Jornal Estado de Minas

Avenida Tereza Cristina é interditada por causa de danos após temporal

Defesa Civil de BH informou que o Ribeirão Arrudas subiu quase 10 metros com o temporal da tarde de ontem. Previsão é de mais chuva esta semana (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

 

Após registrar mais danos em função de um novo transbordamento do Ribeirão Arrudas durante a chuva, a Avenida Tereza Cristina teve trechos interditados na manhã desta segunda-feira. O asfalto foi destruído em diferentes pontos e há lama na pista. Linhas de ônibus precisaram ser desviadas. 


 

De acordo com a BHTrans, os seguintes pontos foram interditados hoje:

 

 

Ainda segundo a BHTrans, os ônibus das linhas linhas 30 (Estação Diamante/Centro), 3029 (Regina/Centro), 2035 (Bairro das Indústrias/Centro) e 34 (Estação Barreiro/Via Expressa) tiveram os itinerários alterados. Veja a seguir: 

 

O Estado de Minas entrou em contato com a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura da capital para mais informações sobre a situação da Avenida Tereza Cristina, mas a prefeitura informou que vai se pronunciar por meio de uma coletiva de imprensa no início da tarde desta segunda.


Drama que se repete


O porteiro José Antônio e a esposa, Sônia, perderam eletrodomésticos e móveis: "Sempre que chove é um prejuízo. Nem conseguimos dormir" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)

Apenas nos 19 primeiros dias do ano, os acumulados de chuva em seis das noves regionais de Belo Horizonte superam a média climatológica esperada para janeiro, fazendo com que o primeiro mês de 2020 seja um dos mais chuvosos dos últimos anos. Duas horas e vinte minutos de precipitação foram suficientes para instalar o caos: transbordamento do Ribeirão Arrudas, alagamentos das avenidas Francisco Sá e Amazonas, dezenas de pessoas ilhadas, inundação de estações do metrô e a destruição completa de uma feira popular no Bairro Amazonas, em Contagem.



Levantamento da Defesa Civil de BH apontou que o Arrudas subiu 9,8 metros durante o temporal. No fim da tarde, quando a água desceu, moradores às margens da Avenida Tereza Cristina protestaram contra as constantes enchentes. Dezenas de pessoas fecharam a pista na altura do Bairro Betânia, um dos mais atingidos, e atearam fogo em móveis que foram destruídos pelo temporal. A Polícia Militar foi chamada e houve discussão com os manifestantes, que alegaram ser a quinta vez em 45 dias que as águas sobem e destroem tudo na vila que fica ao lado da Tereza Cristina, na Rua Amanda. Os manifestantes também interditaram um trecho do Anel Rodoviário, no cruzamento com a Rua Amanda.


Comerciantes terminaram o dia retirando lama que invadiu imóveis na Rua Padre Lattankamp, próximo ao Arrudas, na Região Oeste (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)


O porteiro José Antônio Teixeira e a esposa, Sônia Marly Vieira, foram surpreendidos pela força da chuva, que rapidamente tomou conta da casa onde vivem, na Rua B1, paralela à Avenida Tereza Cristina. A água subiu rapidamente a partir das 16h. “Foi uma tempestade muito forte, uma tromba d'água que tomou conta de tudo”, lamentou José. No imóvel, o cenário era de total destruição, com prejuízo ainda não calculado pelo casal. A enxurrada estragou geladeira, sofá, aparelho de TV, guarda-roupa e fogão, entre outros itens da família. O porteiro lembra que já passou por situações parecidas entre 2009 e 2010. “É muito difícil. Precisamos de obras para melhoria da região. Sempre que chove é um prejuízo, não conseguimos nem dormir”, lamenta José, que tem cinco filhos.

Prejuízo

O comerciante João Rodrigues, morador da Avenida Tereza Cristina há 20 anos, é dono de um restaurante no andar de cima de sua casa. Ele perdeu cinco refrigeradores, cinco cervejeiras e boa parte do estoque de alimentos que guardava depois que a água invadiu seu imóvel e atingiu quase 1,5 metros de altura. “Tem gente aqui que ganha um salário mínimo e não tem condição de comprar de novo uma cama, um guarda-roupa. Quero que uma autoridade competente venha conversar conosco, escutar os moradores e ver o que estamos passando.”



Em Contagem, os estragos também foram grandes. Na Vila Barraginha, os moradores foram retirados das casas com a água na altura da cintura. Mães assustadas tentavam salvar bebês em meio à enxurrada. A estação do metrô no Bairro Eldorado ficou alagada. Não é a primeira vez que a chuva atinge os locais de embarque e desembarque. No primeiro dia do ano, o alagamento não só prejudicou a circulação dos trens, como causou danos materiais. Devido à inundação dos trilhos, duas composições tiveram diversos equipamentos comprometidos e foram retiradas de circulação. Em Venda Nova, enchente na Avenida Vilarinho nos primeiros dias do mês também provocaram danos ao serviço de metrô.


Devido ao número de pessoas ilhadas no temporal deste domingo, os bombeiros usaram o helicóptero Arcanjo para a retirada das vítimas em pontos onde não era possível o acesso por viaturas. Foram resgatadas cinco vítimas em um carro em meio à inundação no Bairro Camargos. O Corpo de Bombeiros recebeu pelo menos 67 solicitações nos Bairros Amazonas, Industrial, Vila São Paulo, Santa Margarida, em Contagem, e Céu Azul, em BH. Em diferentes regiões, os moradores ficaram ilhados.



Na Avenida Alvarenga Peixoto, no Bairro Amazonas, em Contagem, vendedores da tradicional feira de artesanato de domingo foram surpreendidos por violenta enxurrada, que arrastou barracas e produtos. Vídeos que circularam em redes sociais mostram cenas de pânico entre os feirantes, que desesperados tentam se salvar da violência das águas. Em um deles aparecem comerciantes desesperados ao ver os produtos serem levados de forma violenta pelas águas. Em outro, um homem tenta resgatar um botijão de gás, mas desiste diante da força das águas. Em outro vídeo, é possível ver um homem sendo levado pela água em meio a ferragens. A feira popular é realizada no local desde os anos 1960 e atualmente tem cerca de 600 barracas cadastradas.

Sem trégua esta semana


A Defesa Civil emitiu um alerta para céu encoberto até a quinta-feira, com pancadas de chuva e trovoadas, o que eleva o temor de mais estragos. O temporal no fim da tarde de ontem atingiu todas as regiões da capital mineira e o volume chegou a 102,4 milímetros na Região Oeste e 98,8mm no Barreiro. O volume em duas horas e 20 minutos nas duas regiões corresponde a um terço do esperado para janeiro cuja média climatológica é de 329,1 mm. Durante toda semana, o céu estará encoberto, de acordo com Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Também há possibilidade de pancadas de chuva e trovoadas isoladas até quinta.




Desde o segundo dia do mês, as chuvas de verão evidenciam que as obras para prevenção não foram eficazes para aplacar a força e a fúria das águas. Em novembro, a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou obras de retenção em reservatórios na Avenida Vilarinho, com previsão de início em abril. Na ocasião, o secretário municipal de obras e infraestrutura, Josué Valadão, afirmou que há três grandes áreas de atenção na capital: Arrudas, Isidoro (onde está a Avenida Vilarinho) e Córrego do Onça (Avenida Bernardo Vasconcelos).