Missa, homenagem às vítimas e trabalho incessante dos bombeiros marcaram a manhã de Natal em Brumadinho nesta quarta-feira (25), quando se completam 11 meses do rompimento da Barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão.
No Santuário de Nossa Senhora do Rosário, situado em Brumadinho, familiares das pessoas que morreram honraram seus entes queridos a partir da fé católica.
“Não teve Natal na minha casa. Não vai ter Ano-Novo. Não tem nenhuma festa. É só tristeza que não acaba”. O desabafo é de Geraldo Resende, pai de Juliana Resende, ex-funcionária da Vale na Mina do Córrego do Feijão, uma das 13 vítimas que ainda não foram encontradas.
Assim como centenas de famílias que perderam pais, mães, filhos, filhas, irmãs e irmãos no rompimento da barragem da mineradora em Brumadinho, Geraldo e seus familiares passaram o Natal em luto, com sofrimento e indignação.
As recordações daqueles que perderam a vida na lama que vazou da barragem permearam as conversas em dia em que tradicionalmente parentes se reúnem, trocam presentes e almoçam juntos.
“Estávamos juntas no ano passado celebrando o Natal. Lembro da minha irmã fazendo planos para esse ano. Agora, nessa época das festas, parece que dói ainda mais e a gente sente muito a falta da pessoa ao nosso lado”, relembra Joana Melo, que perdeu a irmã Eliane Melo, prestadora de serviço na mineradora.
Ainda no letreiro de Brumadinho, além das homenagens, foi colocado um varal com as fotos das joias – forma carinhosa que os amigos e familiares chamam as pessoas que morreram soterradas pelos 12,7 milhões de metros cúbicos de rejeito.
"Este é um momento de nos ressignificar. Ontem (terça-feira), fizemos uma ceia e relembramos os momentos com o Bruno", contou Andresa Rodrigues, que perdeu o filho Bruno Rodrigues.
"Precisamos nos apoiar uns nos outros. A união das famílias é nosso alento. As nossas joias estão sendo honradas. Nunca nos esqueceremos delas e nunca nos esqueceremos de quem causou tamanha dor", afirmou Andresa, em discurso aos outros familiares no ato de homenagem para as vítimas.
Protesto e bombeiros
O ato foi marcado também por protestos contra a Vale, proprietária do complexo minerário onde a barragem se rompeu, com faixas e cartazes citando os efeitos do desastre na vida das famílias.
Para Geraldo Resende, a busca pelo corpo de sua filha se tornou uma missão de vida. Ele participou, na semana passada, de reunião com representantes do Corpo de Bombeiros para que as buscas não fossem interrompidas durante as festas de fim de ano. Medida que foi aceita pelos bombeiros. Durante o dia de Natal, os grupos de busca continuaram os trabalhos.
Nesta quarta, por exemplo, a corporação deslocou 85 bombeiros militares, que se dedicaram a 12 frentes de trabalho. Eles usaram 128 maquinários e um drone para tentar encontrar as 13 vítimas ainda desaparecidas.
A última pessoa a entrar na lista das mortes confirmadas foi localizada pelo Corpo de Bombeiros em 2 de dezembro: Max Elias de Medeiros, de 37 anos, identificado por exame de DNA.
“Ainda estamos lutando muito e temos que agradecer os bombeiros, operadores das máquinas e funcionários que continuam nessa busca com a gente. Nós enterramos nossas famílias vivas, antes da hora, e essa dor parece não passar”, contou Geraldo Resende, que foi homenageado pelos familiares das outras vítimas pelo empenho e mobilização pelos resgates desde janeiro.