Sob a pressão da queda de dois aviões que decolaram do Aeroporto Carlos Prates, na Região Noroeste de Belo Horizonte, em um intervalo de seis meses, a Infraero, que gerencia o terminal, e o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), órgão ligado à Força Aérea Brasileira, estudam mudar a rota de voos que partem do local. A proposta foi apresentada ontem pela administração do terminal, durante visita técnica de vereadores e moradores. Um mês depois do último desastre que matou quatro pessoas e deixou dois feridos, no vizinho Bairro Caiçara, a população ainda aguarda laudo sobre o motivo da queda e respostas de órgãos oficiais para afastar o perigo da região.
Em vez de decolarem em direção ao Bairro Caiçara, à direita da cabeceira da pista, os aviões seguiriam à esquerda, em direção ao Anel Rodoviário da capital, uma das vias mais movimentadas de BH, e da mata da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde pilotos poderiam encontrar chamados “vazios urbanos” (veja mapa). De acordo com a assessoria de imprensa da Infraero, a proposta está em estudo junto ao Decea, que cuida do controle do espaço aéreo. A Aeronáutica, que responde pelo Decea, não comentou o assunto.
Apresentada pelo corpo técnico do terminal a vereadores e moradores que visitaram ontem o local, a possibilidade de mudança na rota de decolagem já provoca controvérsias. “Isso só muda a tragédia de direção”, afirma o vereador Pedro Bueno (Pode), que participou da visita técnica e defende a transferência dos voos do Aeroporto Carlos Prates para um aeroporto a ser construído em Betim, na região metropolitana.
Em 2014, um avião de pequeno porte caiu sobre a marginal da rodovia que corta a capital quando tentava pousar no Aeroporto Carlos Prates. Somente o piloto se feriu. No caminho da rota sob avaliação também há um terreno sem construções a uma distância aproximada de um quilômetro e, a dois quilômetros, área de mata pertencente à Estação Ecológica da UFMG, sempre considerando distâncias em linha reta.
“Inicialmente, seria uma solução paliativa para nós, moradores do Bairro Caiçara. Mas o que defendemos é a transferência ou fechamento do aeroporto. Vamos continuar a lutar por isso”, afirma Carolina Quelotti, integrante da Comissão Aeroporto Não, formada por moradores da área onde ocorreram os acidentes. Dois moradores, participantes da comissão, estiveram na visita.
Sem resposta
A população ainda espera esclarecimento sobre as causas dos acidentes mais recentes e respostas dos órgãos públicos para trazer segurança à região, assustada pela recorrência das quedas. De acordo com a assessoria de imprensa da Força Aérea Brasileira, as investigações sobre os acidentes de 13 de abril e 21 de outubro ainda estão em andamento.
A Aeronáutica não tem data para concluir o trabalho pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). “A necessidade de descobrir todos os fatores contribuintes garante a liberdade de tempo para a investigação. A conclusão de qualquer investigação conduzida pelo Cenipa terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade do acidente”, informou.
Duas vítimas da queda, ambas passageiros do avião, permanecem internadas na Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital João XXIII, em BH. O estado de saúde de Thiago Funghi Alberto Torres e Srrael Campras dos Santos é estável e eles apresentam melhoras clínicas.
Logo após o acidente de outubro, o Ministério Público Federal (MPF) havia recomendado à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) que fizesse uma audiência pública para discutir eventuais irregularidades e condições de segurança do aeroporto. Ao EM, a Anac respondeu que “por definição legal, não se aplica a realização de audiência pública neste caso” e que “não foram verificadas incompatibilidades entre as operações realizadas no aeroporto e a infraestrutura disponibilizada pelo sítio aeroportuário até o presente momento”. O MPF informou que não se posicionaria sobre o caso.