A perícia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) encontrou as substâncias tóxicas monoetilenoglicol e dietilenoglicol na água usada na produção da cervejaria Backer, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O resultado aumenta a suspeita de que outros rótulos da empresa possam estar contaminados, e não somente a cerveja Belorizontina, associada à intoxicação de pelo menos 17 pessoas com a síndrome nefroneural e dois óbitos, um deles ontem, na capital mineira. Há três hipóteses em investigação: sabotagem, vazamento e uso inadequado das moléculas de monoetilenoglicol no processo de refrigeração do sistema.
Ainda não há resultados das análises das outras marcas produzidas pela Backer, mas o Mapa identificou sete lotes de Belorizontina contaminados – um deles com o rótulo Capixaba, nome dado à cerveja distribuída no Espírito Santo. A inspeção do órgão federal também constatou os agentes químicos em mais de um dos 70 tanques usados na fabricação das cervejas. Na terça-feira, a empresa informou que apenas o tanque 10 teria sido lacrado.
“Inicialmente, existia uma hipótese de que essa contaminação estivesse restrita a um lote de produção ou a um tanque. Fizemos uma análise e vimos que não estava restrita a um ou outro tanque, estava distribuída em diversos tanques. Dessa forma, passamos a abordar essa contaminação a uma etapa anterior à fermentação”, explicou o coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do Mapa, Carlos Vitor Müller, em coletiva de imprensa em Brasília.
A indústria foi interditada pelo órgão federal na sexta-feira até que mostre condições seguras de funcionamento. O Mapa determinou também o recolhimento de todos os produtos e a proibição da venda das cervejas da Backer, que produz 22 rótulos. Na terça-feira, a força-tarefa que investiga o caso voltou à indústria, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para nova perícia.
Os técnicos do ministério identificaram moléculas de monoetilenoglicol e dietilenoglicol na água do tanque usado no resfriamento do mosto, a cerveja antes da fermentação. Essa mesma água é usada na composição das cervejas, conforme informações fornecidas pela própria Backer à força-tarefa. A reutilização da água é uma prática comum em indústrias cervejeiras. O que não se sabe é o motivo pelo qual o monoetilenoglicol e o dietilenoglicol estavam presentes na água usada nesse processo.
“Conseguimos identificar que a água contaminada por etilenoglicol está sendo utilizada no processo cervejeiro. O que a não gente não consegue ainda afirmar é de que forma ocorre essa contaminação nesse tanque de água gelada”, diz Müller.
FORA DO LUGAR Em tese, os dois agentes deveriam ser usados somente no sistema de serpentina que circunda o tanque de fermentação, uma etapa posterior da produção, onde também estavam presentes. As substâncias tóxicas são capazes de resfriar o líquido, sem provocar o congelamento. Até então, a investigação estava concentrada nos tanques de fermentação. “Sabotagem pode ocorrer, vazamento, utilização incorreta de monoetilenoglicol para melhorar o desempenho. Mas ainda não dá pra definir. Vamos trabalhar nessa investigação”, afirma Müller.
Outro mistério é porque a Backer informa usar apenas o monoetilenoglicol como fluido anticongelante, e não o dietilenoglicol. O coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do Mapa explica que tanto pode ter ocorrido uma interação entre as moléculas no processo produtivo quanto durante a análise das amostras, como interferência do método usado em laboratório. De toda forma, as duas substâncias são tóxicas e não podem entrar em contato direto com a bebida.
“Diante do indício de que a contaminação por dietilenoglicol e monoetilenoglicol é sistêmica, ou seja, está presente no processo de fabricação da Backer, o Ministério determinou o recolhimento de todos os produtos da cervejaria e a suspensão da fabricação, pois outras marcas podem estar contaminadas também”, afirmou Glauco Bertoldo, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa. O ministério apreedeu 139 mil litros de cerveja engarrafada e 8.480 litros de chope na fábrica.
As notas fiscais mostram que a cervejaria adquiriu 15 toneladas do monoetilenoglicol a partir de 2018, com picos em novembro e dezembro de 2019. A quantidade é tratada com ressalvas pelo Mapa. Isso porque, de acordo com o órgão, como o sistema de refrigeração é fechado e, em princípio, não haveria justificativa para essa aquisição em grande escala. “Pode ser por causa do aumento da capacidade produtiva”.
As notas fiscais mostram que a cervejaria adquiriu 15 toneladas do monoetilenoglicol a partir de 2018, com picos em novembro e dezembro de 2019. A quantidade é tratada com ressalvas pelo Mapa. Isso porque, de acordo com o órgão, como o sistema de refrigeração é fechado e, em princípio, não haveria justificativa para essa aquisição em grande escala. “Pode ser por causa do aumento da capacidade produtiva”.
NOTA DA BACKER Em nota, a cervejaria Backer reafirma que “nunca comprou nem utilizou o dietilenoglicol em seus processos de fabricação” e “reforça que a substância empregada pela cervejaria é o monoetilenoglicol”. A empresa também informa que, nos últimos dois anos, precisou aumentar a compra de monoetilenoglicol para atender a demanda de ampliação constante da sua planta produtiva. No período, foram adquiridos 29 novos tanques de fermentação. Em entrevista na terça-feira, a diretora de marketing da Backer, Paula Lebbos, havia informado que a empresa adquiriu 20 novos tanques de fermentação em 2019, chegando a 70 “panelas”, o que representou um aumento de 40% da capacidade produtiva.
NÃO BEBA
NÃO BEBA
Confira os lotes em que o Mapa encontrou o dietilenoglicol:
Belorizontina L2 1354
Belorizontina L2 1348
Capixaba L2 1348
Belorizontina L2 1197
Belorizontina L2 1604
Belorizontina L2 1455
Belorizontina L2 1464