Jornal Estado de Minas

Avenida Tereza Cristina é parcialmente liberada, mas buracos ainda exigem atenção

Agente da BHTrans acompanha o trânsito no trecho liberado da avenida (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


A Avenida Tereza Cristina, que liga Belo Horizonte a Contagem, tem o trânsito parcialmente liberado nesta terça-feira, mas os buracos provocados pela enxurrada durante o temporal no último domingo ainda exigem atenção dos motoristas. 



Segundo a BHTrans, a avenida continua interditada no trecho entre a Via 210 e o Anel Rodoviário nos dois sentidos. Lá a situação é mais crítica. 

No trecho da avenida antes da Via 210, o trânsito está liberado em ambos os sentidos. Agentes de trânsito monitoram o local e orientam os motoristas. Segundo a empresa, boa parte das placas de asfalto soltas já foram removidas, mas há depressões na pista. A orientação é para que os condutores dirijam devagar para evitar acidentes e danos aos veículos. 

Belo Horizonte amanheceu com neblina nesta terça-feira (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


Já no ponto em que a Tereza Cristina e a Via 2010 se cruzam, há uma faixa liberada no sentido Bairro/Centro. Na direção oposta, o fluxo está interditado. 

Por meio de nota enviada à reportagem no início desta tarde, Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que, no momento, todos os esforços estão voltados para limpeza e desobstrução da Tereza Cristina. Uma equipe técnica fez o levantamento dos danos na pavimentação para concluir as estimativas de custos. 

Mas, a solução pode demorar. “A Sudecap esclarece que o restabelecimento do novo pavimento está condicionado a um período de estiagem, visto que o material de base necessita de um tempo para sua compactação ideal, o que garante a sua durabilidade”, conclui o texto. 


Previsão do tempo


(foto: Arte EM)

Ao que tudo indica, os temporais não pretendem dar trégua aos belo-horizontinos. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), hoje, áreas de instabilidade que atuam na região central de Minas Gerais mantém o tempo nublado e chuvoso na grande BH. Os termômetros devem atingir a temperatura máxima de 25°C e a população deve redobrar a atenção, já que a chuva forte pode começar pela manhã e se estender ao longo do dia. 

Emergência depois da chuva



Situação de emergência após o caos provocado por “uma chuva de mil anos”. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, assinou decreto, na tarde de ontem, para garantir obtenção de recursos federais para obras na região da Avenida Tereza Cristina, Oeste da capital, na divisa com Contagem. Na tarde de domingo, o trecho assumiu aspecto de “tsunami”, com a desolação de famílias, decorrente do índice pluviométricos de 102 milímetros em apenas 40 minutos – trata-se, de acordo com o Inmet, do maior índice desde 2004. O volume de precipitações na capital e demais municípios da região metropolitana, em janeiro, foi de 474,1mm, correspondendo a 47,5% de toda a chuva registrada em BH em 2019 (998,8mm). A Prefeitura de Contagem também decretou emergência por causa das chuvas. No fim da tarde e início da noite de ontem, mais água caiu sobre a Grande BH, voltando a provocar transtornos e causando até mesmo um desabamento.

“Essa é uma chuva que só ocorre de mil em mil anos. Mesmo que estivéssemos com todas as obras prontas, incluindo as intervenções licitadas e outras projetadas ou em andamento, não teríamos condições de conter”, disse Kalil, falando das precipitações de domingo e explicando que a referência a “mil anos” decorre de levantamentos feitos por especialistas, incluindo tempo de recorrência e outros. “Não tem culpados, não quero achar culpados”, afirmou o prefeito, embora citando as obras previstas (três bacias) para o Córrego do Ferrugem (afluente do Ribeirão Arrudas, canalizado na Avenida Tereza Cristina), que seriam custeadas pelo governo estadual e ainda não saíram do papel.


Moradores da Vila Barraginha, em Contagem, retiram objetos destruídos pela chuva (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


Kalil decretou, na tarde de ontem, situação de emergência para a região da Avenida Tereza Cristina, duramente atingida pelas precipitações. O decreto de situação de emergência permite que a PBH obtenha recursos do governo federal – no fim de dezembro, foram liberados R$ 5 milhões para intervenções, lembrou o secretário Nacional de Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas, que está na cidade trabalhando com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) e outros órgãos municipais para avaliar os danos causados também no município vizinho de Contagem. Além de prestar socorro a 150 famílias desalojadas, a verba servirá para auxiliar a prefeitura na urgência de serviços. “Estamos agindo aqui e no Espírito Santo”, disse Lucas.

O superintendente da Sudecap, Henrique Castilho, explicou que a tempestade danificou o asfalto e passeios, além de retirar meios-fios e postes ao longo da avenida. O trabalho agora é de limpeza da via pública, mas o recapeamento não ocorrerá tão cedo. “Estamos com tratores no local, mas a base (sob o asfalto) está molhada. Então, é preciso esperar secar para o serviço ser executado”, explicou Castilho. Dessa forma, o aviso é para que os motoristas, especialmente durante os temporais, evitem transitar nessa área. A PBH tem, em caixa, desde 2017, com projetos em andamento, cerca de R$ 1,3 bilhão para construção de bacias em áreas sujeitas a inundações, devendo R$ 500 milhões ser empregados na Avenida Vilarinho, em Venda Nova.

No caso do Córrego Ferrugem, o governo de Minas informa que são de responsabilidade das prefeituras as obras estruturantes para prevenir as enchentes. “Muitas delas foram alvo de parceria entre o governo estadual e federal para auxiliar os municípios, tendo em vista a extensão social do problema. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Ferrugem é financiado pelo Ministério de Desenvolvimento Regional, por intermédio da Caixa Econômica Federal, com investimento total de 126,3 milhões, dos quais 61,8 milhões de contrapartida do estado. No presente momento, os recursos federais não são suficientes para execução da segunda etapa do empreendimento”.



Desolação e revolta



O cenário, ontem, era de horror na Avenida Tereza Cristina. Placas de trânsito no chão, blocos de asfalto soltos pela rua, móveis e eletrodomésticos cobertos por lama. De manhã, moradores se mostravam desolados diante do prejuízo ou apenas do que restou de suas casas depois do temporal que terminou com o transbordamento do Ribeirão Arrudas no fim da tarde de domingo. Funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) também trabalhavam na retirada do barro e do entulho que ocupavam as vias no entorno. Agentes da BHTrans coordenavam o trânsito, completamente prejudicado depois que placas de asfalto se soltaram pela força da água. Parte da Avenida Tereza Cristina, próximo ao número 10.500, estava completamente interditada. Depois de protestos já no domingo, moradores se reuniram para discutir as pautas e pedir providências à administração municipal.

Em vez de festa, Charles Flávio Lopes, que completou 30 anos ontem, enfrentou o trabalho para tirar lama de casa e só pôde se alimentar com produtos doados. Na tarde de domingo, o churrasco com amigos e parentes foi interrompido pela chuva forte, que devastou a Vila Betânia, que fica às margens da Teresa Cristina, na altura do Bairro Betânia, na Região Oeste da capital. "Uma tragédia anunciada. Infelizmente, não deu para salvar nada. Nem a roupa que estou usando no corpo é minha. É doação. Não tenho mais nada. Passei meu aniversário procurando algo para me alimentar e água potável para beber", lamentou o motoboy que mora lá há 23 anos. Ele conta que problemas com a chuva são anuais, mas não via tamanho estrago desde 2009. Charles mora com outras oito pessoas e a perda ainda não foi calculada. Revoltado com a situação, disse que funcionários da administração municipal procuraram a família para preencher um formulário. "Eles nos procuraram no domingo, eu ainda estava atordoado limpando o barro. Sem muita noção, respondi R$ 20 mil, mas é muito mais que isso" lamentou.

As chuvas instalaram o caos na Região Oeste: transbordamento do Ribeirão Arrudas, alagamentos das avenidas Francisco Sá e Amazonas, dezenas de pessoas ilhadas, inundação de estações do metrô. Levantamento da Defesa Civil de BH apontou que o Arrudas subiu 9,8 metros durante o temporal. Defesa Civil Municipal estabeleceu um posto de comando em uma igreja na Praça Cinquentenário, no Bairro Betânia.



Pedido de ajuda


O presidente da Associação de Moradores e Empreendedores (AME) da Vila Betânia, Gladson Reis, pede ajuda à sociedade e providências por parte do poder público. "É a quinta inundação em 45 dias em que as pessoas perdem tudo. Precisamos de donativo, material de higiene pessoal, alimentos. Quem puder trazer pão, marmitex, ajudará muito", disse. Ele também pede ajuda para resgatar cães. "O prefeito precisa pisar no barro e sentir a dor dessas famílias. Vamos marcar novos protestos". A associação chegou a convocar uma manifestação ontem às 13h. Mas a cancelou: “Ainda estão todos muito abalados”. Mas, um grupo de moradores voltou a fechar a pista na altura do Bairro Betânia e ateou fogo ao que restou de móveis destruídos pelo temporal. Entre as principais revindicações, estão: uma bolsa emergencial de R$ 5 mil, a isenção da conta de água e de energia e um plano de contenção das enchentes. Mas, não houve confronto com a polícia. No domingo, corporação foi chamada e houve discussão com os manifestantes.

Após registrar mais danos em função de um novo transbordamento do Ribeirão Arrudas durante a chuva, a Avenida Tereza Cristina teve trechos interditados na manhã de ontem. O asfalto foi destruído em diferentes pontos e a lama tomou as pistas. Linhas de ônibus precisaram ser desviadas, enquanto agentes da prefeitura trabalhavam nos reparos. O trecho foi completamente interditado na altura da Via 210 e da Avenida Presidente Castelo Branco, no sentido Centro/Bairro.

'Não deu tempo de salvar nada'


Funcionários da PBH vistoriam área da Avenida Tereza Cristina destruída pelo que o prefeito Kalil chamou de 'chuva de mil anos' (foto: Jair Amaral/EM/DA Press)


“Ficamos debaixo d'água, a inundação estava na altura do pescoço. Saímos pela janela, ficamos na casa do vizinho até a chegada de ajuda. Perdi tudo, não deu tempo de salvar nada.” Esse foi o relato da cozinheira Ilma de Márcio, de 59 anos, moradora da Vila Barraginha, em Contagem, na Grande BH. Onde os estragos provocados pela chuva de domingo também foram grandes. Por causa dos estragos, a prefeitura decretou situação de emergência para agilizar a captação de recursos destinados aos reparos e atendimento às famílias afetadas. O prefeito Alex de Freitas assinou o decreto após se reunir com o secretário Nacional de Proteção e Defesa Civil, coronel Alexandre Lucas Alves.


Ao longo do dia, sentimento de tristeza e de revolta toma conta da pequena vila cercada por corredores estreitos. Diogo Ventura, de 28, retirava os objetos de casa. Praticamente nenhum deles poderia ser recuperado. Uma bíblia ensopada pela lama foi para o lixo. “Nem a bíblia sobrou. Perdemos tudo. Moro aqui a vida toda, mas vou precisar ficar na casa de uma irmã”, relatou. A vizinha Letícia Dias, de 23, pede providências por parte da administração municipal. “Perdemos tudo e o prefeito está tranquilo na casa dele. Se ele não aparecer aqui, vamos até lá protestar”, prometeu. Ela cobrou o envio de agentes de saúde à vila. “A pele de todo mundo está coçando. Nadamos em uma água com ratos”, disse.

O coordenador municipal de Proteção e Defesa Civil, Samuel Martins Lara, explica que providências começaram a ser tomadas no dia da chuva. “Estamos fazendo vistorias nos imóveis com risco de estrutura. As casas estão sendo interditadas e as famílias, encaminhadas para o Bolsa Moradia para que, o mais rápido possível, possam alugar um imóvel seguro para ficar. Outras casas também estão sendo vistoriadas e as famílias recebendo colchonete, água sanitária, cesta básica”, disse. “Fizemos uma filtragem de quem perdeu tudo e que não tem aonde ir. Encaminhamos essas pessoas para abrigos provisórios: Escola Municipal Virgílio De Melo Franco, na Vila São Paulo, e Escola Municipal Pedro de Alcântara Junior, no Bairro Jardim Industrial, onde estão cerca de 10 famílias, mas o número deve crescer. Outras 200 estão em casas de família ou amigos”, acrescentou.

A Defesa Civil também realiza atendimentos na Vila Itaú, Vila São Paulo e Vila Marimbondo. Na Avenida Alvarenga Peixoto, no Bairro Amazonas, em Contagem, vendedores da tradicional feira de artesanato de domingo foram surpreendidos por violenta enxurrada, que arrastou barracas e produtos. Vídeos que circularam em redes sociais mostram cenas de pânico entre os feirantes que, desesperados, tentam se salvar da violência das águas. Em um deles, aparecem comerciantes muito aflitos ao ver os produtos serem levados de forma violenta pelas águas. A feira popular é realizada no local desde os anos 1960 e atualmente tem cerca de 600 barracas cadastradas.