Jornal Estado de Minas

Repórter no Bairro São Bento: 'Foram três horas de pânico'

(foto: Soraia Piva/EM/D.A. Press)
Por volta das 20h, estava na Academia Alta Energia, na Rua Michel Jeha, no Bairro São Bento, terminava um treino, quando começou a chover. Olhei pela janela e a água subia rapidamente. Em cinco minutos a água estava a meio metro dentro da academia e, na rua, já encobria os carros. As esteiras, mesas e computadores estavam debaixo d'água. A enxurrada ganhava força suficiente para arrastar os carros estacionados. Neste momento, um de nossos professores tentou retirar o carro que  estava ilhado em frente à academia. 


 
Ele entrou no veículo que também foi arrastado. Foram minutos de desespero para quem estava na academia e via o carro ser arrastado. Cerca de cem metros para frente, ele conseguiu sair e ficar no capô do veículo, pulou na grama da praça e conseguiu escapar. A chuva não diminuía. Vi um carro descer da Bento Simão, bater no semáforo, que caiu e foi arrastado pela água. A chuva deu uma trégua e a água barrenta começou a baixar. Quando pensamos que haveria uma trégua,  teve início outra tempestade e a enxurrada veio com mais intensidade. Nesse momento, éramos cerca de 30 pessoas. 
 
Subimos para o segundo piso da academia. O primeiro andar estava inundado.A chuva forte durou mais uma hora. Da janela do segundo piso, conseguíamos avistar um ônibus da linha 8103, que desavisado,seguiu pela Avenida Arthur Bernardes e ficou ilhado. Havia muitos passageiros. Os bombeiros chegaram ao local. A chuva se mantinha intensa. Uma de nossas colegas ligou para os bombeiros para dizer que estávamos ilhados. Quando estiou, resolvi ir embora. Temia outra tempestade. Minha casa fica a 500 metros da academia. O melhor era seguir a pé. Ao descer a Artur Bernardes assustei ao ver a lagoa da Barragem Santa Lúcia com um nível de água que ultrapassava todas as bordas. 
 
A água transbordou e inundou as ruas no entorno, inclusive parte da Arthur Bernardes. Não era possível ter acesso à minha rua, a Engenheiro Zoroastro Torres, então desci pela Avenida Prudente de Morais com muito medo que voltasse a chover e a avenida mais uma vez se transformasse em um rio. Uma das ruas paralelas estava tomada de água, os carros submersos boiavam. Só havia uma entrada para a minha rua, mas o nível da água ainda estava alto. Fiquei esperando alguns minutos, quando a água cedeu, era possível ver a avenida Prudente de Morais destruída. 
 
O asfalto despregou do chão, muita lama, galhos de árvores deixavam o local irreconhecível. Tudo destruído e eu sem saber se esperava ou se seguia. Tive ajuda de um homem, que viu meu desespero. Ele me ajudou a atravessar o local ainda alagado. A chuva voltou e só me vinha à mente que a Avenida Prudente de Morais podia a qualquer momento se transformar num rio. Afinal, ali passa o Córrego do Leitão que foi canalizado. Nunca vi chuva com tamanha intensidade. Foram três horas de pânico.