O título pode parecer um chavão jornalístico. Mas é a expressão que melhor retrata o cenário encontrado no luxuoso Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. O Córrego do Leitão, que vem canalizado desde a Avenida Prudente de Moraes, voltou ao seu leito normal na noite de terça-feira e deixou um rastro de destruição por onde passou.
Os reflexos chegaram ao Centro da cidade, no entorno do Mercado Central. Logo pela manhã, percorri o caminho feito pela água do bairro ao Hipercentro e acompanhei a incredulidade das pessoas, que caminhavam lentamente nas ruas destruídas de um dos endereços mais nobres da cidade, e o esforço de comerciantes, funcionários e moradores para limpar o lamaçal deixado pela enchente.
A água que veio desde o fim da avenida que corta o Cidade Jardim arrastou carros, derrubou árvores, invadiu postos de gasolina, lojas, prédios e destruiu ruas.
Na Marília de Dirceu, a sensação é de que uma bomba tinha sido lançada na rua. O asfalto ruiu, abrindo verdadeiras crateras. Restaurantes, bares, agências bancárias, antiquários, farmácias, banca de jornal, pastelaria, lojas de roupa, posto de gasolina, supermercado, sacolão, salões de beleza e barbearias, delicatéssen, padaria, sorveteria, garagens e portarias de prédios, floricultura, agência de turismo, papelaria, escritórios... Nada escapou da fúria da água.
Sobre os passeios eram dezenas de carros, que desceram desde a Rua Marília de Dirceu, passando pelas ruas Curitiba e Bárbara Heliodora até chegar à Rua São Paulo, e pararam em postes ou muros.
Calçadas inteiras foram arrancadas e pelas ruas ficou o que sobrou. O prejuízo de comerciantes e moradores é incalculável neste momento. Mas é certo que essa parte do bairro terá de ser reconstruída. Um dos cantos mais charmosos – e caros – da cidade está arrasado.
Cresci no Centro da capital mineira, onde também não me lembro de ver tanta água no entorno do Mercado Central, estudei no Cidade Jardim por oito anos, morei mais de 15 no Lourdes e nunca cogitei de que algo parecido pudesse ocorrer ali. Vi diversas vezes a Prudente de Moraes encher. Mas no coração de Lourdes, e com essa violência, era inimaginável pra mim.
A banca de jornais pela qual passava sempre aos domingos virou ferro retorcido. Mais à frente, garagens de prédios foram tomadas pela lama e, com bombas, a água era retirada de dentro dos edifícios. Funcionários de famosos restaurantes colocavam mesas e cadeiras nos passeios para limpar o lamaçal que ficou dentro das lojas.
Uma padaria que foi totalmente alagada na Rua Bárbara Heliodora trabalhou rápido, e por volta das 9h30 já estava funcionando. Do outro lado da rua, em frente ao restaurante Gluton, dois carros empilhados. Poucos metros depois, próximo ao restaurante Osso – que também sofreu com a lama –, um grande buraco se abriu.
Um freezer do posto da gasolina que fica na Rua Curitiba esquina com Bárbara Heliodora foi parar na Rua São Paulo, depois da Avenida Álvares Cabral. Catadores de material de reciclagem tiraram toda a parte de metal dele e levaram, deixando só a lã de vidro para trás.
Na mesma Rua São Paulo, a garagem da Drogaria Araújo ficou totalmente alagada. Quase ao lado, a doca do supermercado Supernosso também foi atingida.
Comerciantes da Avenida do Contorno, entre as ruas Marília de Dirceu e Santa Catarina, da mesma forma, sofreram com as águas. Todas as lojas do quarteirão foram inundadas.
Já no meio da manhã, verdadeiro comboio de caminhões estava a postos para começar a retirada dos escombros na Rua Marília de Dirceu. Militares do Corpo de Bombeiros também trabalhavam no local, ajudando a recolher árvores e verificando a situação do que sobrou da via. Agentes da BHTrans tentavam organizar o trânsito na região e as ruas, inclusive a Avenida do Contorno, pareciam que eram de terra, tamanha a poeira que subia quando os carros passavam. Um exército de garis tentava ajudar na limpeza por lá.
A reconstrução desse pedaço do Bairro de Lourdes é mais um dos vários problemas que o prefeito Alexandre Kalil terá pela frente. E esse ele verá todos os dias até que seja resolvido, já que é morador da Praça Marília de Dirceu.
Centro Seguindo pela Rua São Paulo em direção ao Centro, o rastro de lama continuou sendo visto, mas com menos impacto. A água atingiu o comércio dos dois lados da rua até a esquina com a Avenida Augusto de Lima.
E continuou pela Rua Padre Belchior, chegando à Rua Goitacazes, no Mercado Central. As lojas externas de um dos pontos turísticos mais conhecidos de BH sofreram com a enchente, assim como os estabelecimentos do outro lado da rua.
A água chegou também à Avenida Amazonas, entre as ruas Padre Belchior e Santa Catarina. E na Tupis, um rio se formou, com reflexos menores na Avenida Paraná e na Rua Guarani.