Jornal Estado de Minas

Saiba quais vias de BH continuam interditadas após temporal

Equipes trabalham para fechar cratera aberta na Avenida Tereza Cristina, ao lado do Ribeirão Arrudas (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)


Dois dias após o temporal que atingiu Belo Horizonte causando diversos danos, ainda há ruas e avenidas interditadas. Os estragos, desta vez, foram mais visíveis nos bairros Lourdes, e São Bento, na Região Centro-Sul, e no Buritis, na Oeste. A fúria incontrolável das águas transformou ruas em rios caudalosos, fez boiar mesas de restaurantes sofisticados, lançou carros sobre as ondas de cor marrom, arrancou placas de asfalto e abriu uma cratera gigantesca na Avenida Tereza Cristina, na Região Oeste, por onde passa o Ribeirão Arrudas.



 
A BHTrans usa as redes sociais para atualizar as informações. Na manhã desta quinta-feira, a empresa de trÂnsito informa que há 22 locais com registro de ocorrências em função das chuvas geram impacto em 57 linhas do transporte coletivo.

(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)


Uma das situações mais graves é na Avenida Tereza Cristina. Já danificada pelos alagamentos do Ribeirão Arrudas no início do mês, a via que liga a capital mineira a Contagem agora tem uma cratera. O buraco se abriu durante o temporal de terça-feira após o Viaduto Amazonas, no sentido Bairro-Centro. A abertura está ao lado do ribeirão, que teve parte a parede destruída. 

Às 6h34, a BHTrans informou que sentido bairro – da Amazonas até a Dom João VI – a via está liberada para o tráfego com trânsito lento devido às condições da via. A partir da Dom João VI até a Rua Amanda - trânsito local. Da Rua Amanda até o Anel Rodoviário, interditada. Já sentindo Centro, a autarquia informou que a via está  interditada do Anel até a Rua Minas Gás. A partir da Rua Minas Gás até a Rua Monte Branco, liberada para tráfego, porém em condições precárias. A partir da Rua Monte Branco até a Avenida Amazonas, interditada.




Também estão fechadas: BR 356 – sentido BH Shopping/Savassi, a  Avenida Prudente de Morais entre Rua Santa Madalena Sófia e Rua Irai, no Bairro São Bento, na Região Centro-Sul,  a Rua São Paulo entre Rua Felipe dos Santos e Rua Gonçalves Dias, no Bairro Lourdes,  na mesma região.

A região da Praça Marília de Dirceu foi muito danificada pela enxurrada que arrastou carros e arrancou pedaços de asfalto. Entretanto, a BHTrans informou às 7h54 que está liberada a travessia da Rua Felipe dos Santos com Rua Marília de Dirceu. Uma reparação provisória foi feita no local.

A fúria (e o que fazer agora)



O prefeito Alexandre Kalil pediu paciência. Mas, para a população escaldada por dias seguidos de fortes chuvas, mortes e destruição, está difícil manter a calma, esconder o medo e pensar no amanhã. Belo Horizonte ainda está em choque com os efeitos do temporal da noite de terça-feira.


 
Diante do cenário de caos extremo, são muitos os desafios em BH: reconstrução de vias públicas, obras de bacias de contenção para frear os córregos que deságuam no Ribeirão Arrudas, redução das áreas de risco geológico e, principalmente, harmonizar a questão ambiental ao crescimento urbano. Especialistas afirmam que a impermeabilização da cidade contribui para os estragos causados pelas enchentes, enquanto a voz de moradores já se levanta para pedir menos asfalto em áreas com calçamento de pedra pé de moleque.
 
Alguns números ajudam a entender melhor a intensidade da força das águas. De acordo com os meteorologistas, trata-se do janeiro mais chuvoso da história de BH, com registro, até agora, de 932,3 milímetros (mm) ou mais de 10 vezes o que choveu em janeiro de 2019 (88,6mm). No ano passado inteiro, o volume foi de 986mm. Os especialistas informam que, nas últimas décadas, o único volume próximo do que a capital recebeu até agora, neste começo de ano, foi em 1985, com a marca de 850mm. Apenas na Centro-Sul, na noite de terça-feira, choveu 183,4mm, das 19h50 às 22h20.
 
Para a faxina geral na cidade, a prefeitura dobrou o efetivo de trabalhadores – desde ontem, serão 2,5 mil pessoas se revezando até a madrugada em turnos ininterruptos. E todos os órgãos municipais estão de prontidão, como a Secretaria Municipal de Obras, Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), Defesa Civil, BHTrans, Guarda Municipal, Assistência Social e Saúde. O número de máquinas e equipamentos também foi reforçado para 226. Ontem, o prefeito disse que “ninguém esperava o tamanho da catástrofe que aconteceu em BH”, mas, confiante, acrescentou que “estamos acostumados com a guerra”.


 
Tem razão. Afinal, é líquido e certo que a cidade viveu uma praça de guerra, colocando no front prejuízos, carros à deriva, prédios invadidos pelas águas, avenidas interditadas e gritos de desespero. Certamente, ficará na memória dos belo-horizontinos as cenas de horror da noite de terça-feira, onde até o BH Shopping foi atingido, com desabamento de um teto de gesso, num golpe certeiro da tempestade. Uma advogada que estava no centro de compras, com filho e o marido, descreveu a situação com todas as letras do espanto e, no momento, como se estivesse num beco sem saída.
 
Já na Praça Marília de Dirceu, em Lourdes, bairro que tem o metro quadrado mais caro da capital, a dona de uma banca de revista resumiu sua história. “Quando cheguei hoje (ontem) cedo estava desse jeito”. O “desse jeito” quer dizer a perda de guloseimas, jornais, revistas, cigarros, máquina de cartão, chip de celular. Maria da Penha estima um prejuízo de R$ 60 mil só da estrutura da banca, sem contar os produtos que vende. Agora, é trabalhar dobrado para reconstruir o que, da noite para o dia, se perdeu.