Os sinos vão tocar hoje, exatamente ao meio-dia, bem no coração de Belo Horizonte. As badaladas terão um motivo especial: dar início às celebrações dos 120 anos da Paróquia São José, que tem o templo localizado na Avenida Afonso Pena, no Centro, como monumento de religiosidade e cultura, além de palco de manifestações políticas e sociais em momentos importantes da história de Minas e do país. “Esta é igreja mais importante da cidade, tem quase a mesma idade da capital”, orgulha-se o padre Gabriel Teixeira Neves Filho, o padre Neves, de 93 anos, nascido em BH, batizado na São José e há 40 anos trabalhando na paróquia. “Minha mãe, Rosa, também foi batizada aqui. Este lugar faz parte da minha vida”, conta o neto de italianos e portugueses vindos da Europa no fim do século 19 para trabalhar na construção da cidade inaugurada em 12 de dezembro de 1897.
Padre José Cláudio adianta que, também hoje, será lançado o concurso Fotografe a São José, de âmbito nacional, para profissionais e amadores – a premiação, com valor ainda não definido, ocorrerá em 19 de março, data consagrada ao padroeiro da matriz, pai adotivo de Jesus, protetor das famílias e dono de uma legião de devotos na capital. “Esta igreja exerce um fascínio enorme, une as religiões, pois as pessoas passam pelo adro e entram, muitas vezes atraídos pela beleza da arquitetura e se encantam com o interior. Tornou-se, ao longo do tempo, ponto de encontro, espaço social, referência, por isso convidamos todos os mineiros para as celebrações”, afirma o pároco.
Até o fim do ano, estão previstas outras atividades na igreja, que, apenas nas missas, recebe diariamente cerca de 1,5 mil pessoas. Haverá exposição com registro do amplo acervo fotográfico pertencente aos redentoristas e também dos premiados no concurso, relançamento do livro escrito pelo padre João Batista Boaventura, falecido há três anos, sobre a história do templo construído entre 1902 e 1907, a tradicional novena dedicada ao santo (de 10 a 19 de março) e selo comemorativo alusivo à data, em agosto. Perto da imagem de São José, padre Neves não acha fácil encontrar o lugar mais bonito. Pensa e responde: “A capela-mor”. Depois, quando o repórter comenta que ele conhece a igreja como palma da mão, não perde o humor. “Com a palma das duas mãos.” Puxando pela memória, ressalta que BH tinha apenas dois pontos de maior circulação, que eram a Praça Sete e as imediações da Igreja São José.
Beleza da fé
Em qualquer dia que se entre no templo, é grande o número de pessoas rezando ou até tirando fotos da fachada da igreja. “Quando estava vindo para o Centro, no ônibus, meu filho olhou para um cartaz como os pontos de visitação na cidade, e me perguntou: 'Que palácio é esse?'”, contou a professora e educadora Emiliana Drumond, de 29, que, ao lado de Francisco, de 5, visitava a igreja na semana passada. Moradora do Bairro Ribeiro de Abreu, na Região Nordeste, Emiliana resolveu apresentar ao menino o “palácio” e fez muitas fotos e selfies. “Não sou católica, mas acho importante conhecer, pois se trata de um monumento da capital”, revelou olhando para a fachada que teve de volta as cores originais (vermelho, laranja, amarelo e mostarda), conforme o projeto elaborado por Edgard Nascentes Coelho, em maio de 1901, quando a capital ainda se chamava Cidade de Minas.
Na famosa escadaria, uma família com integrantes de Poços de Caldas, no Sul, de Minas, Carandaí, na Região Central, Belo Horizonte e Rio de Janeiro também posava para a foto no mesmo dia. “A igreja tem uma arquitetura maravilhosa, e a restauração ficou muito boa”, disse o arquiteto carioca Luiz Paulo Ramos, ao lado da mulher, a mineira Marisa Dulce. Já no interior do templo, diante das imagens da Sagrada Família, o jovem Leonardo Lopes, de 19, morador do Bairro Rio Branco, em Venda Nova, rezava e fazia seus agradecimentos. “Trabalhei um tempo na Rua da Bahia e vinha sempre aqui, nos horários de folga. Esta igreja é completa, transmite tranquilidade.”
“Temos um patrimônio valioso, que vai além da espiritualidade. Nossa biblioteca foi toda recuperada e, se juntarmos às obras existentes na Igreja da Glória, também da congregação dos redentoristas, em Juiz de Fora, há 120 mil exemplares”, diz o vigário paroquial em BH, padre Flávio Campos. Outro destaque está no acervo fotográfico, e muitas fotos viraram quadro no corredor interno da igreja ou se tornaram ícones de lutas pelos direitos civis e democráticos, protestos na escadaria, na década de 1960, contra a ditadura militar, acampamento de professores, por melhores condições do ensino e dos salários, em 1980, manifestação de mulheres, na escadaria, do movimento Quem ama não mata. Há também as festivas, como um desfile de 7 de Setembro, na década de 1950.
Pioneiros
As fotos mostram ainda a chegada dos padres redentoristas pioneiros à capital, então com pouco mais de dois anos de fundação, e também em 1907, com o trabalho em desenvolvimento. Depois de mostrar Capela do Oratório, restaurada e restrita aos padres do Convento São José, no interior da igreja, o pároco apresenta as pinturas marmorizadas descobertas, sob camadas de tinas, no corredor do primeiro andar. Todo o trabalho de restauro esteve a cargo do Grupo Oficina de Restauro, tendo à frente a especialista Maria Regina Reis Ramos.
Num quadro com o título Assim nasceu nossa paróquia, na galeria de fotos em preto e branco, está o decreto do bispo dom Silvério, datado de 27/1º/1900, desmembrando em duas a Paróquia da Boa Viagem. “Nascido em Congonhas (Região Central de Minas), dom Silvério foi o primeiro bispo da República e também pertenceu à Academia Brasileira de Letras”, conta o padre Flávio.
Com as obras de restauro concluídas, faltam agora as intervenções na área de acessibilidade e mais ações de prevenção e combate a incêndio, já com aprovação do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte. “Por isso, a campanha São José é 10 continua”, avisa o vigário – para as obras de restauro, a comunidade se mobilizou (barraquinhas, festas, dízimos etc.) e conseguiu os recursos necessários de R$7,5 milhões.
Programe-se
Hoje
» 12h – Toque de sinos, seguindo-se a apresentação da Banda do Exército/4ª Brigada Militar, de Juiz de Fora
» 18h30 – Missa solene em ação de graças presidida pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte, dom Geovane Luís da Silva, e concelebrada pelos padres da congregação dos redentoristas
» Lançamento do concurso Fotografe a São José, de âmbito nacional e aberto a profissionais e amadores. A premiação será em 19 de março, dia do padroeiro