Jornal Estado de Minas

Desastre de Brumadinho

Resgate em Brumadinho: a estrutura que vai proteger bombeiros durante chuvas

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A chegada da estação chuvosa – uma preocupação que atinge não apenas as equipes de resgate que atuam na área afetada pelo desastre da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, mas também as famílias de vítimas – não vai interromper a operação de buscas pelas 13 pessoas que seguem desaparecidas. A incerteza sobre o prosseguimento do trabalho dos cerca de 150 bombeiros que diariamente reviram rejeitos liberados após o rompimento da Barragem B1 – onde 257 corpos já foram recuperados e identificados – era uma das principais angústias para parentes e amigos de pessoas soterradas. Porém, a continuidade do trabalho está assegurada com a instalação de duas tendas gigantescas, que receberão os resíduos das áreas afetadas, trazidos por escavadeiras e caminhões. Dentro desses abrigos, os bombeiros poderão seguir o criterioso trabalho de vasculhar à procura de sinais dos desaparecidos, carinhosamente chamados de joias nessa que é a maior operação do gênero no Brasil.



As estruturas são enormes. Juntas, as lonas abrangem uma área de 15 mil metros quadrados, o mesmo que um campo e meio de futebol. Foram montadas nas proximidades do Córrego Ferro-Carvão, manancial cujo leito foi inundado pela liberação de lama da barragem rompida, e que é afluente do Rio Paraopeba. Nas cores branca, azul e laranja, as estruturas já mostram as marcas do trabalho de movimentação da lama vermelha da região. Cada uma tem 16 metros de altura, 150 metros de comprimento e 50 metros de largura.

Seis ventiladores potentes cumprem a função de trocar o ar da estrutura até três vezes por hora, mantendo a estabilidade e o controle ambiental do rejeito, para que os bombeiros possam ter essa opção de trabalho durante o período em que mais chove na região – historicamente, entre dezembro e março. “As buscas são nosso foco principal. Não mediremos esforços para que o Corpo de Bombeiros tenha condições de continuar seus trabalhos, mesmo em período chuvoso. A solução de engenharia que existir para que isso seja feito será buscada e implementada”, afirma Rogério Bueno Galvão, gerente-executivo da Vale para as obras de reparação em Brumadinho.

A necessidade dos abrigos se justifica pelo fato de, sob chuva a eficiência dos bombeiros não ser a mesma. “Quando o material (rejeito) está encharcado, as buscas acabam sendo prejudicadas e também a segurança de quem trabalha. A armação das tendas é uma forma de permitir o andamento dos serviços. Temos reuniões semanais com as famílias e o pedido que mais ouvimos é para que não interrompamos as buscas pelos desaparecidos”, afirma Galvão.



De acordo com o comandante da Operação Brumadinho, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, capitão Josias Soares de Freitas Júnior, o emprego de maquinário nas buscas já chegou ao limite, com a atuação de 180 equipamentos, como escavadeiras, tratores e caminhões, numa área de 253 hectares. “Sinto que em breve encontraremos todas as vítimas, pelo modelo matemático que empregamos e pela delimitação das áreas de buscas. Só vamos cessar as buscas se ocorrer uma impossibilidade técnica ou quando a última família puder enterrar seu parente”, afirma.

Sob proteção

(foto: Vale/Divulgação)

Com o reforço das tendas, a área de lama e rejeitos que fica ao largo do Córrego Ferro-Carvão continuará sendo escavada pelas máquinas, mas o trabalho de vasculhar por restos mortais será realizado dentro do ambiente protegido. Toda a operação é coordenada pelos bombeiros e pela Defesa Civil, com apoio de 2.750 funcionários da Vale. “É muito importante que todos os que ainda estão debaixo da lama sejam encontrados. Acaba que a comunidade era muito pequena, então todo mundo perdeu alguém. Mesmo com chuva, é muito importante que as buscas não parem”, afirma o pedreiro Edson de Oliveira Cândido, de 40 anos, morador do Córrego do Feijão, bairro de Brumadinho que foi devastado pela lama. Edson perdeu amigos e o padrinho do filho de 11 anos, chamado Reinaldo.

“Mesmo já tendo enterrado as pessoas que eram mais próximas, essa dor toda uniu a gente demais no Córrego do Feijão. Por isso, a dor de quem ainda não encontrou seu parente, o filho, o marido, o irmão, é também uma dor nossa. Sentimos do mesmo jeito. Parece que está faltando uma coisa na nossa vida, na nossa história”, disse o estudante Victor Cauã Ferreira Pena, de 16, que perdeu a tia, chamada Jussara, uma das funcionárias da Pousada Nova Estância, propriedade que foi desintegrada pela passagem dos rejeitos de minério de ferro após o rompimento da barragem.




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