A Polícia Civil continua a colher depoimentos de familiares de pacientes internados ou que morreram com sintomas da síndrome nefroneural, associada ao consumo de cerveja contaminada por dietilenoglicol em Belo Horizonte. Ontem, quatro pessoas foram ouvidas.
Os depoimentos são realizados em uma delegacia do Bairro Estoril, Região Oeste de Belo Horizonte. Na manhã desta terça-feira, compareceram ao local Emília Barros e Célio Guilherme Barros, esposa e irmão do bancário Luciano Guilherme Barros, de 56 anos. Ele está internado em uma unidade do Hospital Mater Dei, na capital.
Luciano foi hospitalizado em 6 de dezembro. Segundo eles, morador do Buritis, também na Região Oeste, o homem comprou cerca de 20 cervejas de um dos lotes contaminados da marca Belorizontina, da cervejaria Backer. Emília e Célio também disseram que, até o momento, a empresa não entrou em contato com eles.
Outros familiares de pacientes também estão na delegacia nesta manhã, mas até a publicação desta matéria ainda não haviam falado à imprensa.
Mais dois casos sob investigação
O alerta da Vigilância em Saúde, de que os casos da síndrome nefroneural causada pela ingestão de cerveja contaminada poderia ser maior, se torna realidade. Duas novas suspeitas de intoxicação exógena por dietilenoglicol foram notificados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). O boletim divulgado ontem somou 21 casos em todo estado. Enquanto os números aumentam, famílias ficam angustiadas ao acompanhar os trabalhos da Polícia Civil, que também avança com as investigações relacionadas à contaminação das cervejas fabricadas pela Backer.
Ontem, quatro familiares de vítimas prestaram depoimentos em delegacia. Ao mesmo tempo, policiais civis estiveram novamente na cervejaria. Novas amostras de cervejas foram recolhidas e serão analisadas juntamente com as outras da semana passada. “As amostras recolhidas, tanto da cervejaria quanto da empresa química que vendia o monoetilenoglicol, continuam sendo analisadas pelas equipes de peritos do Instituto de Criminalística de forma criteriosa”, informou a Polícia Civil. Não há previsão de quando os laudos estarão concluídos.
Até o momento, a secretaria teve quatro mortes notificadas. Um desses óbitos está entre os quatro casos em que foi confirmada a presença da substância dietilenoglicol no sangue. Trata-se de um homem que esteve internado em um hospital de Juiz de Fora e morreu em 7 de janeiro. Já os outros três casos de óbito estão entre os 17 casos em investigação.
O delegado responsável pelo inquérito, Flávio Grossi, encaminhou à Justiça pedido para a exumação do corpo da mulher que teria sido a primeira vítima fatal da intoxicação. Ela morreu em 28 de dezembro em Pompéu – antes da detecção de dietilenoglicol e monoetilenoglicol em amostras de cervejas recolhidas nas casas de pessoas que apresentaram os sintomas da síndrome nefroneural.
Nesta semana estão previstos novos depoimentos de outros familiares de vítimas intoxicadas que podem ajudar a esclarecer os fatos.
Angústia e esperança
Famílias das vítimas continuam com o sofrimento dia após dia. Célio Barros considera que o irmão teve sorte, pela competência da equipe do hospital, mas ainda sofre com os rins que não estão funcionando: “Ele já recobrou a memória. Está enxergando, recuperou os movimentos de pernas e braços. Desde o último final de semana, está caminhando. Nós, da família e amigos, acreditamos que ele vai sair dessa”, disse à reportagem do Estado de Minas em entrevista nessa segunda-feira.
Luciano ainda precisa fazer diálise, mas, pelo quadro apresentado no começo e pela recuperação, segundo Célio, a expectativa é que ele se recupere e tenha uma vida normal. “Desejamos que o que meu irmão está passando sirva de esperança para todos que foram afetados por esse mal.”
Orientação
A Secretaria de Estado de Saúde recomenda que, por precaução, nenhuma cerveja produzida pela Cervejaria Backer, independentemente de marca e lote, seja consumida. Se precisar jogar fora a bebida, a SES-MG recomenda que a população não a descarte em pias ou vasos sanitários, nem coloque no lixo comum. A Polícia Civil também orienta a população a registrar boletim de ocorrência caso tenha consumido a cerveja e se sentindo prejudicado com a ingestão da bebida.