível nas roletas: no ano passado, o metrô teve pico de 5.307.841 milhões de usuários em agosto. No mesmo mês deste ano, o número caiu para 4.595.479 milhões, redução de 13,42%.

Impacto maior para quem ganha menos


O professor de engenharia de transportes Guilherme Leiva, do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-MG), acredita que a queda no número de usuários já seja consequência dos seguidos reajustes: “A relação é direta. Se há um aumento na passagem, há um impacto na parcela de usuários que têm restrições orçamentárias”, disse. Ele explica que o aumento prejudica, principalmente, quem recebe até três salários-mínimos – justamente a grande parte dos passageiros do metrô. “É um custo muito levado. E vale lembrar que o metrô atende a região periférica”, acrescentou.



O consultor em transporte e trânsito Paulo Rogério Monteiro concorda. “Uma das justificativas para a redução da demanda é o aumento da tarifa. O metrô tem uma abrangência geografia limitada. É como se fosse uma linha de ônibus. Então, se deixa de ser tão mais barato, tem menos vantagem quando comparado a outros meios”, disse o especialista. Por outro lado, na opinião dele, o reajuste reflete a crise econômica do país: “O metrô é o meio de transporte mais caro – desde investimento e operação até manutenção. O valor é muito superior ao ônibus. Por muito tempo o serviço foi subsidiado. Mas, quando não há mais como subsidiar, quem paga é quem usa. Infelizmente, reflete a situação econômica e o sistema de transporte do Brasil hoje.”

O professor Guilherme Leiva avalia que a principal alternativa passa a ser o ônibus. “Alguns vão usar 100% do coletivo, enquanto outros vão caminhar mais ou usar bicicletas para deslocamentos. O ônibus tem capacidade de atender a esses passageiros sem reduzir a qualidade do serviço. Mas, infelizmente, ainda temos um grupo que não terá nenhuma dessas opções. São pessoas que terão mobilidade reduzida em função do impacto”, avalia.

Ele explica que já houve uma queda muito grande no número de usuários do ônibus e que isso pode se repetir no metrô. “Desde 2015, houve uma queda significativa no sistema ônibus. Foi algo de 20%, fato nunca visto. Isso em função da crise econômica e outros fatores. Até hoje, tentam compensar a queda tomando medidas como a retirada dos cobradores. Isso pode acontecer com o metrô, caso a balança não feche. Pode sofrer algo parecido e precisará fazer novos ajustes”, advertiu.



Economia


A CBTU-BH informou por meio de nota que não dispõe de pesquisa recente que permita confirmar relação entre o aumento da passagem e a queda no número de passageiros do sistema. “A companhia entende que a queda pontual no número de passageiros pode estar ancorada em vários fatores, incluindo questões macroeconômicas, tais como o arrefecimento da economia, que impacta diretamente na queda dos empregos formais, o aumento do índice de desemprego e a redução do poder de compra do consumidor; as variações atípicas decorrentes do número de feriados em dias úteis; as mudanças nos hábitos de viagem por decisão do consumidor, entre outros aspectos”, informou em nota.

A CBTU-BH acrescentou que a recomposição tarifária foi determinada pela Justiça e que, como estatal, não apresenta lucro. Anualmente, a Companhia recebe subvenções para parte de suas despesas de custeio, que somaram no último ano R$ 900 milhões, considerando a operação de todas as unidades espalhadas pelo país. “A busca pelo reequilíbrio financeiro das tarifas em Belo Horizonte visa, exclusivamente, a reduzir a discrepância provocada pela defasagem de anos sem reajuste. Cumpre informar ainda que a operação de metrôs e ferrovias na maior parte do mundo é subsidiada pelo poder estatal e, no Brasil, não é diferente”, completou.