As charges que “trazem a esperança através da ironia” vão deixar saudades. Morreu na madrugada deste sábado (23) Gerson Salvador Pinto, de 70 anos, chargista e ilustrador que divulgou seus traços e bom humor nas páginas do Estado de Minas por 43 anos. Son Salvador, como era conhecido por todos, estava internado no Hospital Vila da Serra para tratar problemas respiratórios. Seu quadro evoluiu para falência múltipla de órgãos e ele não resistiu.
A inspiração de Son Salvador para a produção de charges veio, principalmente, com o “Pasquim”, publicação que teve como redatores Millôr Fernandes, Ziraldo, Tarso de Castro, Henfil, Ivan Lessa, Sérgio Cabral, Claudius, Fortuna e Luís Carlos Maciel, entre outros. Son era daqueles fãs que esperavam nas bancas a chegada do jornal, que completou 50 anos de publicação em 2019. Também gostava de “O Bondinho”, que trazia charges internacionais.
Baterista que se aventurava em instrumentos de percussão, Son Salvador gostava de ouvir em seu carro grandes clássicos nacionais e internacionais para enfrentar o trânsito nas ruas de Belo Horizonte. Sua irreverência e bom-humor ele deu como contribuição para a Banda Mole, um dos mais tradicionais blocos carnavalescos da capital mineira, o qual ele ajudou a fundar.
“Lembro da minha chegada na Rua Goiás (onde ficava a sede do jornal Estado de Minas e do Diário da Tarde), com um monte de desenhos embaixo dos braços. Fui direto ao Diário da Tarde. Conversei com o editor e ele disse que precisaria de mais 15 charges para eu poder entrar. No outro dia voltei com as 15. Fiquei a noite inteira acordado”, relembrou o chargista durante entrevista para o podcast O Megafone, produzido pelo Estado de Minas durante as comemorações de 90 anos do jornal. A publicação de seu primeiro desenho nos Diários Associados foi em 1976, no Dia das Crianças.
Sinfonia de Remington
Em sua conversa no podcast, o chargista lembrou de sua trajetória. Irreverente, contou que às vezes ainda escutava a orquestra de máquinas de escrever que se formava quando todos os jornalistas da redação trabalhavam ativamente em suas reportagens. "Dava seis da tarde e era tratatarata". Ele se lembrou, ainda, de casos engraçados ocorridos no dia a dia de trabalho, como a vez em que um macaco de circo se sentou entre redatores e a de uma caixa esquecida por um pintor que chegou a paralisar a redação durante uma época em que ameaças de bombas se espalhavam pela cidade.
Irreverência também no esporte
Durante a sua carreira nos Diários Associados, não tinha limites em seus traços. Conseguia, com maestria, usar o seu humor e ironia em diferentes editorias. Da cultura ao esporte. Inclusive, o futebol era sua outra paixão. Son Salvador também era cronista esportivo e tinha uma coluna semanal no caderno Superesportes e no Jornal Aqui. Na coluna Boladas e Botinadas ele conseguia falar da paixão nacional levando sempre o humor e sua irreverência.
Os seus pensamentos não ficavam apenas no papel. Son Salvador publicava suas charges constantemente nas redes sociais e no site Superesportes, a cada rodada em que Atlético, Cruzeiro e América entravam em campo. Produziu no Facebook, ao lado do jornalista Daniel Seabra, videochat em que falava sobre os times mineiros.
O chargista e ilustrador também se aventurou na TV. Em julho de 2007, assumiu a coordenação do programa Aqui Esporte, onde, ao lado de outros jornalistas, discutia futebol e o esporte especializado. Antes disso, fez participações nos programas EM Esportes, e Estado de Minas Esporte.
Contribuição para a literatura infantil
As charges e desenhos de Son Salvador também estamparam livros infantis e de contos. Uma das últimas ilustrações foram da capa do livro “Fala (de) Mãe), do jornalista, radialista e professor Dimas Lopes. Também ilustrou o “A Pescaria”, de Osvaldo André de Mello, que conta a história de Lúcio-sem-pavio, um homem atrapalhado que resolveu sair para pescar.
"A graça no traço, a paixão pelo futebol, a generosidade com os colegas, o sorriso constante.Profissional de múltiplos talentos, Son Salvador é insubstituível", define o diretor de redação do EM, Carlos Marcelo.