Jornal Estado de Minas

Reforma da Casa de Cultura Negra integra agenda dos 300 anos de Minas

(foto: Ane Souz/Prefeitura de Ouro Preto/Divulgação)


O fim de semana foi de festa em Ouro Preto, na Região Central do estado, para comemorar datas e marcos importantes de Minas e da cidade reconhecida como Patrimônio da Humanidade. Além de quatro décadas do título concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o primeiro no país, a cidade comemora os 300 anos da Sedição de Vila Rica e a entrega da Casa de Cultura Negra e do certificado de registro, como patrimônio imaterial, da Festa de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito. Houve cortejo, com cores, tradição e ritmo pelo Centro Histórico.


De acordo com a prefeitura local, a obra, com recursos do município, incluiu reforma e ampliação da Casa de Cultura Negra, localizada no terreno ao lado da Igreja de Santa Efigênia, no Bairro Alto da Cruz, no Centro Histórico de Ouro Preto. Os técnicos explicam que a construção, em cuja área surgiu um dos primeiros núcleos que deram origem à cidade, foi idealizada para abrigar “as mais diferentes linguagens artísticas, estabelecendo diálogo entre o passado e o presente, com o compromisso de valorizar, preservar e divulgar a herança da cultura afro-brasileira em suas mais ricas e expressivas vertentes”.

O objetivo, acrescentam os técnicos, é propiciar atividades sociais e educativas e fortalecer a cultura e as tradições do município, abrindo oportunidades e valorizando a história dos negros na cidade. A gestão ficará a cargo da Diretoria de Promoção da Igualdade Racial, com o espaço ocupado pela Associação Amigos do Reinado (Amirei) e o Fórum da Igualdade Racial (Firop). O local abriga ainda as reuniões da Associação de Moradores do Alto da Cruz (Amac).

Pioneirismo

A intervenção e o projeto de restauro e ampliação, iniciados em 2018, foram acompanhados pela equipe da Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio, que tem à frente Zaqueu Astoni Moreira. Segundo o secretário, trata-se de uma iniciativa pioneira no país: “A casa ganhou mais um módulo com novos serviços e duas arenas, à maneira de anfiteatro, com Adinkra em seu piso. Os símbolos africanos Adinkra foram desenvolvidos pelos Akan (grupo linguístico presente em Gana, Costa do Marfim e Togo, países da África Oeste), que se destacam pelo uso de signos para transmitir ideias”. Cada um representa um conceito, ditado ou provérbio enraizado na experiência Akan.




O paisagismo do conjunto, acrescenta Zaqueu, inclui plantas ligadas à cultura, medicina e religiosidade africanas. Estão lá: cerca viva com ora-pro-nóbis, camélias, mirra, capim cidreira, abacate, amora, manga, espada-de-são-jorge e um pé de jabuticaba. O nome Casa de Cultura Negra, antes Sala Chico Rei, foi mudado no ano passado, por lei municipal, atendendo ao pedido dos integrantes do Fórum da Igualdade Racial de Ouro Preto (Firop).

A Festa do Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito é realizada em Ouro Preto há mais de 200 anos, tornado-se uma tradição da fé afrodescendente. Para valorizar ainda mais a celebração, foi descoberta uma bandeira de ferro, numa capela. “É um achado muito importante para Ouro Preto. A peça foi restaurada”, disse.

Pela memória de Filipe do Santos


Serão muitas as celebrações neste ano em Minas, que comemora seu tricentenário – em 2 de dezembro, foi assinado o ato régio determinando a separação de Minas da Capitania de São Paulo. Ao mesmo tempo, em Ouro Preto, ex-capital de Minas e antiga Vila Rica, as atenções estão voltadas para os 300 anos da Sedição de Vila Rica, cujo protagonista, Filipe dos Santos (1680-1720), se revoltou contra a cobrança de impostos pela Coroa portuguesa e foi condenado à morte. Na verdade, será uma tripla comemoração, pois Ouro Preto vai festejar os 40 anos do reconhecimento como Patrimônio da Humanidade, o primeiro concedido no país pela Unesco, informa o secretário municipal de Cultura e Patrimônio. Zaqueu Astoni Moreira.


Desde o início do ano passado, a prefeitura local vem se preparando para reverenciar a memória do minerador português e expoente do movimento que teve em Cachoeira do Campo um dos palcos mais importantes. O objetivo das autoridades é envolver a população em projetos de educação patrimonial, a fim de homenagear a memória e jogar mais luz sobre essa página do início do século 18 que representa o “nascimento” de Minas.

Entre as ações para marcar as datas em Ouro Preto está a restauração do Solar dos Pedrosa, vizinho da Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, que foi cenário de outros momentos épicos, como a Guerra dos Emboabas. A obra tem recursos de um financiamento da prefeitura no Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), no valor de R$ 1 milhão, e contrapartida do município de R$ 200 mil. Outra obra está na requalificação do trevo de entrada da cidade, que pelos 300 anos vai ganhar um triângulo, remetendo à bandeira de Minas e plantio de flores entremeando um bloco de pedra com a inscrição Patrimônio da Humanidade.