Um homem foi condenado a 119 anos de prisão, em regime fechado, por abuso e estupro de vulnerável, cometido inúmeras vezes contra as próprias sobrinhas. A decisão foi dada nessa terça-feira, pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, da Vara Especializada em Crimes Contra Crianças e Adolescentes (Vecca), de Belo Horizonte.
Segundo os relatos das vítimas, os abusos ocorriam já há vários anos, no lote onde mora a família em Belo Horizonte. O acusado se aproveitava de momentos em que ficava sozinho com as crianças e adolescentes. Ele levava as meninas para a casa dele e, também para dentro de um carro. O tio as acariciava, inclusive enfiando a mão por baixo da roupa delas e algumas vezes despindo-as parcialmente, além de forçar contato físico.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, uma tia relatou ter observado uma mudança de comportamento nas meninas, em especial uma das sobrinhas. Ao questioná-la se havia algum problema, ouviu dela que o tio havia a estuprado.
Preocupada, a tia então contou à filha o que aconteceu, buscando encontrar uma forma de ajudar a sobrinha. Nesse momento, ouviu da própria filha que o tio também havia abusado dela de maneira semelhante.
Abalada, a tia convocou a mãe das meninas para uma reunião na casa de uma delas. Na ocasião, as meninas foram encorajadas a contar os abusos que sofriam.
O pai de uma das vítimas acionou a Polícia Militar, que compareceu a residência e registrou um boletim de ocorrência. Momentos antes, o agressor ficou sabendo das acusações e fugiu do local, sendo preso no dia seguinte.
Vingança
A defesa do acusado alegou que o homem é uma pessoa honesta e que cumpre com seu papel de cidadão. Segundo a defesa, todas as acusações foram feitas por vingança pessoal, em especial por parte de uma das mães, cunhada do acusado, que era separada do marido e teria tentado separá-lo também da irmã porque descobriu que ele tinha um filho fruto de uma traição, mas que teria sido perdoado pela esposa do autor.
Ainda de acordo com a defesa, a mãe que iniciou as denúncias é apaixonada pelo acusado. Como o sentimento não era correspondido, ela fez essas acusações. Alguns membros da família, como a esposa dele, o filho e uma outra sobrinha, negaram que os abusos tenham acontecido.
Novela mexicana
A juíza Marixa Fabiane considerou as provas apresentadas, a riqueza de detalhes e a coerência dos depoimentos das vítimas para afastar a tese de que os abusos foram inventados por vingança.
Para a juíza, mesmo que a mulher que iniciou as denúncias “fosse a melhor escritora e diretora de novela mexicana, não conseguiria ensaiar, diga-se de passagem, em uma breve reunião, os textos e passagens, ricos em detalhes, que cada uma das vítimas, crianças e adolescentes, teriam que desempenhar”, em todas as instâncias que foram ouvidas.
A juíza Marixa Fabiane Rodrigues considerou ainda que o acusado deve permanecer preso durante a fase de recurso, por não demonstrar estar apto para conviver em sociedade, “pois desrespeitou a Justiça, a Lei, a criança, sua própria família e história de vida”.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Frederico Teixeira