Depois da Igreja São Francisco de Assis, reaberta em 4 de outubro, chegou a vez de o Museu de Arte da Pampulha (MAP) receber as tão aguardadas obras de restauração. Conforme a Fundação Municipal de Cultura (FMC) adiantou ontem, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) está fazendo o levantamento de preços para a licitação dos serviços, que vão contemplar a totalidade do monumento, integrante do conjunto moderno reconhecido como patrimônio da humanidade. “Há também projetos complementares para a intervenção, que vai durar dois anos”, disse a diretora de Museus da FMC/PBH, Sara Moreno. As obras vão demandar recursos de R$ 7 milhões, da própria PBH.
Durante as obras de restauro, os moradores poderão apreciar os jardins, que não ficarão cercados por tapumes, e, recentemente, receberam manutenção, com mudas especialmente produzidas no Viveiro Burle Marx, no Jardim Botânico da Fundação de Parques Municipais e Fundação Zoobotânica, na Pampulha. “Não conseguimos visitar o interior do museu, pois está fechado. Mas isso é bom, né? Sinal de que ficará perfeito para visitação”, disse uma moradora de Venda Nova que aproveitou a folga para passear com as três filhas, na Pampulha. Sara Moreno esclarece que o restauro vai contemplar o prédio, que abrigou o antigo cassino, todos os revestimentos e outros elementos.
Palco
Não há quem deixe de admirar o prédio do Museu de Arte da Pampulha, construído na década de 1940, e de onde se tem bela vista da lagoa e das construções reconhecidas, há três anos e meio, como Patrimônio da Humanidade pela pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). As noivas, por exemplo, adoram posar para as fotos do álbum de casamento nos jardins projetados por Burle Marx (1909-1994), desde que o espelho d'água fique bem enquadrado ao fundo e o registro valorize bem o conjunto arquitetônico projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012).
Palco de história com um legado precioso dos anos dourados, o prédio do MAP funcionou como cassino de 1944 a 1946, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra (1883-1974) proibiu a prática do jogo no país. Onze anos depois, foi reaberto como Museu de Arte, na administração do prefeito Celso Mello Azevedo (1915-2004). Apelidado de Palácio de Cristal, o museu teve projeto de restauro aprovado em 2014 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) e Município. A última grande intervenção data da década de 1990.
História
O antigo casino, hoje Museu de Arte, ancorava todo o Conjunto Moderno da Pampulha, por ser o equipamento responsável pela atração do grande número de visitantes desejado pelo então prefeito de BH, Juscelino Kubitschek (1902-1976), na época do lançamento do projeto, em 1940. Além do destaque garantido pela implantação em terreno mais elevado, o edifício apresentava os princípios da arquitetura moderna formulados pelo franco-suíço Le Corbusier (1887-1965).
Segundo os especialistas, a estrutura em concreto e a opção pelos planos envidraçados proporcionam a alta integração visual entre interior e exterior, um dos mais importantes pilares da arquitetura moderna, presente em todas as edificações do conjunto. O volume prismático regular – explorando a liberdade de ordenação dos espaços internos permitidos pelos pilotis – apresenta-se como uma caixa de vidro, com rampas ligando o térreo ao salão de jogos e à boate.
O prédio tem paredes revestidas de ônix e colunas cobertas de aço inoxidável, uma inovação para a época, além de espelhos de cristal belga. A esse volume se associa o corpo curvilíneo que abriga a pista de jogos e a boate. A solução invoca um efeito cênico comum à arquitetura barroca mineira. O cassino propiciou noites de grande esplendor até 1946, quando foi desativado pela proibição dos jogos de azar no Brasil.
Com acervo de 1,4 mil obras em reserva técnica e abrigando exposições e diversas ações artísticas, educativas e culturais, o MAP tem um auditório com capacidade para 170 pessoas. Fazem parte da construção os setores de Artes Visuais, Conservação e Restauro, Centro de Documentação e Pesquisa, Biblioteca e Educativo. Desde 2001, o museu adotou um modelo de curadoria voltado para a produção em arte contemporânea, com ênfase nos trabalhos que dialogam com o patrimônio arquitetônico e paisagístico da Pampulha.