Jornal Estado de Minas

CRIMINALIDADE

Com média de 63 furtos de veículos por dia, polícia fecha o cerco a gangues que atuam em Minas

Maurinho levava cerca de 20 segundos para arrombar um veículo. Com ele foram apreendidas diversas centralinas (detalhe), que facilitavam a prática do crime (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)


A Polícia Civil de Minas Gerais acredita ter desbaratado uma das maiores quadrilhas de furto de carros do estado. Segundo o delegado Thiago Lima Machado, da 2ª Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas, ela era comandada por Amauri Lima da Silva, de 29 anos, preso no último dia 16 e que tem nada menos que 40 Registros de Eventos de Defesa Social (Reds) no sistema de segurança mineiro. O tipo de crime cometido por ele tem números expressivos em Minas: até setembro deste ano, 17.575 veículos, uma média de 1.952 por mês e 63 por dia, foram furtados nos 853 municípios mineiros. Os números são da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).


Conhecido por Maurinho, o suspeito disse aos policiais ter furtado mais de 100 veículos na Região Metropolitana de Belo Horizonte nos últimos cinco anos. As autoridades, porém, suspeitam que o número pode chegar a 300. Impressiona ainda a rapidez com que ele agia: em menos de 20 segundos, arrombava e levava um veículo, como provam vídeos obtidos pela Polícia Civil.

“Amauri também era chamado de Professor, pois teria ensinado técnicas do crime a muitos comparsas. Ele foi preso em casa, em Ibirité, e no local foram encontradas muitas centralinas (equipamento eletrônico utilizado no controle de uma grande variedade de dispositivos mecânicos e elétricos/eletrônicos dos automóveis) e uma tesoura que era utilizada para o arrombamento dos veículos”, explica Machado.


Entre os locais preferidos por Amauri e sua gangue estão o Bairro Caiçara, na Região Noroeste da capital mineira, e Eldorado e Novo Eldorado, na vizinha Contagem. Os veículos furtados, com valores entre R$ 20 mil e R$ 40 mil, eram vendidos a outros criminosos, como traficantes, por valores de até R$ 4 mil. Alguns eram desmontados e tinham as peças vendidas em ferros-velhos.


Como integrantes da quadrilha do Professor foram identificados Filipe de Almeida Rocha, o Maçarico, de 25; e Wesley Henrique de Almeida Silva, o Magrão ou Dunga, de 28.


Filipe foi preso junto com Amauri em 16 de dezembro, mas como o mandado de prisão contra ele era temporário, foi libertado depois de cinco dias e segue usando tornozeleira eletrônica por conta de condenação por outro crime.

Já Wesley está foragido. Ele estaria ao volante de um Fiat Siena usado pela quadrilha em 4 de outubro, quando furtaram dois veículos. Primeiro, levaram uma Fiat Strada. Depois, arrombaram um Ford Ka, do qual foram retirados equipamentos eletrônicos avaliados em cerca de R$ 30 mil.

“Os três são de Ibirité e amigos de infância. Com o tempo, viraram comparsas no crime”, diz o delegado responsável pela Operação Gazua, que durou três meses e que revela que os criminosos, quando não conseguiam levar o veículo, tiravam o que podiam dele, como estepes e retrovisores, também revendidos.



Bonzinho


(foto: Arte EM)


Chamou a atenção durante a explanação policial o fato de Amauri ter se sensibilizado com uma das vítimas. Após furtar um veículo em Belo Horizonte, ele resolveu abandoná-lo depois de ver o proprietário fazendo apelo desesperado para ter o bem de volta, pois usava o mesmo para trabalhar e não tinha seguro.

Amauri e Wesley responderão por crimes de furto qualificado e associação criminosa. Já Filipe será indiciado por associação criminosa.

Números

Os crimes cometidos pelo trio que aterrorizava a Grande Belo Horizonte são comuns em Minas Gerais. É o que mostra o levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), por meio do portal Minas em Números. Segundo a pasta, até setembro deste ano, 17.575 veículos haviam sido furtados no estado, o que resulta em média diária de 63 carros.

Apesar de o dado ainda ser alto, os números de 2019 estão em queda quando comparados aos dos anos anteriores. Em 2018, por exemplo, a média diária foi de 70 furtos deste tipo, um total de 25.854 nos 12 meses contabilizados.


No comparativo entre cidades e regiões, a Grande BH, e consequentemente Belo Horizonte, encabeçam o ranking de furto de veículos no estado. A capital mineira, por exemplo, teve 4.229 ocorrências deste tipo registradas até setembro, média diária de 15,6 delitos. A maior cidade de Minas foi responsável por 24% dos crimes correlatos em 2019 no estado, o que é explicado, evidentemente, por ter a maior frota, mas também pela grande atividade criminosa em BH.