Moradores do Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte, estão ainda mais apreensivos: as últimas informações das autoridades sobre a doença misteriosa conectada à localidade dão conta de que mais dois pacientes, ambos residentes no bairro, apresentaram os mesmos sintomas da enfermidade. As duas novas notificações chegaram à Saúde estadual ontem, mesmo dia em que o corpo de Paschoal Demartini Filho, de 55 anos, que estava internado em Juiz de Fora, na Zona da Mata e morreu na terça-feira, deu entrada no Instituto Médico-Legal de Belo Horizonte. Como todas as outras, as duas possíveis novas vítimas são do sexo masculino. Têm 56 e 64 anos. Agora, são oito os casos em investigação, já que um foi descartado ontem por não se adequar ao quadro. Na tentativa de acelerar o fim do mistério, a Polícia Civil trouxe reforço de São Paulo: um médico-legista da USP, especialista em necrópsias em situações epidemiológicas.
Ao mesmo tempo que mais dois nomes entraram na lista, a Saúde estadual retirou uma pessoa dos casos da enfermidade misteriosa. Trata-se de um idoso de 76 anos, que não apresentava os mesmos sintomas das outras vítimas e já tinha histórico de doença nos rins – a insuficiência renal é um dos principais sinais da doença. Problemas gastrointestinais (náusea e/ou vômito e/ou dor abdominal) e alterações neurológicas, como paralisia facial e descendente, borramento visual, amaurose (perda da visão parcial ou totalmente) e alterações sensitivas também fazem parte do quadro clínico.
A investigação da doença está sendo feita por uma força-tarefa, que inclui equipes de órgãos estaduais e do Ministério da Saúde. Amostras para testes estão sendo processadas no laboratório da Fundação Ezequiel Dias (Funed). Além disso, a Polícia Civil deslocou, ontem, equipes para verificar amostras das bebidas que serão avaliadas no Instituto de Criminalística. Não há prazo, no entanto, para a finalização dos trabalhos. “As investigações estão em andamento, com a realização de entrevistas, comunicação com outras instituições públicas, entre outras providências pertinentes, primando por procedimentos científicos que permitam analisar se existe nexo entre os eventos e/ou vítimas”, informou a corporação, por meio de nota.
Medo dos moradores
A administradora Viviane Tristão, de 39, mora no Buritis há sete anos e está muito apreensiva. "Estamos com medo dessa doença que não sabemos o que é, de onde veio, e está localizada aqui no bairro. Como tenho filhos, meu maior medo é que se trate de alguma infecção alimentar. Estamos comprando alimento contaminado?" Ela foi às compras ontem com cautela: "Analisei melhor a carne que comprei para o almoço. Verifiquei mais de uma vez a data de validade e pretendo deixar a carne cozinhando um pouco mais", disse. Além disso, vai lavar melhor os alimentos e embalagens.
Já a empresária Andréa Martins, que não quis informar a idade, contou que só se deu conta do perigo após saber da morte de um dos pacientes. "Muitos boatos se espalharam no fim de semana, achei que eram fake news. Mas, agora que soube que um dos homens morreu, fiquei bastante preocupada e vou passar a tomar mais cuidado ao comprar os alimentos", disse. Outro morador, que preferiu não se identificar, cobra das autoridades respostas sobre a doença misteriosa. "Não vi nenhuma equipe da vigilância sanitária no bairro. Precisamos de resposta", indagou. Ele também afirmou que está mais cauteloso ao escolher os alimentos e lavá-los mais de uma vez para eliminar qualquer chance de contaminação.
Bráulio Lara, presidente da Associação de Moradores do Buritis, lamentou a morte em Juiz de Fora. “Primeiro, lamentamos o óbito e pedimos a Deus conforte a família nesse momento complicado. Afinal, ainda tem outra pessoa da mesma família hospitalizada”, disse, referindo-se ao genro de Paschoal, Luiz Felippe Teles Ribeiro, de 37, internado com os sintomas da doença misteriosa (veja quadro). “Aguardamos realmente a conclusão das investigações para entender a causa de todos esses problemas”, disse. Bráulio pediu calma para aguardar as conclusões e, eventualmente, orientações específicas das autoridades competentes.
Intoxicação exógena ou agente infeccioso são as duas principais linhas de investigação da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). A intoxicação exógena é o conjunto de sintomas decorrentes da exposição a substâncias químicas tóxicas, como remédios em doses excessivas, picadas de animais venenosos, metais pesados (como chumbo e mercúrio) ou exposição a inseticidas e agrotóxicos.