De dentro da trama de uma rede biodegradável sobre o solo e nos espaços das armações de aço que seguram barrancos despontam folhas de capim, flores e até brotos de árvores. Aos poucos, o verde volta a dominar a área de cinco hectares entre a estrada de Alberto Flores e o Rio Paraopeba, que estava tomada pelos rejeitos desde o rompimento da Barragem B1, da Mina Córrego do Feijão, que inundou o Ribeirão Ferro-Carvão com mais de 10 milhões de metros cúbicos de resíduos de minério de ferro.
Esse trecho piloto, identificado pela mineradora Vale como Marco Zero é um laboratório com técnicas de recuperação ambiental que poderá servir de base para boa parte dos 9,6 quilômetros do ribeirão que foram devastados com o rompimento e 2 quilômetros do Rio Paraopeba, como mostrou ontem, com exclusividade, a reportagem do Estado de Minas. Hoje, os trabalhos são intensos, com maquinário e cerca de 60 operários em campo, num projeto que já dura cinco meses.
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Um dos grandes desafios do projeto era a reconstituição do traçado do ribeirão. A Vale retirou 130 mil m³ de rejeitos do trecho e, com base em levantamentos topográficos e consultas aos históricos de fotografias de satélites, o curso original do ribeirão foi demarcado. Utilizando a tecnologia green wall, um sistema patenteado para a recuperação de cursos d'água e matas ciliares, a Vale refez o canal do ribeirão, com rochas ao fundo e paredes de biomantas revegetadas. Após a reconstrução do canal, a área do entorno foi reaterrada, recuperando sua topografia original.
A revegetação da área será executada em três fases. A primeira ocorreu após a reconstrução do canal do leito do Ribeirão Ferro-Carvão. Parte da superfície já foi coberta por um tipo de solo vegetal fértil, espécies rasteiras selecionadas e hidrossemeadas (técnica de semeadura com auxílio de água). Em seguida, biomantas naturais, compostas de fibra de coco, foram instaladas por cima da camada semeada para proteger as sementes de pássaros e da chuva.
Na segunda fase, será plantada vegetação de médio porte, que vai propiciar condições favoráveis para a execução da terceira e última etapa, que é o plantio de espécies nativas da região. As espécies nativas a serem utilizadas estão sendo definidas, bem como a origem delas. “A Vale reforça que realizou o inventário florestal da área, onde cada indivíduo (planta) foi cadastrado, catalogado e etiquetado e que, em conjunto com o Instituto Estadual de Florestas (IEF), também executou uma avaliação criteriosa das espécies atingidas. Existem ainda tentativas de recuperar árvores que correm risco de fenecer. Nesses casos, as plantas estão sendo cuidadas e monitoradas”, informou a empresa.
Todo o processo de revegetação leva tempo e sofre influência direta de fatores externos, como o clima e o próprio ciclo natural de crescimento, desenvolvimento das plantas e do bioma.
As atividades de dragagem dos rejeitos nos primeiros dois quilômetros do Rio Paraopeba após a confluência com o Ribeirão Ferro-Carvão complementam as ações do Projeto Marco Zero. “Nos 400 metros iniciais, a Vale já removeu 59 mil m³ de rejeitos. O material removido na dragagem é armazenado e desidratado em grandes bolsas geotêxteis. A água drenada dessas bolsas é bombeada para uma estação de tratamento e retorna dentro dos padrões legais determinados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) ao Rio Paraopeba”, afirma a Vale.