Complicações no trânsito, mais vistorias da prefeitura, máquinas operando por todos os lados e vítimas que ainda contam os prejuízos: o primeiro dia útil após as chuvas que arrasaram Belo Horizonte na sexta-feira foi de muito trabalho para autoridades, drama para famílias das vítimas e exercício de e paciência para os motoristas. Na Vila Bernadete, no Barreiro, onde sete pessoas morreram depois que vários barracões deslizaram, a Defesa Civil fez vistorias em imóveis que ainda não haviam passado pelo processo. Nas nove regionais da cidade, muito atividade também para os órgãos de trânsito: ruas, avenidas e rodovias total ou parcialmente bloqueadas por barrancos, árvores e postes que invadiram as pistas, o que refletiu na ampliação dos engarrafamentos.
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EM percorre três cidades em situação de calamidade pela chuva em MinasOrações pelas vítimas da chuva marcam celebração na Igreja São José, em BHChega a 47 número de mortes por chuvas em Minas GeraisSobe para 50 o número de mortos das chuvas de janeiro em Minas GeraisHomem mata a esposa a marretadas e se entrega à PM em Nova SerranaSaiba onde fazer doações para vítimas das chuvas em Minas GeraisAinda no Barreiro, moradores da Vila Bernadete receberam a Defesa Civil em suas casas ontem. Os agentes responsáveis pelos trabalhos disseram à reportagem que vistoriavam imóveis que ainda não haviam sido verificados pelo órgão. As orientações para os moradores são as mesmas de sempre: verificar se há trincas, fendas e/ou depressões no terreno, assim como minas d'água. Em caso afirmativo, o morador deve ligar para o número 199, da Defesa Civil.
Apesar do apoio, alguns moradores da vila reclamaram de “falta de clareza” nas orientações dos agentes. “Na minha casa, graças a Deus, não afetou nada ainda. Mas o barranco está cedendo. Tem uma cratera debaixo da casa do vizinho. Se descer a dele, vai descer a minha, porque uma é agarrada na outra. Não tenho condições de ficar lá. Barranco não espera não”, afirma, em tom de desespero, Geovana Alves, de 57, que vive na Vila Bernadete há cinco anos. “A única coisa que eles estão falando é para ficar na casa de vizinhos, mas está todo mundo nessa situação. Cortaram a nossa água. Como vamos viver aqui sem água? ”, questiona a mulher.
As queixas da cabeleireira Cristiamara Cardoso, que mora na Vila Bernadete há 10 anos, são parecidas. “Na minha casa não aconteceu nada. O moço da Defesa Civil disse que aparentemente não tem nenhum risco. Só que já desabou o (barranco do) fundo. A insegurança é muito grande. Moro com minhas duas filhas adolescentes. Estou na casa da minha tia, que mora aqui também, mas não consigo ter paz”, contou a mulher.
Família dividida
Keila de Almeida, de 34, perdeu a casa quase que inteira. Só sobrou o quarto dos filhos, o que permitiu que pelo menos as roupas e pertences pessoais dos pequenos fossem preservados. Ainda assim, o sufoco vivido na sexta-feira permanece vívido no olhar inquieto de Keila, que ontem, com o marido Jonathan Vaz, recolhia o que pouco que sobrou de seus pertences. “Poucos minutos depois que eu saí, minha casa desmoronou. Virei a esquina e já gritaram avisando que o barranco tinha desmoronado. Agora, estou na casa de um parente, mas lá já está cheio de gente e meus filhos não cabem. Eles estão em Juatuba, com outra pessoa”, lamenta.
Ainda no Barreiro, a prefeitura comunicou que realizava ontem a limpeza do Córrego Bonsucesso, que cruza a regional. A Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) informou que está desde quinta-feira “de prontidão por ocasião das chuvas e atuando em todas as regiões da cidade”. Também ressaltou que “sempre que a chuva diminui de intensidade ou cessa, as equipes atuam desobstruindo vias, suprimindo e podando árvores, limpando bocas de lobo e fazendo estabilizações emergenciais de encostas com sacaria e lonas para evitar novos deslizamentos”. Perguntado sobre os custos das operações, Executivo municipal disse que “as estimativas estão sendo elaboradas”.
Interdições
A segunda-feira exigiu muita paciência do motorista de Belo Horizonte. Diante dos danos provocados pela chuva que caiu entre quinta e sexta-feira na Grande BH, ruas, avenidas e rodovias ainda sofrem interdições, o que provocou pontos de engarrafamento na cidade. Na Avenida dos Andradas, nas proximidades da Área Hospitalar, entre a Avenida Francisco Sales e Alameda Ezequiel Dias, uma faixa de cada sentido permanecia fechada. O local estava sinalizado, mas houve filas de carros em momentos de maior tráfego. Ainda na Região Central, houve bloqueios em duas ruas: Ouro Preto, entre a Avenida Amazonas e a Rua dos Aimorés, e Padre Rolim. Nessa última, um galho ocupava uma faixa na altura do número 787. Há interdições em trechos de rodovias.
Muito atingida pela chuva na última semana, a Avenida Tereza Cristina também continuava bloqueada. Segundo a BHTrans, todos os pontos críticos foram sinalizados, mas a via só estava liberada a partir do Anel Rodoviário no sentido Centro e até o Bairro Dom João VI no sentido contrário. Na Rua Amanda, no Bairro Betânia, Região Oeste de BH, apenas o trânsito local era permitido. No mesmo território da cidade, a Rua Cândido de Souza, no Gameleira, operava apenas em meia faixa. A Rua Fernando Esquerdo, 35 (próximo ao Colégio Santo Agostinho), no Gutierrez, também apresentava limitações.
Houve interdições, ainda, nas regiões Centro-Sul, Leste, Pampulha, Norte, Venda Nova e Nordeste. Nessa última, a Avenida Cristiano Machado estava fechada na altura do número 1.125, no Bairro Graça. No Fernão Dias, ainda na Região Nordeste, a Avenida José Cândido da Silveira tinha uma faixa bloqueada em cada um dos sentidos.
O motorista de Belo Horizonte teve que pisar no freio, principalmente, em duas rodovias que passam pela cidade: a BR-356 e o Anel Rodoviário. Na primeira, vários barrancos deslizaram no sentido Savassi: ao lado de um posto de combustíveis, na altura do Bairro Belvedere, havia interdição da faixa da direita. Ainda na BR-356, quem estava no sentido Lagoa dos Ingleses e queria retornar para acessar a MG-030 rumo a Nova Lima precisava de muita atenção: um barranco cedeu na pista de acesso à rodovia. Marca de pneus no local mostravam que alguns motoristas arriscaram avançar sobre a lama ali despejada, mas o ideal mesmo era evitar esse retorno e optar por fazer o “balão” na altura do BH Shopping.
No Anel Rodoviário, o problema maior está no Km 542, na altura do Bairro Olhos D'Água, Região Oeste de Belo Horizonte, e deve durar por muitos dias. Uma viatura da Via 040, concessionária responsável pelo trecho, estava posicionada no sentido Rio de Janeiro para bloquear a faixa da direita, pois o local está sem equipamento lateral de proteção, o que poderia trazer riscos aos motoristas.
Já no sentido Vitória, no mesmo Km 542 do Anel, dois barrancos desmoronaram na faixa da direita, que está fechada por pouco menos de um quilômetro. Segundo a Via 040, as intervenções incluem a recomposição da estrutura de contenção da encosta no sentido Vitória, e a estabilização da lateral direita da pista do sentido Rio de Janeiro. A previsão de duração dos trabalhos é de 45 dias. A empresa também cadastrou alertas para os usuários do aplicativo Waze e vai informar as condições de tráfego por painéis eletrônicos na via e por seus canais de comunicação.