Jornal Estado de Minas

Plásticas no Brasil crescem sob influência do culto ao corpo na internet

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Consórcio, linha de financiamento no banco, pagamento em até 48 parcelas. As ofertas para cirurgias plásticas e procedimentos estéticos se multiplicam pela internet, templo do culto ao corpo perfeito. Facilidades de acesso e o apelo à imagem turbinado pelas mídias sociais fizeram explodir o número de cirurgias plásticas no Brasil.



De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), entre 2016 e 2018, as intervenções cresceram 18,3% no país campeão em procedimentos desse tipo no mundo, conforme levantamento mais recente da entidade. Foram mais de 1,7 milhão de plásticas, sendo 60,3% delas estéticas. É como se sete em cada 10 pessoas em Belo Horizonte – que tem 2,5 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – tivessem feito uma alteração no corpo nesse período.

Os procedimentos estéticos foram os responsáveis pelo aumento, com o crescimento de 25%, passando a marca de 1 milhão de cirurgias (veja quadro). O levantamento tem como base informações de cirurgiões plásticos da SBCP em todo o país, mas, fora dos números oficiais, há um lado perigoso da busca pela beleza e boa forma, em que a oferta crescente vem de profissionais sem licença, com uso de produtos impróprios e em locais sem alvará. Somente em dezembro, dois casos na Região Metropolitana de Belo Horizonte, assustaram.

No dia 16, uma mulher morreu durante cirurgia de redução de mama em uma clínica sem alvará no Barro Preto, na Região Centro-Sul da capital. A Polícia Civil prendeu as “mamães do bumbum”, duas mulheres acusadas de injetar silicone industrial e que teriam feito pelo menos 100 vítimas. O procedimento era marcado por um grupo de WhatsApp e realizado num salão de beleza, em Contagem. A dupla foi presa depois de mais de 10 mulheres procurarem a polícia com deformações e inflamação no corpo.



“A internet aceita tudo e muita coisa é oferecida ao consumidor”, alerta o cirurgião plástico Pedro Bersan, membro da SBCP. “Todo procedimento invasivo é considerado procedimento médico. É necessário entender a cirurgia plástica como complexa, que exige uma série de cuidados técnicos”, afirma o especialista. Bersan orienta que esses procedimentos sejam realizados somente em hospitais e instituições de saúde referenciadas e por profissionais especializados, como cirurgiões plásticos e dermatologistas, em alguns procedimentos. De acordo com o Conselho Regional de Medicina (CRM), de 2012 a 2017, houve 33 processos e 38 médicos foram denunciados em casos relacionados à cirurgia plástica.

Influência das redes sociais

A pesquisa da SBCP não traz dados específicos de Minas, onde se estima mais de 70 mil cirurgias em 2018, mas aponta o Sudeste como líder em procedimentos, concentrando mais da metade deles. “O estado segue o que acontece no Brasil. Esse aumento se deve em parte às mídias sociais incentivando as pessoas a ter corpo mais bonito”, afirma o presidente da SBCP – Regional Minas Gerais, Alexandre Meira.

(foto: Soraia Piva/EM/D.A Press)


Entre os procedimentos estéticos, o aumento de mama (18,8%) lidera o ranking, seguido de lipoaspiração (16,1%) e plástica no abdômen (15,9%). No caso dos procedimentos não cirúrgicos, os mais comuns são a aplicação da toxina botulínica, preenchimento e peeling. A maior parte das cirurgias (61%) é particular, sem a cobertura de plano de saúde ou do Sistema de Único de Saúde (SUS). Já os procedimentos reparadores aumentaram 9%, a maioria (40%) referente a tumores cutâneos e pós-obesidade (11,6%).





Meira alerta que a procura por padrão de corpo perfeito é perigosa. “O paciente acaba esperando e cobrando resultados milagrosos que não condizem com o corpo que ela tem”, diz. As facilidades para realizar o procedimento também devem ser vistas com cautela, alerta o especialista. “Um paciente não deve procurar um médico pelas facilidades comerciais. Ele pode cair nas mãos de quem não tem a expertise. O CRM condena a mercantilização da medicina”, ressalta o presidente da SBCP – Regional Minas Gerais.

Nariz deformado em plástica

A administradora Márcia Vilela, de 48 anos, pesquisou pouco antes de operar o nariz e acabou vivendo uma saga de três cirurgias para consertar o procedimento malfeito. Desde a adolescência, ela se incomodava com o nariz, que considerava desproporcional ao rosto. A primeira intervenção ocorreu 20 anos atrás, feita por um médico que era cliente do escritório onde ela trabalhava. “Não tinha a maldade de pesquisar o profissional”, conta.

“Nunca quis nariz de atriz. Ficou um pouco melhor, mas fiquei frustrada porque não mexeu muito e deixou uma cicatriz. Doze anos depois, caí no mesmo erro. Ficou horrível. A rinoplastia deformou meu nariz todo. Sempre que olhava no espelho ficava com muita ansiedade”, conta Márcia, que passou a ter problemas respiratórios.

Em recuperação da terceira cirurgia, ocorrida em outubro, Márcia preferiu evitar fotos com o rosto inchado, mas está satisfeita com a imagem que enxerga no espelho. “Agora está no formato de nariz”, comemora. Ela precisou tirar cartilagem da costela para refazer a harmonia da face. “Às vezes, a pessoa fica com uma ansiedade tão grande que não presta atenção nos profissionais, se a pessoa tem experiência, no local onde vai fazer”, alerta.