Parentes e amigos dos 256 mortos e 14 desaparecidos no rompimento da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, operada pela Vale em Brumadinho, se reuniram nesta segunda-feira (25) para lembrar os 10 meses da maior tragédia Brasileira em número de vítimas. O momento, que teve culto ecumênico, foi também usado para pedir uma justa reparação. Balões brancos e vermelhos em formato de coração, com os nomes das 270 vítimas e mensagens para elas foram soltos, no momento de maior emoção, quando muitos abraçaram os que se entregaram às lágrimas a ao desespero de sua perda.
O ato ocorreu no trevo da entrada da cidade da Grande BH. Sob três pavilhões brancos e em frente ao letreiro de concreto que se tornou uma março dessa luta por justiça. Faixas cobram a elucidação do crime e a punição aos responsáveis. Em respeito à memória das vítimas, varais com as fotografias de cada uma delas foram dependuradas. Militantes de países que têm conflitos com a mineração prestaram sua solidariedade.
"Hoje faz 10 meses que nossa vida se escureceu, por mais que a roda do mundo continue girando. Vamos seguir pedindo justiça e que os desaparecidos sejam encontrados para que tenham direito a uma última despedida com dignidade. Vamos seguindo enquanto temos força. Uma força que é maior do que nós, porque vem de Deus", disse Edir Tavares, 54, que perdeu o marido na tragédia e abriu o evento com essas palavras.
Um coral de crianças do Sistema Pedagógico Semear, com 15 crianças, prestou uma homenagem e distribuíram bonequinhos para simbolizar essas vítimas. As vozes roucas acompanhadas de violão, rompiam o ruído incessante do motor dos caminhões trafegando pelo trevo, recebendo os aplausos a cada canção.
Vestindo uma camisa branca com a imagem do filho impressa, a costureira Anastácia do Carmo Silva, de 50 anos, reúne forças para cobrar uma reparação digna. "Todo dia 25, para mim, é uma data muito difícil. Mas venho aqui, pois há muitas mães que não conseguem por causa da dor que sentem. Então, preciso ser a voz delas e fazer isso pelo meu filho. Ele ia querer que eu estivesse aqui", afirma a costureira.
O filho dela é o mecânico de vulcanização da Vale, Cleiton Luiz Moreira Silva, de 29 anos. O corpo dele foi removido da Lana em fevereiro, mas só foi reconhecido e sepultado no dia 5 de março. A mãe dele conta que Cleiton morreu fazendo o que amava. "Desde criança ele era apaixonado por mecânica, tanto que morreu dentro da oficina, juntando as suas ferramentas para ir embora. Era o amor da minha vida, a razão da minha existência. A gente falava um para o outro tudo o que sentia. Que se amava, que pedia desculpas. Não ficou nada para ser dito entre nós, talvez isso tenha me ajudado a dar mais passos, apesar dessa dor terrível que sito todos os dias", diz Anastácia.
Beatriz Duarte, de 60 anos, é moradora de Piedade do Paraopeba, um distrito de Brumadinho, e mesmo não tendo perdido ninguém da família, ficou muito comovida ao deixar que um dos balões ganhasse os céus. "Fico muito emocionada. Acho um absurdo a situação de tanta dor dessas famílias e o pior é que os responsáveis sabiam de tudo e deixaram acontecer", disse.