Para um, a dor de quase ter perdido a vida no rompimento da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, e nunca mais ver quem ama, interrompeu uma carreira de 10 anos, trocada pelo seio familiar. Para outro, o trabalho contínuo na busca pelos 13 corpos ainda desaparecidos é o que lhe mantém a sanidade e a vida em perspectiva. Depois de sobreviverem ao desastre com mais vítimas do Brasil, deixando 270 mortos em Brumadinho, há exatos 11 meses, os operadores de saneamento ambiental Sebastião Gomes, de 54 anos, e Elias de Jesus Nunes, de 43, seguiram caminhos diferentes para suportar a tragédia, mas buscarão forças neste Natal passando a data, que relembra o nascimento de Jesus Cristo, com os filhos, esposa, mãe, pai e outros parentes. Ambos confessam que chegaram a pensar que essa data poderia ter sido de luto se não fosse a “mão de Deus”, como define Sebastião. Algo com que é fácil concordar quando se veem os vídeos do desastre em que aparecem ilhados pelo rejeito, se equilibrando sobre a lataria de uma caminhonete.
O percurso de Sebastião até o Natal em família foi tão duro e triste que, depois de três meses e meio do desastre, ele pediu demissão. Sem os parentes teria sido ainda mais difícil. “Foi uma decisão muito difícil. Conversei com a minha família e não foi fácil. Mesmo depois daquilo, a Vale foi uma das melhores empresas em que já trabalhei”, conta. Segundo ele, cada dia de trabalho após o rompimento e o seu salvamento pelos bombeiros era de extrema tristeza. “Não estava conseguindo trabalhar. Passei mal por dois meses. Fui transferido para Nova Lima, onde fiquei mais 40 dias. Tomava medicamentos e fazia tratamento psicológico e psiquiátrico. Tinha muita ânsia, ficava triste e chorava sem parar. Quando achava que estava tudo bem, aparecia um amigo e contava uma dor às vezes pior ainda que a minha e eu voltava a chorar. O pior é saber que muitos lá estão assim e que não saem por não saber fazer outra coisa ou por não conseguir mesmo”, afirma.
O percurso de Sebastião até o Natal em família foi tão duro e triste que, depois de três meses e meio do desastre, ele pediu demissão. Sem os parentes teria sido ainda mais difícil. “Foi uma decisão muito difícil. Conversei com a minha família e não foi fácil. Mesmo depois daquilo, a Vale foi uma das melhores empresas em que já trabalhei”, conta. Segundo ele, cada dia de trabalho após o rompimento e o seu salvamento pelos bombeiros era de extrema tristeza. “Não estava conseguindo trabalhar. Passei mal por dois meses. Fui transferido para Nova Lima, onde fiquei mais 40 dias. Tomava medicamentos e fazia tratamento psicológico e psiquiátrico. Tinha muita ânsia, ficava triste e chorava sem parar. Quando achava que estava tudo bem, aparecia um amigo e contava uma dor às vezes pior ainda que a minha e eu voltava a chorar. O pior é saber que muitos lá estão assim e que não saem por não saber fazer outra coisa ou por não conseguir mesmo”, afirma.
Já a trajetória de Elias seguiu por outro caminho, não menos pesado e sofrido. Ele decidiu continuar a trabalhar na Mina Córrego do Feijão auxiliando as equipes de resgate dos bombeiros a procurar pelos 13 desaparecidos. “Não precisei de auxílio, pois cada um reage de um jeito. Penso que tenho de dar graças a Deus por estar vivo e que o trabalho que fazemos hoje é muito importante. Dar esse apoio aos bombeiros para achar as vítimas me ajuda a superar toda essa dor. Se ficasse em casa, mil coisas ruins passariam pela minha cabeça”, diz o operador de saneamento.
Segundo Elias, o clima nos dias que antecederam este Natal na área de buscas e nas demais dependência+.s da mina destruída pelo rompimento era de tristeza e consternação. Mas a esperança permanece. “Fico reparando como é diferente. Na mina vizinha, de Jangada, já há luzes de Natal, tem árvores natalinas e um clima de alegria. Em (Córrego do) Feijão não tem o menor clima. Todos os dias a gente vê pessoas vindo procurar saber se encontraram alguma pista de seu filho, do pai, do marido. Não fico perto e deixo os bombeiros conversarem. É tristeza demais, porque muitos são meus amigos, meus colegas”, desabafa.
Natal especial
Tanto para Sebastião quanto para Elias, o Natal em família é ainda mais especial este ano. Rodeado pelos filhos, que depois do desastre não desgrudam mais do pai, Sebastião antecipou que a ceia deste Natal seria em casa, em Betim, depois de irem à missa na sua igreja, católica, e ao culto, na Igreja Batista frequentada pelo filho. “Não tem como esquecer não. Todo dia 25 é como se fosse 25 de janeiro. É como se tivesse ocorrido (o rompimento) de novo. Achei que tinha tudo acabado para mim. Que não veria meus filhos. Que poderia estar soterrado lá até hoje”, afirma. O filho mais novo, o motorista Gabriel Lima Gomes, de 22, não consegue verbalizar o significado de ter o pai ao seu lado no Natal e prefere ficar em silêncio. O mais velho, o operador de produção Daniel Jackson Gomes Lima, de 26, agradece. “É uma honra a gente estar juntos. Nunca passou pela minha cabeça que poderia passar sem o cabeça da casa, sem um pedaço da gente. Agora, a gente faz tudo juntos”, disse.
O medo de Elias era deixar desamparada sua filha Lívia, de 13, que mora com ele há muitos anos em Mário Campos, na Grande BH. Neste Natal, a casa da mãe foi a escolhida para celebrar em família. “Nem gosto de pensar que poderia estar desaparecido e minha filha órfã, sem ter nem o corpo do seu pai para enterrar. Ela é muito apegada a mim e disse que se tivesse acontecido algo não saberia o que fazer. Só espero que as pessoas que ainda não enterraram seus falecidos tenham esperança e saibam que não vamos parar até que tenham um destino digno”, promete.