Referência para os belo-horizontinos e reconhecida como patrimônio cultural pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e pelo Conselho Deliberativo Do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, a Praça da Liberdade é símbolo da cidade desde seus primeiros anos. O local, projetado como centro do poder administrativo, se tornou ponto de encontro, de paquera, de shows, de manifestações políticas e de resenha para metaleiros, punks e jovens que aproveitam a quietude do espaço nas madrugadas para tomar vinho barato e conversar sobre a vida.
Em 1896, Francisco Bicalho, engenheiro que sucedeu Aarão Reis na comissão, decidiu construir as secretarias na praça por motivos logísticos e orçamentários, reforçando o caráter de centro administrativo do espaço inaugurado em 1898. O projeto paisagístico original foi assinado por Paul Villon e dialogava com o paisagismo inglês da época. Todavia, em 1920, a praça foi reformada para a visita dos reis belgas a BH com novo paisagismo de inspiração francesa.
Mesmo projetada para ser centro do poder e situada em uma das regiões que têm o valor de metro quadrado mais elevado da cidade, a Praça da Liberdade foi apropriada por diversos grupos ao longo dos anos. No final da década de 1960, por exemplo, artistas começaram a expor e comercializar sua arte de forma espontânea no local. Aos poucos o movimento se encorpou, atraindo músicos, escritores e diversas outras manifestações culturais. Nos anos 1970, por meio de decreto municipal, a “feira” foi oficializada com a organização assumida pela prefeitura e passou a funcionar nas noites de quinta-feira e nas manhãs de domingo.
A Liberdade é um belo exemplo da polissemia (vários sentidos) do espaço urbano e foi testemunha de diversas manifestações artísticas, políticas, de shows e de eventos, como a iluminação de Natal que leva milhares de pessoas à praça em dezembro e início de janeiro. O espaço é cotidianamente apropriado de diversas maneiras – enquanto alguns fazem yoga, outros andam de skate e patinetes, desviando de crianças que brincam nos canteiros. Funcionários e estudantes aproveitam os bancos para descansar, observando quem se exercita nas caminhadas e corridas ao redor da praça. É, portanto, ponto de encontro, de estudo, de conversa, de namoro, e, por tudo isso, é um dos símbolos da capital mineira.
* Historiador e belo-horizontino, com doutorado em história pela Universidade Federal de Minas Gerais