Nada de chaminé ou trenó. Pra entregar os presentes de Natal, vale até fazer rapel num prédio de 10 andares. De capacete e físico mais atlético do que o habitual, um Papai Noel cheio de coragem desceu de corda a fachada da Santa Casa de Belo Horizonte, no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul da capital, e “invadiu” pela sacada a ala pediátrica do hospital. À espera dele, crianças tão corajosas quanto, que mostram saber, assim como o bom velhinho, transpor desafios e enfrentar obstáculos.
A caixa da boneca que ganhou tinha quase o seu tamanho e Bárbara não tirava os olhos azuis do presente. “Isso tudo é ótimo para alegrar essas crianças”, conta a avó da menina, Maria José de Miranda, de 54. A família está há um mês internada no hospital, por causa dos cuidados com a criança. A esperança é passar o Natal em casa, em Abre Campo, Zona da Mata, e, para isso, o presente pedido para o bom velhinho é um só. “Saúde”, diz.
De gorro de Natal, Enzo Ferreira, de 6 anos, foi empurrando o suporte do soro, tudo para ver o Papai Noel, de quem ganhou um pequeno trator. “Vou brincar na praia com ele”, conta o menino, que há quatro meses trata de uma leucemia. Feliz em ver o carinho dos voluntários com seu filho, a mãe Adriana Ferreira, de 32, sabe que isso vá acontecer logo logo. “Aprendemos a ser mais perseverantes. Confiamos muito em Deus”, afirma.
Na festa da Santa Casa, o Papai Noel radical também se sentiu presenteado. “É muito gratificante quando vemos o brilho nos olhos das crianças. É muito tocante”, diz o soldado Felipe Diniz, de 26. Ele é do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e se voluntariou para a missão. Normalmente, a técnica do rapel é aplicada a salvamentos, resgate de animais ou corte de árvores. Experiente, ele achou tranquila a descida do prédio. “Só precisei fazer umas paradas para dizer 'ho ho ho' e acenar”, brinca.
Mesmo sem a roupa vermelha e branca, o voluntário Tiago Elvis, de 41, também poderia ganhar o título de Papai Noel. Ele foi um dos responsáveis por arrecadar os mais de 400 presentes entregues ontem. Elvis participa de todas as ações sociais na Santa Casa e afirma que o trabalho voluntário é o seu remédio. “Fiz uma cirurgia grave em janeiro, fiquei sem andar. A minha recuperação está sendo a solidariedade”, diz.
Muito satisfeita com sua boneca, uma fada azul, Taianara Custódio, de 6, agradeceu a visita, mas fez uma revelação à reportagem. “Quem é o Papai Noel é o meu pai, Rafael”, contou a menina, que também explicou o motivo das festividades de Natal. “É para comemorar o nascimento de Jesus Cristo”, explica Taianara, que está internada por causa de uma bronquite asmática.
A mãe dela, Eliane Custódio, de 30, acredita que o momento de alegria ontem foi também uma forma de fazer bons sentimentos renascerem, dando sentido especial ao Natal. “As crianças se divertem, esquecem da dor e das noites mal-dormidas”, diz.