Jornal Estado de Minas

Família de mulher presa por injúria racial contra taxista diz que ela tem problemas psíquicos

A família de Natália Burza Gomes Dupin, de 36 anos, escreveu uma carta enviada para a imprensa afirmando que a suspeita de praticar injúria racial contra o taxista Luís Carlos Alves Fernandes tem problemas psíquicos. O documento foi encaminhado por meio do advogado da mulher. Nesse último sábado, a Justiça concedeu liberdade provisória à mulher.



 

A mulher foi autuada em flagrante por injúria racial, desacato, desobediência e resistência após dizer ao motorista que “não andava com negros” e de se confessar racista. Segundo o registro policial, o taxista Luis Carlos Alves Fernandes, há 16 anos na profissão, estava parado na Avenida Álvares Cabral, em frente ao prédio da Justiça Federal.

De acordo com a nota, Natália é uma pessoa com transtornos psíquicos e atestada há anos por profissionais da saúde. "Sabemos que alegar doença mental no nosso país é algo que foi banalizado. Não é esse o caso", disse.

No documento ainda consta que ela tentou suicídio por diversas vezes e que já agrediu de forma física e moral muitas pessoas, inclusive, da sua própria família. Ela já teria sido internada e recebido eletroconvulsoterapia. "Nas últimas semanas, tentávamos uma vaga em um hospital psiquiátrico, mas, infelizmente, não conseguimos. Essa também é outra realidade inaceitável", disse a carta.


A família disse que a doença de Natália altera o comportamento e "produz uma neurose e mania de perseguição, além de causar um comportamento agressivo e imprevisível."

Por fim, a carta, assinada pelos irmãos da Natália, pede desculpas pelo ocorrido e pede compaixão da sociedade. "Pedimos sinceras desculpas àqueles que sofrem preconceito diariamente em nosso país. Podem ter certeza, doeu em todos nós. Racismo é um a realidade brutal e inaceitável."

 

LIBERDADE PROVISÓRIA


Ontem, em audiência de custódia, realizada no Fórum Lafayette, o Juiz determinou o pagamento de fiança de R$ 10 mil para liberar ré.  As audiências consistem na apresentação do preso em flagrante a um juiz no prazo de 24 horas. Após a audiência, o magistrado decide se o custodiado deve responder ao processo preso ou em liberdade, podendo ainda decidir pela anulação da prisão em caso de ilegalidade.


 

O EPISÓDIO


As agressões ocorreram última quinta-feira. O taxista Luís Carlos Alves Fernandes teria presenciado a Natália Burza Gomes Dupin se aproximando com um idoso e aparentemente procurando um táxi. Segundo o motorista, ele se dirigiu à mulher para perguntar se precisava do serviço. Segundo relato da vítima que consta do boletim de ocorrência, no momento ele foi interrompido pela mulher, que teria dito: “Precisando de um táxi estou mesmo, mas não ando com negros”.


O taxista disse que questionou se a mulher sabia que estava cometendo um crime. Nesse momento ela respondeu, segundo o relato do condutor: “Não gosto de negro mesmo. Sou racista”. E cuspiu no seu pé, contou ele. Ela chegou a entrar em um dos táxis, mas foi impedida de seguir com a corrida. A vítima narrou que todos ficaram muito revoltados e tentaram agredi-la. Entretanto, a polícia chegou muito rápido. "Até então, ela estava muito calma. Ela se exaltou ao chegar à delegacia, onde precisou ser algemada", completou.

De acordo com a PM, quando os militares chegaram ao local, a mulher os ignorou. Acabou sendo conduzida para a Delegacia Adjunta ao Juizado Especial Criminal (Deajec). Mesmo detida, segundo o boletim de ocorrência, a mulher continuou exaltada. De acordo com a PM, uma sargento pediu para ela se sentar na delegacia. Como resposta, foi chamada de “sapata”.


Leia a nota na íntegra: 


"Precisamos falar sobre isso.

Sentimos muito pelo que aconteceu com o Sr. Luís Carlos Alves Fernandes e com todos os envolvidos. Pedimos sinceras desculpas àqueles que sofrem preconceito diariamente em nosso país. Podem ter certeza, doeu em todos nós. Racismo é um a realidade brutal e inaceitável.


Mas quero informar algo que ainda não foi publicado. A Natália é uma pessoa com transtornos psíquicos. Atestada há anos por profissionais da saúde. Sabemos que alegar doença mental no nosso país é algo que foi banalizado. Não é esse o caso.

Nossa irmã já tentou suicídio por diversas vezes, já agrediu de forma física e moral muitas pessoas, inclusive sua própria família que é quem a protege e a ama (independentemente da cor, orientação sexual, crença etc). Já foi internada, já recebeu eletroconvulsoterapia.

Nas últimas semanas, tentávamos uma vaga em um hospital psiquiátrico, mas infelizmente, não conseguimos. Essa também é outra realidade inaceitável. Para quem não conhece a doença, ela altera o comportamento e produz uma neurose e mania de perseguição, além de causar um comportamento agressivo e imprevisível.

Só quem tem alguém próximo com essa doença pode entender a dor que passamos há anos e estamos passando agora. Pedimos compaixão.

Precisamos falar sobre racismo. Também precisamos falar sobre transtornos psíquicos que atingem de forma universal milhões de pessoas.

Assinam esta nota os irmãos da Natália."