Depois de serem integradas ao seleto grupo de colégios que serão piloto do programa de escolas cívico-militares no país, é hora de correr contra o tempo para arrumar a casa e receber, já no início do próximo ano letivo, um novo modelo pedagógico. A parceria dos ministérios da Educação e da Defesa vai enviar para 38 escolas estaduais e 16 municipais cerca de 1 mil militares da reserva das Forças Armadas, policiais e bombeiros militares da ativa para atuar na gestão educacional das instituições. Em Minas, foram contempladas as escolas Estadual Princesa Isabel, no Bairro Aparecida, Região Nordeste de Belo Horizonte; e Palmares, em Ibirité, na região metropolitana; além da Municipal Embaixador Martins Francisco, em Barbacena, na Região Central.
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Minas Gerais terá três escolas cívico-militares em 2020: saiba ondeMEC quer implementar 108 escolas cívico-militares no país até 2023MEC destina R$ 8,6 mi para usinas solares em escolas federais de Minas: veja quaisEnsino integral melhora desempenho de alunos, mas ainda é direito de poucosPolícia apreende carreta com mais de 1 tonelada de maconha na BR-262Nas discussões prévias da candidatura, enquanto dentro da escola a adesão foi de metade dos professores a comunidade resolveu o imbróglio, garante Rita. Na reunião decisiva, ganhou o sim. Em área de risco social, o colégio atende a comunidade da Vila Sumaré e recebe alunos a partir de 6 anos. “Essa escola nunca ganhou nada. Peguei a escola toda pichada e quebrada. Já faço um trabalho de conscientização dos estudantes, que estão mais felizes que os professores com a novidade. É uma oportunidade na vida deles”, afirma.
No início do mês que vem, ela vai para Brasília definir os detalhes da adaptação. “Estou tranquilizando os meninos, pois eles estão com medo de sair da escola. Digo que o espaço é deles e não vou permitir que venham crianças de fora com nível melhor para tirar minhas crianças. Não sou partidária e sim a favor de política pública que seja para todos”, relata. “Já temos uma disciplina bacana e não tenho menino que bate em professor. Quero escrever sobre o antes e o depois. Acreditei nesses meninos quando ninguém acreditava. Eram excluídos até de competições no bairro, e onde eles competiam, ganhavam”.
Outra questão que tem provocado burburinho é quanto ao uniforme e aparência dos alunos. A diretora diz que será implementado um novo regime, mas que os dois lados – escola e militares – deverão ter abertura. “Não vou pedir ao aluno que tem cabelo black power que corte, mas ele pode fazer uma trança baixinha, prender; as meninas fazerem um coque”, diz. As conversas com os militares já começaram. “Estarei à frente desse embate para convencer os militares que essa é uma escola de vila, de risco, e não vamos gerar violência. Não vamos impor nada”, garante.
O Ministério da Educação (MEC) vai destinar R$ 54 milhões para o programa – cada escola vai receber R$ 1 milhão. São dois modelos. Em um, de disponibilização de pessoal, o MEC repassará R$ 28 milhões para o Ministério da Defesa arcar com os pagamentos dos militares da reserva das Forças Armadas. Os outros R$ 26 milhões vão para o governo local aplicar na infraestrutura das unidades, com materiais escolares e pequenas reformas — nessas escolas, atuarão policiais e bombeiros militares.
MILITARIZAÇÃO O secretário de Educação Básica do MEC, Janio Macedo, disse ontem em coletiva de imprensa que o objetivo do modelo de gestão não é militarizar o aluno. “Não se busca tolher a liberdade de comportamento, só um respeito maior a alunos e professores. É um pacto escolar. A comunidade, afinal, é ouvida no processo”, explicou. O subsecretário de Fomento às Escolas Cívico-Militares do MEC, Aroldo Cursino, acrescentou que a ideia é dar maior atenção às condições do estudante e que “os militares vão atuar como monitores para trabalhar na sensação de pertencimento do aluno à escola”.
Em Barbacena, o modelo vai beneficiar uma escola de 850 alunos, no Bairro Novo Horizonte, que está sob a direção da professora Marileia Mota. De acordo com o secretário Municipal de Educação, Luiz Carlos Rocha de Paula, a expectativa é de inovação. Além de contar com o 9º Batalhão da PM, a cidade abriga a Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar). “O foco direcionado para disciplina é muito importante em virtude do segmento no qual trabalhamos, que é o ensino fundamental. É um bairro vulnerável, onde há problemas significativos no tocante ao uso de drogas”, afirma.
Luiz Carlos acredita que com a preparação de alunos, das famílias e do entorno da escola os objetivos serão alcançados. “Em termos educacionais é um ganho grande e em termos de sociedade e comunidade o programa será viabilizado pelos próprios familiares, porque contam com a escola para educar seus filhos de forma qualitativa.”
O que pesou na escolha
» Escola em situação de vulnerabilidade social e com baixo desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)
» Escola localizada na capital do estado ou na respectiva região metropolitana
» Escola que oferece as etapas ensino fundamental 2 e/ou médio e, preferencialmente, atenda de 500 a 1.000 alunos nos dois turnos
» Escola que tenha aprovação da comunidade escolar para a implantação do modelo
Novo modelo no estado
O governador Romeu Zema e a secretária de Educação, Julia Sant’Anna, apresentaram ontem, no Palácio da Liberdade, o novo modelo do ensino médio integral e ensino médio integral profissional em Minas Gerais para cerca de 220 alunos da rede estadual de ensino. O encontro se deu durante o seminário Construindo seu futuro – Itinerários do ensino médio integral em Minas Gerais. Os estudantes do 9º ano do ensino fundamental tiveram a oportunidade de discutir sobre mercado de trabalho e o papel da educação integral na vida dos jovens. Mês passado, o governo anunciou a criação de 16 mil novas vagas, a partir do ano que vem, para a educação integral e profissional no estado, em 281 escolas de todas as regiões. Ao todo, serão investidos R$ 151 milhões em equipamentos, obras, alimentação e folha de pessoal.