A cena chamou atenção dos moradores de Santo Hipólito, na Região Central do estado: na tarde dessa terça-feira, uma jiboia subiu no galho alto de uma goiabeira, tentando escapar da enchente do Rio das Velhas. O fato revela que as inundações provocadas pela intensidade das chuvas, além dos inúmeros transtornos e problemas para as cidades atingidas, como se verificou em Minas nos últimos, também trazem conseqüências ruins para a fauna silvestre.
“As enchentes acarretam diversos impactos para os animais silvestres, principalmente a morte de muitas espécies ou o ilhamento. Muitos ninhos e tocas com ovos ou filhotes são inundados. Isso faz parte do ciclo natural, mas com a degradação e diminuição das áreas de refúgio, os problemas e danos são cada vez maiores”, afirma o ambientalista Eduardo Gomes, da Organização Não-Governamental (ONG) Instituto Grande Sertão (IGS), de Montes Claros.
Ele salienta que, quando a água sai do leito dos rios e invadi vazantes e outras áreas, como ocorreu com o Rio das Velhas em Santo Hipólito, há uma completa alteração na vida das espécies silvestres, que são obrigadas a deixarem o “habitat” e se migrarem para outros pontos mais seguros. “Os animais são forçados a se deslocar, quando não são pegos de surpresa”, assegura Gomes.
O ambientalista ressalta que a migração nos episódios de inundação é “mais fácil” para as aves. Porém, sozinhas, elas não conseguem salvar os ninhos e ovos.
Eduardo Gomes lembra que no caso das serpentes, como a jibóia, que buscou refúgio no pé de goiaba as margens do Rio das Velhas em Santo Hipólito, “subir em árvores é uma saída natural. Mas, as jibóias também são boas nadadoras, como a maioria das cobras”, assegura o diretor do Instituto Grande Sertão.
Por outro lado, o ambientalista, lembra que as inundações também acarretam mais riscos de acidentes com animais peçonhentos, que são “desalojados” pela água. Por isso, ele alerta que durante as enchentes, os moradores ribeirinhos devem tomar cuidados para evitar acidentes, principalmente, com as cobras, “que ficam mais estressadas”.
Eduardo Gomes recomenda aos ribeirinhos adotar cuidados como evitar a circulação pelo mato e caminhar em áreas com o chão coberto pela água com os pés descalços e mãos desprotegidas. Ele ressalta que no periodo das chuvas, muitos animais “são arrastados” para o entulho e para dentro das casas. Além disso, “quando as cheias atingem os telhados das casas, muitos animais, principalmente, cobras, ficam alojados no madeiramento”, observa.
O Rio das Velhas, que estava cheio, teve o seu volume aumentado mais ainda depois das fortes chuvas que causaram estragos em Belo Horizonte na noite de terça-feira, atingindo as cidades banhadas pelo manancial, afluente do São Francisco. Os ribeirões Arrudas e Onça, que cortam a Capital, deságuam no Velhas.
Em Santo Hipólito, de acordo com o boletim do Serviço Meteorológico do Brasil (CPRM), o Rio das Velhas subiu nove metros acima do nível normal no final da noite de terça-feira, com tendência de subir mais ainda nesta quarta-feira, por conta dos temporais.
Doações para animais domésticos
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad) e a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) iniciaram nesta quarta-feira, uma campanha de doações para cães e gatos atingidos pelo grande volume de chuvas no estado. Os donativos estão sendo recebidos nas cidades que decretaram estado de calamidade pública ou emergência por causa dos temporais.
A campanha é coordenada no Núcleo de Fauna da Semad e visa arrecadar produtos que podem auxiliar na alimentação e nos cuidados dos animais atingidos. A coordenadora de fauna e pesca da Semad, Samylla Mol, explica que as doações podem ser entregues nas Superintendências Regionais de Meio Ambiente (Suprams) de Minas Gerais e nos Batalhões da Polícia Militar em todo o estado.
“A princípio estamos priorizando recolher ração e patês para cães e gatos, material de limpeza animal, vasilhames para alimentação, cobertores, toalhas, caixa de areia para gatos e caixas de transporte e coleira”, afirma Samylla. Segundo ela, não há necessidade, inicialmente, de doação de medicamentos veterinários.
Segundo a coordenadora, desde dezembro de 2019, está estabelecido que cabe à secretaria a tutela da fauna doméstica em Minas, de forma inovadora e sem precedentes no país. “O animal doméstico está presente na maioria dos lares brasileiros. Quando uma situação de desastre atinge uma cidade, não só os lares e as pessoas, mas também os animais são atingidos. A ideia do Estado é desenvolver essa ação em favor da fauna doméstica”, destaca Samylla.