Maus-tratos, estelionato, e crimes ambientais. Estes são os crimes pelo qual o dono de uma clínica veterinária irá responder. O homem foi preso durante a operação “Arca de Noé”, desencadeada nesta sexta-feira em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A clínica foi fechada. Uma mulher segue sendo procurada. Entre as irregularidades encontradas, está a transfusão de sangue irregular, diagnósticos errados, uso de medicamentos equivocados e vencidos, e até o congelamento de animais mortos.
As investigações tiveram início neste ano com uma denúncia de descarte de lixo veterinário, com produtos e substâncias tóxicas ou nocivas à saúde humana ou ao meio ambiente, em lixo comum. Situação que culminou com uma ação civil pública do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Junto a isso, a Polícia Civil abriu um inquérito para apurar possíveis crimes de maus-tratos que vinham acontecendo na clínica.
Com a autorização da Justiça, foi montada a operação, desencadeada nesta sexta-feira. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão no estabelecimento e na casa dos proprietários — ambos veterinários — e de mais três investigados. Um mandado de prisão temporária contra a esposa do dono da clínica também foi expedido, porém ela ainda não foi encontrada. Foram apreendidos documentos, e celulares dos envolvidos.
“Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos na clínica, na casa dos proprietários e de alguns funcionários, além da residência de um advogado. O mandado de prisão preventiva do dono da clínica foi cumprido e o de prisão temporária de sua esposa está em aberto, pois ela não foi encontrada. Ambos eram veterinários, porém a Justiça determinou a suspensão do exercício da profissão dos dois e das atividades da clínica veterinária”, afirmou a Delegada-Geral do Departamento Estadual de Investigação de Crimes contra o Meio Ambiente (Dema), Carolina Bechelany.
Irregularidades
Durante as investigações, diversas irregularidades foram encontradas na clínica. “Os animais recebiam diagnósticos equivocados. Eram realizadas transfusões de sangue erradas. Às vezes, o animal era levado para tomar banho e tosa pelos donos e acabava tendo sangue extraído para fim de transfusão em outro animal e comercialização. Também foram constatados a aplicação de medicamentos equivocados e vencidos. É uma gama de maus-tratos que vinham sendo praticados aqui na clínica”, disse o delegado Bruno Tasca.
Outro crime praticado na clínica era de estelionato. Os animais que morriam eram congelados e os funcionários enganavam os donos. “Animais morriam e a clínica demorava para comunicar o tutor do animal para fins de obter a diária e o tratamento que vinha sendo realizado, que na verdade não existia. Por isso fica caracterizado o estelionato”, explicou Tasca.
De acordo com o delegado, ao ser preso, o dono da clínica se mostrou surpreso. “Ele ficou surpreso e não sabe o motivo para o cumprimento da diligência”, contou. Por meio de nota, a empresa afirmou que “que está surpresa com a operação e que se pronunciará, publicamente, após análise de todas às denúncias sofridas”. Também se colocou à disposição para o esclarecimento dos fatos.
O Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais (CRMV-MG) afirmou, por meio de nota, que fiscalizou a clínica neste ano e não foram encontradas irregularidades. “No segundo semestre de 2019 foram recebidas três denúncias contra os proprietários da clínica, tendo sido instaurados três processos éticos para apuração das informações. Os três processos encontram-se em fase de instrução no CRMV-MG; respeitado o amplo direito de defesa e do contraditório, conforme previsto no Código de Processo Ético”, afirmou. Esclareceu que os veterinários denunciados não se encontra com os registros suspensos.
Clientes inseguros
Moradores que levavam os animais para tratamento na clínica ficaram surpresos com as irregularidades e estão inseguros. Um deles é o administrador Wilder Félix Soares, de 49 anos. “Vou levar o meu cachoro para outro veterinário, pois o diagnóstico que foi dado aqui terá que ser verificado. Eu não acredito mais não. Vou esperar a investigação da polícia para posicionar e ver o que fazer”, disse.
Segundo Soares, ele levava o cachorro frequentemente ao local e que nunca teve nenhum tipo de problemas. “Não sabíamos o que acontecia nos bastidores, então estamos chocados”, finalizou.
* A estagiária está sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.