Jornal Estado de Minas

Aeroporto Carlos Prates

Um mês após queda de avião no Caiçara, proposta é mudar risco para outras áreas


Sob a pressão da queda de dois aviões que decolaram do Aeroporto Carlos Prates, na Região Noroeste de Belo Horizonte, em um intervalo de seis meses, a Infraero, que gerencia o terminal, e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), órgão ligado à Força Aérea Brasileira, estudam mudar a rota de voos que partem do local. A proposta foi apresentada ontem pela administração do terminal, durante visita técnica de vereadores e moradores. Um mês depois do último desastre que matou quatro pessoas e deixou dois feridos, no vizinho Bairro Caiçara, a população ainda aguarda laudo sobre o motivo da queda e respostas de órgãos oficiais para afastar o perigo da região.





Construído na década de 1940, o aeroporto, no Bairro Padre Eustáquio, está em uma das áreas mais adensadas da capital, com 340 mil moradores e 87 mil domicílios, de acordo com a Prefeitura de BH, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Depois da queda de dois aviões na mesma rua do Caiçara, um em 13 de abril e outro em 21 de outubro, a Infraero e o Decea avaliam a alteração do trajeto das aeronaves.

Em vez de decolarem em direção ao Bairro Caiçara, à direita da cabeceira da pista, os aviões seguiriam à esquerda, em direção ao Anel Rodoviário da capital, uma das vias mais movimentadas de BH, e da mata da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde pilotos poderiam encontrar chamados “vazios urbanos” (veja mapa). De acordo com a assessoria de imprensa da Infraero, a proposta está em estudo junto ao Decea, que cuida do controle do espaço aéreo. A Aeronáutica, que responde pelo Decea, não comentou o assunto.

Apresentada pelo corpo técnico do terminal a vereadores e moradores que visitaram ontem o local, a possibilidade de mudança na rota de decolagem já provoca controvérsias. “Isso só muda a tragédia de direção”, afirma o vereador Pedro Bueno (Pode), que participou da visita técnica e defende a transferência dos voos do Aeroporto Carlos Prates para um aeroporto a ser construído em Betim, na região metropolitana.



Os dois aviões que caíram este ano instantes depois de decolar do Aeroporto Carlos Prates se acidentaram a cerca de 900 metros da pista do terminal. Na rota à esquerda, em análise pelas autoridades competentes, os pilotos encontram, a cerca de 470 metros em linha reta da cabeceira da pista, o Anel Rodoviário.

Em 2014, um avião de pequeno porte caiu sobre a marginal da rodovia que corta a capital quando tentava pousar no Aeroporto Carlos Prates. Somente o piloto se feriu. No caminho da rota sob avaliação também há um terreno sem construções a uma distância aproximada de um quilômetro e, a dois quilômetros, área de mata pertencente à Estação Ecológica da UFMG, sempre considerando distâncias em linha reta.

“Inicialmente, seria uma solução paliativa para nós, moradores do Bairro Caiçara. Mas o que defendemos é a transferência ou fechamento do aeroporto. Vamos continuar a lutar por isso”, afirma Carolina Quelotti, integrante da Comissão Aeroporto Não, formada por moradores da área onde ocorreram os acidentes. Dois moradores, participantes da comissão, estiveram na visita.





Sem resposta


A população ainda espera esclarecimento sobre as causas dos acidentes mais recentes e respostas dos órgãos públicos para trazer segurança à região, assustada pela recorrência das quedas. De acordo com a assessoria de imprensa da Força Aérea Brasileira, as investigações sobre os acidentes de 13 de abril e 21 de outubro ainda estão em andamento.

A Aeronáutica não tem data para concluir o trabalho pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). “A necessidade de descobrir todos os fatores contribuintes garante a liberdade de tempo para a investigação. A conclusão de qualquer investigação conduzida pelo Cenipa terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade do acidente”, informou.

Acidente com monomotor no Carlos Prates ocorrido em 21 de outubro (foto: Arte: Soraia Piva)
Duas vítimas da queda, ambas passageiros do avião, permanecem internadas na Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital João XXIII, em BH. O estado de saúde de Thiago Funghi Alberto Torres e Srrael Campras dos Santos é estável e eles apresentam melhoras clínicas.



Logo após o acidente de outubro, o Ministério Público Federal (MPF) havia recomendado à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que fizesse uma audiência pública para discutir eventuais irregularidades e condições de segurança do aeroporto. Ao EM, a Anac respondeu que “por definição legal, não se aplica a realização de audiência pública neste caso” e que “não foram verificadas incompatibilidades entre as operações realizadas no aeroporto e a infraestrutura disponibilizada pelo sítio aeroportuário até o presente momento”. O MPF informou que não se posicionaria sobre o caso.

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