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Estado de Minas

Família de idoso denuncia agressão de PMs; polícia diz que houve resistência

Caso ocorreu em Governador Valadares. Caminhoneiro disse que descarregava mudança quando foi abordado pelos policiais e agredido. Filho diz que acionou o Ministério Público e a corregedoria


postado em 20/11/2019 17:30 / atualizado em 20/11/2019 17:46

Foto divulgada pela família mostra idoso algemado e com um dos braços ferido(foto: Divulgação)
Foto divulgada pela família mostra idoso algemado e com um dos braços ferido (foto: Divulgação)


A Polícia Militar (PM) de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, vai apurar as circunstâncias de uma ocorrência envolvendo militares do 6º Batalhão e um caminhoneiro de 69 anos ocorrida na semana passada. A família denuncia que ele foi agredido pelos militares enquanto trabalhava no Bairro Santa Helena. Já os policiais alegam que ele reagiu a uma abordagem após pedirem que ele retirasse o veículo da rua. 

O caso ocorreu na por volta das 19h do último dia 11 na Rua Varginha. A técnica em contabilidade Renata Nascente, de 44, é filha de Osvaldo Nascente de Almeida. Ela conta que a rua é estreita e muito íngreme, mas com pouco movimento. “No momento em que meu pai estava descarregando uma mudança passou uma viatura. Eles pararam próximo ao caminhão e disseram 'Tira essa desgraça daí, você não está vendo que está na contramão?'. Então, meu pai disse 'Meu amigo, estou trabalhando. Aqui é onde estou descarregando a mudança e não tinha outra opção onde colocá-lo”. Segundo ela, o pai quis dizer que não poderia parar o veículo morro acima porque poderia descer a ladeira. 

Os policiais tentavam abordar um motociclista suspeito e alegam que o caminhão impedia a passagem da viatura pela rua. 

“Um dos agressores veio e disse 'Com quem você pensa que está falando?'. E meu pai disse 'Estou falando com você'. E nesse momento, o PM agrediu ele diretamente com um tapa na cara e machucou o olho dele que estava recém-operado”, contou. Segundo ela, outros dois policiais agrediram Osvaldo com chutes e um deles aplicou um mata-leão. Testemunhas teriam tentado intervir, entre elas um outro idoso. O caminhoneiro foi algemado e colocado na viatura. 

A família teve acesso ao histórico da ocorrência, que foi enviado à reportagem do Estado de Minas. O registro policial dá conta que o idoso teria ficado descontrolado após os militares darem voz de prisão a ele, dizendo “pilantras, me deixe trabalhar... vai prender bandidos (sic)”. No boletim de ocorrência, consta que Osvaldo reagiu com um soco e entrou em luta corporal com um dos militares. Eles chegaram a cair e rolar pelo morro por alguns metros. O registro confirma o golpe mata-leão para algemar o homem e que ele deu vários chutes ao ser colocado na viatura, acertando dois policiais. O idoso e um dos policiais foram atendidos no Hospital Municipal de Governador Valadares. A motocicleta suspeita foi encontrada em outra rua e os policiais constaram que havia queixa de furto do veículo. 

Fotos mostram os ferimentos no corpo do idoso. Ele apresentava lesões nos braços, no rosto e o olho esquerdo estava vermelho. Ele foi liberado da delegacia após pagamento de fiança de R$ 2 mil. No dia seguinte, ele fez um exame de corpo de delito.

Defesa se mobiliza


O advogado Ronivaldo Nascente está representando o pai na questão. “O caminhão estava na contramão na subida. Se ele para na mão dele, a mudança cai. A rua tem 7,30 metros. Coloquei dois automóveis e o caminhão. A blazer tem 1,76 metro de largura, segundo o manual da Ford, eu acho, daria tranquilamente para passar. A questão toda é que ninguém sabe ao certo o que motivou essa estupidez”, disse o filho do idoso ao Estado de Minas nesta quarta-feira. “Ele fica no caminhão entregando as coisas e as pessoas vão carregando para dentro do imóvel. A Polícia Militar falou que o caminhão estava todo errado, ele disse que era dele estava terminando a mudança”, afirma. Questionado sobre se o pai teria reagido, ele disse que o idoso sofre de bursite e teria gritado ao ter o braço torcido por um dos policiais. 

“Foi muito rápida a ação. Eram três policiais militiares altos, fortes, rapazes novos que servem para ser netos dele; Meu pai tem mais de 50 anos de motorista de caminhão, está aposentado há 15 anos. É um homem que acorda 5h pra fazer os 'fretinhos' dele, um sofrimento danado para complementar a aposentadoria, nunca parou. Trabalha desde os 10 anos de idade”, contou o advogado, afirmando que o pai ainda está abalado psicologicamente com o episódio. “Imagine um senhor de quase 70 anos de idade passar por um constrangimento desses, uma pessoa que nunca entrou em uma delegacia nem para pegar uma informação, e em uma abordagem da polícia militar levar soco, ser estrangulado?”, disse. 

Ronivaldo Nascente disse que foi instaurado um procedimento na corregedoria da PM, que procurou a promotoria do Ministério Público no município e fez um requerimento de diligências junto à Polícia Civil para ouvir testemunhas do caso. No local da ocorrência não há câmeras de segurança.

Polícia Militar se pronuncia


Por meio de nota enviada ao EM, a Polícia Militar da cidade diz que o caso será apurado e que “reitera seu compromisso com a qualidade dos serviços prestados à sociedade”. O posicionamento é assinado pelo tenente-coronel Fausto Machado de Oliveira, comandante do batalhão. Leia na íntegra: 

"Na data de 11/11/2019, por volta de 19h40min, militares do Gepar Santa Helena, em patrulhamento pelo aglomerado do morro do Carapina, e em diligências visando a abordagem a indivíduos, quando deslocavam pela Rua Varginha, depararam com um veículo caminhão baú, estacionado na contra mão de direção, que impedia o deslocamento da viatura e o fluxo do trânsito pela via. Os militares advertiram o motorista quanto a irregularidade e determinaram que estacionasse corretamente, o que teria sido negado por ele, tendo recebido voz de prisão em razão do crime de desobediência. O motorista ainda teria resistido à sua prisão e proferido palavras de baixo calão contra os militares, sendo necessário o uso de força para contê-lo.

No dia 13/11/2019 o motorista compareceu à Subcorregedoria da 8ª Região da Polícia Militar e formalizou representação contra os policiais militares que atuaram nesta ocorrência, cujos fatos serão devidamente apurados.

A Polícia Militar reitera seu compromisso com a qualidade dos serviços prestados à sociedade, com profissionalismo, técnica, observância e promoção dos Direitos Humanos, focada em valores, ética e disciplina, sempre pronta a servir e proteger."


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