A cada tempestade, um novo drama toma conta da população da região de Venda Nova, em Belo Horizonte, um dos pontos da capital mais atingidos pelo temporal da noite de sexta-feira. Funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) trabalharam ontem na limpeza da lama deixada pela enxurrada ao longo da Avenida Vilarinho. O córrego Vilarinho transbordou e inundou diversas ruas do bairro na véspera, durante a chuva mais intensa registrada este ano, provocando graves estragos em residências, sistema de transporte e uma escola municipal. Em outros pontos da cidade, muros de imóveis desabaram e deslizamentos aumentaram o clima de apreensão com novas previsões de chuvas para hoje.
A Defesa Civil de Belo Horizonte atendeu ontem quatro ocorrências relativas a abatimento de piso, seis de alagamentos, quatro de danos a moradias, nove de queda de muros, oito de deslizamento de encostas, entre outros casos. A Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), vinculada à Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), monitora 1,1 mil edificações situadas em áreas com alto risco de deslizamento e desmoronamento.
Muros derrubados, placas de trânsito arrancadas e muito barro nas vias públicas e imóveis. Moradores e comerciantes se uniram ontem para reforçar a limpeza dos locais atingidos pela enchente que transformou a Vilarinho em rio. Em três dias, choveu 65% do que era esperado para todo o mês de janeiro em Venda Nova. Defesa Civil de Belo Horizonte emitiu novo aleta de chuva válido até as 8h de hoje.
Um muro caiu na noite de ontem e atingiu um dos prédios do condomínio que fica na Rua das Amoreiras. Os moradores passaram momentos de terror ao ver o muro do galpão ceder e a água invadir o prédio. A água subiu dois metros e invadiu os dois primeiros andares do prédio. “Por volta das 20h30, a enchente entrou pelo prédio e, por volta das 21h, o muro cedeu. Foi um barulho muito alto e a água entrou como uma onda forte”, conta a analista de planejamento Jucileia Romeiro, de 48 anos, que mora há quatro anos no condomínio. Ela disse que teve quem perdeu tudo. “O que deu pra salvar – móveis e eletrodomésticos – está espalhado pelos corredores do prédio”, lamentou.
De acordo com a Defesa Civil de Belo Horizonte, uma equipe esteve no local e isolou a área afetada com a queda de parte das paredes dos galpões vizinhos ao condomínio. Além disso, houve alagamento de dois apartamentos que fazem parte do conjunto habitacional. Outra equipe atendeu a um chamado na Praça Enfermeira Geralda Marra, no Bairro São João Batista, também em Venda Nova, onde um muro desabou. Segundo a vistoria, a estrutura de um prédio não foi afetada. Os moradores foram notificados a manter o isolamento preventivo da área afetada, até que as obras possam ser concluídas.
Moradores contam que o problema é recorrente e que no primeiro dia do ano já tinha sido de muito trabalho para limpar resquícios do temporal do réveillon. “É a segunda vez só esta semana que a água invade o prédio. É difícil colocar a cabeça para dormir no travesseiro quando começa a chuva. O risco se torna constante”, lamentou Jucileia. Em 2018, o muro que faz divisa com o condomínio também se rompeu. “Agora, mais uma chuva como a de ontem e o prédio todo será comprometido”, acrescentou. Outro muro caiu durante a chuva no Bairro São João Batista, também na região de Venda Nova.O muro que divide os prédios, na Praça Enfermeira Geralda Marra, tombou por volta das 21h30 de sexta-feira.
A Escola Municipal Francisco Magalhães Gomes, na Avenida Vilarinho, próxima da estação de metrô, foi inundada durante o temporal da noite anterior, pela segunda vez em três dias. O sábado foi de muito trabalho para funcionários da escola e da PBH que foram à unidade para remover a lama que invadiu pátio, salas e até o refeitório. Um problema que ocorreu em enchentes de anos anteriores. A água já havia tomado conta da escola durante a chuva de 1º de janeiro. “Tínhamos terminado de limpar tudo ontem (sexta), mas a chuva voltou a nos surpreender e hoje estamos aqui de novo”, lamentou a vice-diretora da escola, Zuleica Rodrigues.
Segundo ela, a unidade de ensino já se vem preparando para os temporais de janeiro, visando minimizar os prejuízos. “Já faz alguns anos que nós subimos com todo o material para a parte mais alta da escola. Mas, voltamos a perder livros, caixa de som, uniformes, carteiras”, acrescentou. Duas salas de aula foram atingidas. Cerca de 800 alunos estudam na escola.
FICA O ALERTA Após o temporal de sexta-feira à noite, a Defesa Civil de Belo Horizonte emitiu um novo alerta para a possibilidade de pancadas de chuva acompanhadas de raios e rajadas de vento de até 50km/h. A previsão para hoje, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, é céu nublado com pancadas de chuva e trovoadas isoladas. A temperatura mínima deve ficar em 17°C e a máxima estimada é de 24°C. A umidade relativa mínima do ar fica em torno de 80% à tarde.
De acordo com a Defesa Civil de Belo Horizonte, no acumulado do mês de janeiro, a regional que recebeu o maior volume de chuva foi Venda Nova, com 66% da média esperada para o mês, que é de 329,1mm. Com 60% da média seguem as regionais Pampulha e Centro-Sul. A porcentagem nas demais regionais foi: 57% na Oeste; 55% na Noroeste; 53% na Leste; 46% na Nordeste; 39% no Barreiro; e 33% na Norte.
INÍCIO DAS OBRAS Enquanto Venda Nova sofre com as chuvas, a prefeitura tem o mês de abril como data marcada para iniciar as obras na Avenida Vilarinho. O plano é construir grandes reservatórios para armazenar a água da chuva. A previsão é que as intervenções durem dois anos. Portanto, a população continuará sofrendo na região por pelo menos mais dois períodos chuvosos além do atual. A ideia inicial da prefeitura era implementar túneis subterrâneos e colocar apenas um reservatório na confluência dos córregos do Nado e Vilarinho – justamente no ponto de alagamento de sexta-feira. No entanto, o Executivo municipal abandonou esse projeto, sob a justificativa de que ele não resolveria os problemas de Venda Nova. Movimentos ambientais criticaram os desenhos quando eles foram apresentados inicialmente, em dezembro de 2018.
ATENÇÃO REDOBRADA
- Evite áreas de inundação e não trafegue em ruas sujeitas a alagamentos e próximo a córregos e ribeirões no momento de forte chuva
- Não atravesse ruas alagadas ou deixe crianças brincando na enxurrada e nas águas dos córregos
- Não se abrigue nem estacione veículos debaixo de árvores
- Atenção especial em áreas de encostas e morros
- Jamais se aproxime de cabos elétricos rompidos. Ligue imediatamente para a Cemig (116) ou para a Defesa Civil (199)
- Se você observar o aparecimento de fendas, depressões no terreno, rachaduras nas paredes das casas e o surgimento de minas d’água, avise imediatamente a Defesa Civil (199)
- Em caso de raios, não permaneça em áreas abertas e altas e não use equipamentos elétricos
Fonte: Defesa Civil de Belo Horizonte