A campanha terá dois focos: técnico, de planejamento do combate à dengue nos âmbitos municipais e estadual, e a mobilização social, que busca o engajamento das pessoas. "Vamos lançar a campanha nas mídias tradicionais e sociais, teremos eventos de prevenção da dengue e tentar mobilizar a sociedade. Estamos fazendo reuniões com vários grupos e lideranças para capilarizar o combate para o interior do estado. Queremos um grupo que lidere para que a gente possa chegar a cada casa e a cada cidadão para acabar com a dengue", afirma o secretário estadual de saúde, Carlos Eduardo Amaral.
Até 18 de novembro, Minas Gerais registrou 484.779 casos prováveis (casos confirmados e suspeitos) de dengue. Cento e cinquenta e três pessoas morreram em decorrência de complicações da doença em 47 municípios mineiros. Outras 94 mortes estão sob investigação.
O secretário acredita que, em 2020, a incidência da doença deve ser menor, uma vez que as epidemias têm sido recorrentes a cada três anos. "A cada três anos nos temos uma grande epidemia. Isso já vem sendo notado. Em 2020, esperamos que seja menor, é difícil garantir, mas é o que a gente espera. Mas também sabemos que, daqui a três anos, teremos risco de uma nova grande epidemia", diz. Em função dessa previsão, o secretário destaca que é fundamental a mobilização social da população.
O Aedes aegypti está cada vez mais resistente aos métodos convencionais de combate, como o uso de inseticidas. "Para combater temos ações de longo prazo com tecnologia que será incorporada, mas isso demora um pouco, como vacinas e a bactéria wolbachia que limitará a tansmissão. Associar à sociedade é fundamental não só para a dengue, mas para as outras epidemias que podem vir", diz.
O secretário destaca que 80% dos focos do Aedes estão dentro dos imóveis. "Temos muita limitação para entrar nos imóveis. Temos os agentes comunitários de saúde e agentes de epidemia. Eles vão, mas não dá para ir toda semana. Quem tem que fazer isso toda semana e ter percepção de cuidado é a sociedade. Não adianta só cobrar do outro, do vizinho, tenho que fazer minha parte. Toda semana olhar dentro de casa e ver se tem um foco em casa ou não", afirma o secretário.
O combate ao mosquito só pode ser eficaz se houve uma parceria com as prefeituras municipais, muitas delas passam por dificuldades econômicas, dificultando a implementação de ações preventivas. O secretário informou que repasasrá recursos aos municípios. "Já transferimos R$ 12 milhões no começo do ano e serão transferidos mais R$ 10 milhões para a atenção primária", disse. O secretário afirmou que o repasse é para ações gerais, embora haja uma orientação para que parte seja empregada no combate à dengue.
Mudança no controle
"O ano de 2019 foi bastante duro. Foi o segundo pior ano na nossa história. Tivemos quatro anos, particularmente, duros: 2010, 2013, 2016 e 2019. Isso é provido pela presença universal do Aedes aegypti", afirmou o subsecretário em vigilância e saúde, Dário Brock Ramalho. O combate não é somente à dengue. Ao combater o mosquito também se faz o controle de outras doenaças. O Aedes transmite quatro vírus dengue, zika e chikungunya.
O mosquito foi erradicado em dois momentos no Brasil, nas décadas de 1950 e 1970. No entanto, de lá para cá, o mosquito se fortaleceu. Em 2003, o programa nacional de erradicação se transformou em programa de controle do inseto. "Há 16 anos, foi reconhecido que não temos ferramentas para erradicar o Aedes. Hoje, caminhamos para uma convivência com o mosquito. Por isso, a ênfase é no sentido da mobilização", diz Dário. O subsecretário defende que parte da solução pode ser o reconhecimento que não tem como erradicar o mosquito.
Com o uso da wolbachia e com as vacinas contra a dengue pode haver um controle mais efetivo. A wolbachia é uma bactéria natural presente em 60% dos insetos. "O Aedes não tem a wolbachia. Acreditamos que esse seja um dos motivos que fazem com que o mosquito dissemine as doenças", diz o subsecretário.
A tecnologia da wolbachia está em processo de implantação em Minas. A vacina estará disponível para população em médio prazo. Já existem três vacinas. "Se você imaginar que podemos ter pessoas imunizadas pelas vacinas em larga escala, mas o mosquito 'imunizado', conseguimos ter vacinação de rebanho. Começa a ter mecanismos de bloqueio. Começa a bloquear o caminho do vírus", diz.