Equipes médicas vão notificar a Secretaria de Estado de Saúde (SES) sobre pacientes que apresentaram quadro de insuficiência renal aguda e alterações neurológicas, mas ficaram sem diagnóstico. A revisão de casos anteriores à investigação da contaminação na cervejaria Backer, que veio à tona em 5 de janeiro, procura esclarecer se houve algum episódio precedente que pode ser associado a uma intoxicação por dietilenoglicol. A família de um homem de 62 anos, que faleceu em abril de 2019, foi nesta sexta-feira (17) à Polícia Civil prestar depoimento sobre a morte, que relaciona consumo de cerveja e sintomas da síndrome nefroneural.
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Mapa recolhe rótulos da Backer
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), que interditou a fábrica da Backer na semana passada, determinou o recolhimento no comércio de todos os rótulos produzidos pela cervejaria desde outubro de 2019. Em edição extra do Diário Oficial da União, nesta sexta-feira (17), o órgão determinou a interdição por 90 dias de todas as cervejas com validade a partir de agosto de 2020. A Polícia Civil considera que a janela de contaminação da bebida ocorreu entre a segunda quinzena de novembro e a primeira quinzena de dezembro de 2019, visando a distribuição para as festas natalinas e a Black Friday.
Um ano antes de toda a polêmica envolvendo a cervejaria, em dezembro de 2018, um homem de 62 anos, morador do Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul de BH, passava pela mesma via-crúcis dos casos suspeitos de intoxicação por dietilenoglicol. No dia 21, tomou uma cerveja artesanal, começou a passar mal e, cinco dias depois, foi internado com um quadro de insuficiência renal aguda e alterações neurólogicas num hospital particular, no Bairro Barro Preto, na Região Centro-Sul de BH. Foram quatro meses de luta e, em 20 de abril, ele morreu em decorrência de problema nos rins, de causa desconhecida.
''Foi tudo igual, idêntico''
Com as denúncias relacionadas à contaminação das cervejas Backer, a família está atrás de respostas para a morte misteriosa. O Estado de Minas conversou com a mulher dele, que pediu para não ser identificada. “Foi tudo igual, idêntico a esses casos”, conta. Ela voltou aos médicos que cuidaram do marido e, agora, vão revisar o caso.
Também foi nesta sexta (17) à Polícia Civil para prestar depoimento. “Segundo a polícia, agora serei intimada a ir ao cartório assinar o depoimento. Tenho tudo escrito, todos os exames, os relatórios médicos. Eu e meus três filhos queremos descobrir isso por ele”, explica a mulher, de 60. “Quero uma confirmação, mesmo que não vá ter uma certeza”, diz.
Também foi nesta sexta (17) à Polícia Civil para prestar depoimento. “Segundo a polícia, agora serei intimada a ir ao cartório assinar o depoimento. Tenho tudo escrito, todos os exames, os relatórios médicos. Eu e meus três filhos queremos descobrir isso por ele”, explica a mulher, de 60. “Quero uma confirmação, mesmo que não vá ter uma certeza”, diz.
A cerveja foi também o gatilho para o mal-estar do marido, depois de a família ir a um bar no Bairro Buritis, na Região Oeste. “Tem que deixar bem claro que não lembramos qual a marca, mas foi artesanal. Tenho certeza porque eu não gosto e pedi outra. Ele acordou no dia seguinte passando mal, com dor no estômago, dor de cabeça, enjoo. Tratamos como uma ressaca achando estranho, porque nunca tinha ressaca”, conta.
Os dias seguintes foram arrastados e, no Natal, ele piorou muito, sem praticamente não conseguir urinar. Assim que chegou ao hospital, médicos constataram exames completamente alterados. “Os olhos dele ficaram meio caídos, chegaram a suspeitar de uma síndrome chamada Guillain-Barré (doença autoimune). Veio a paralisia, a diálise, as convulsões. Fizeram exame de AVC e não deu nada”, diz.
A mulher conta que chegou ao hospital falando da cerveja. “Ele falou que estava com muita ressaca e não melhorou mais”, lembra. Os médicos vasculharam as possibilidades para o quadro, mas não chegaram a uma conclusão. “Se de um caso na mesma época de uma pessoa que estava internada no Hospital Vera Cruz. Um médico chegou a comentar que era gravíssimo também”, diz. Ela afirma que a associação entre os casos não foi investigada.Primeira notificação em Minas
A primeira notificação à SES sobre paciente com insuficiência renal aguda e alterações neurológicas de causa desconhecida ocorreu em 30 de dezembro. Em 31 de dezembro, foi notificado um segundo caso com os mesmos sintomas, em Juiz de Fora, na Zona da Mata. Os pacientes eram da mesma família. “Os casos tinham uma relação e isso chamou atenção”, afirma Lilian.
Foram notificados 19 casos suspeitos da intoxicação por dietilenoglicol à SES, sendo quatro mortes. Em um dos óbitos, foi confirmada a presença de dietilenoglicol no sangue. Há registros em oito municípios mineiros, a maior parte em BH. Todos os casos apresentaram sintomas gastrointestinais, alterações da função renal, sintomas neurológicos (paralisia facial, borramento visual, amaurose, alterações de sensório, paralisia descendente e crise convulsiva).
Análises do Mapa também encontraram a substância na água usada na cervejaria Backer, no Bairro Olhos D'Água, na Região Oeste de BH, e em oito rótulos da marca. As denúncias tinham relação com a cerveja Belorizontina, produzida pela empresa. A SES-MG informa que, como as notificações para os casos suspeitos de intoxicação exógena por dietilenoglicol foi definida em 13 de janeiro de 2020, não há registros anteriores no órgão. Para ser encontrada, é necessário fazer testes específicos para esse agente, já que ela não detectada nos exames de rotina de saúde.