A terra de Chica da Silva e Juscelino Kubitschek comemora este ano duas décadas como Patrimônio da Humanidade, e, com programação especial até dezembro, fica de olho em mais dois destaques internacionais com sabor de título e premiação e divulgados ainda em 2019. Diamantina, candidata a integrar a Rede de Cidades Criativas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), na categoria música, quer se integrar com outros municípios da região, ao programa Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (Sipam), concedido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Nesse segundo aspecto, entram em cena as famílias apanhadoras de sempre-vivas e personagens típicos da Serra do Espinhaço, cuja parte mineira se tornou Reserva da Biosfera. Se tudo der certo, será a primeira experiência com tal certificação no país.
Leia Mais
Casa de Juscelino, em Diamantina, ganha programação cultural mensalBombeiros resgatam sino e crucifixo de escombros da igreja destruída pelo fogo em DiamantinaAo comemorar 20 anos de reconhecimento pela Unesco, Diamantina quer alçar novos voos Estado de Minas recebe prêmio de jornalismo da CNTBelo Horizonte abre festa dos 300 anos de Minas GeraisA casa assombrada por lendas: o enigma estacionado em uma garagem do PradoA secretária Márcia Betânia cita como um ponto importante neste ano, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, o desenvolvimento de um programa nas escolas, o De olho no patrimônio, a fim de fortalecer as ações de educação patrimonial. As atividades vão culminar na realização do Fórum de Educação Patrimonial. “Vamos atender, ainda, às demandas das comunidades. Com o título, Diamantina mostrou ao mundo seu valor universal e queremos que os moradores mantenham o sentimento de pertencimento.” A conexão passa pela arquitetura e também pela gastronomia. O tradicional bolo de arroz, por exemplo, reconhecido como bem imaterial, ganha oficinas de culinária para perpetuar e disseminar o modo de fazer.
Para o prefeito Juscelino Brasiliano Roque (MDB), a celebração dos 20 anos do título de Patrimônio da Humanidade merece reflexão sobre o futuro de Diamantina e de esperança para a preservação. “Temos uma cultura diferenciada, uma história rica, recursos naturais maravilhosos, por isso temos que viver a cultura, conhecer a nós mesmos. Sei que ainda falta muito para melhorar e estamos no caminho.”
Para o prefeito Juscelino Brasiliano Roque (MDB), a celebração dos 20 anos do título de Patrimônio da Humanidade merece reflexão sobre o futuro de Diamantina e de esperança para a preservação. “Temos uma cultura diferenciada, uma história rica, recursos naturais maravilhosos, por isso temos que viver a cultura, conhecer a nós mesmos. Sei que ainda falta muito para melhorar e estamos no caminho.”
Ele cita como obras importantes a serem concretizadas a criação do Museu do Tropeiro, que funcionará debaixo do Mercado Velho, a Escola de Arte e Música Francisco Nunes, num prédio a ser restaurado com recursos do PAC Cidades Históricas, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e prefeitura local, a Biblioteca Pública Municipal Helena Morley e outros. “Temos um polo vinícola, queijeiro e agora de cerveja artesanal”, orgulha-se o chefe do Executivo. De acordo com o Iphan, O PAC tem 13 ações selecionadas no município, com previsão total de investimentos de R$ 29,2 milhões.
No caminho dos escravos
Andar com tempo pelo Centro de Diamantina – além da sede, há 11 distritos – mais parece um mergulho na história iniciada no Arraial do Tijuco e cristalizada nas construções de grande beleza, com a moldura da Serra dos Cristais e das pedras capistranas. Estão lá, para encantamento dos visitantes: a Casa da Glória, com o passadiço, a Biblioteca Antonio Torres (Casa do Muxarabiê), o Mercado, a Casa de Chica da Silva (1732-1796, escrava alforriada, mulher do contratador de diamantes, João Fernandes), as igrejas Nossa Senhora do Carmo e São Francisco de Assis, o Museu do Diamante, a Catedral Metropolitana e outros, como o Caminho dos Escravos, que dão mais beleza e charme à Trilha dos Diamantes da Estrada Real.
Mas nem tudo brilha como diamante. Causa tristeza ver o abandono do antigo Grande Hotel, na Rua da Quitanda, propriedade particular que deteriora e empobrece o Centro Histórico. Da mesma foram, dói o coração ver fechada a Casa Juscelino, na qual morou dos 3 aos 19 anos o ex-prefeito da capital (1940-1945), governador de Minas (1951-1955) e presidente do Brasil (1956-1961), Juscelino Kubitschek. Para satisfação, o antigo Hotel Roberto, na esquina da Rua Direita com Vieira Couto, vai ser restaurado e se tornará uma biblioteca municipal.
Comerciante nascido e criado em Diamantina, Geraldo José Duarte, de 77 anos, acredita que o título de Patrimônio da Humanidade “acrescentou muito”, principalmente para a cultura e o turismo. “Aqui sempre foi uma cidade estudantil, com colégios importantes. Hoje, temos 23 cursos superiores. Os turistas, mesmo antes da conquista do título, nunca deixaram de vir a Diamantina, e isso faz a roda da economia girar”, afirma.Cartão de visita internacional
O presidente da Associação Comercial de Diamantina (Acid/CDL), Cândido Aparecido Santos, concorda com a musicalidade nativa, e planeja a criação de uma associação de músicos dentro da entidade que preside. “Parece que a música está no sangue do povo. A todo lugar que a gente vai, vê e ouve alguém tocando um instrumento. Meu filho de 5 anos gosta de percussão e minha filha, de 3, vive cantando”, afirma Cândido. Para ele, os reconhecimentos internacionais são cartões de visita fundamentais para alavancar o turismo e outros setores da economia. “Com as vesperatas, os hotéis ficam cheios”, conta.Entre os mais jovens, reina a confiança e amor pela terra natal. “Temos uma cidade bem tranquila para viver e crescer culturalmente sempre”, revela Gabriel Silva Bazzoni, de 25, que trabalha na Santa Casa e é formado em técnico de enfermagem. Já entre os turistas, impera a descontração. Num brinde à alegria e à história, celebra um grupo de nordestinas, que se intitulam, no maior bom humor, “as Fátimas”.
À mesa de um restaurante da Rua da Quitanda, estão as irmãs e professoras Bernadete Fátima da Costa e Arleide Fátima da Costa, de Recife (PE), Aparecida de Fátima, professora, de Itabaiana (PB), e Fátima Carlos, engenheira, de Natal (RN). “A paisagem é linda e a conservação dos prédios está bem melhor do que na minha cidade”, contou Bernadete, bem impressionada com o artesanato, roupas e peças de bijuterias à venda. Aparecida gostou dos casarões, certa de que um patrimônio tão preservado representa um tesouro, enquanto Fátima se sentiu muito acolhida: “As pessoas recebem muito bem”.
À mesa de um restaurante da Rua da Quitanda, estão as irmãs e professoras Bernadete Fátima da Costa e Arleide Fátima da Costa, de Recife (PE), Aparecida de Fátima, professora, de Itabaiana (PB), e Fátima Carlos, engenheira, de Natal (RN). “A paisagem é linda e a conservação dos prédios está bem melhor do que na minha cidade”, contou Bernadete, bem impressionada com o artesanato, roupas e peças de bijuterias à venda. Aparecida gostou dos casarões, certa de que um patrimônio tão preservado representa um tesouro, enquanto Fátima se sentiu muito acolhida: “As pessoas recebem muito bem”.