Jornal Estado de Minas

Voluntários de outros países ajudam na limpeza do Mercado Central de BH



Durante o temporal da noite da terça-feira, uma imagem circulou pelas redes sociais e deixou muita gente alarmada. Vídeos mostravam o Mercado Central, um dos principais pontos turísticos de BH, praticamente ilhado. A impressão era de que a água havia invadidos as lojas. Mas, quando os portões se abriram, veio a constatação de que a água ficou apenas do lado de fora, no entorno do Mercado.





Assim, a preocupação foi com as lojas externas, principalmente as da Rua dos Goitacazes. Pela manhã foi dada a ordem para a lavagem do passeio em frente aos estabelecimentos. E, para tranquilizar os lojistas, o diretor financeiro José Agostinho Oliveira Quadros afirmou que estuda não cobrar aluguel daqueles que tiveram prejuízo de mercadorias.

Também diretor financeiro da instuição, Ném do Mercado tem a explicação para o fato de que, apesar da grande quantidade de água, os prejuízos não tenham sido tão grandes: a prevenção. “Em outubro passado, fizemos uma revisão completa do prédio. Só no telhado (16 mil metros quadrados), foram trocados 75 mil parafusos e 120 mil arrebites. No balanço final, haviam apenas quatro goteiras. Esse é um trabalho que sempre fazemos.”

Blog AuQueMia: Enjaulados, animais do Mercado Central podem ser as próximas vítimas das enchentes

Já a situação fora do Mercado foi bem diferente. Nas lojas da Rua Curitiba, por exemplo, os prejuízos ainda não haviam sido contabilizados, mas foram grandes, de acordo com os comerciantes, que passaram o dia limpando seus estabelecimentos. Mas o mesmo espaço que foi palco de lamentações também se mostrou um grande exemplo de solidariedade.





Três estrangeiros, a porto-riquenha Nori Ortiz, de 26 anos, a norte-americana Jacqueline Daniel, de 26; a chinesa Jocelyn Li, de 25, e um brasileiro, o paulista Matheus Barros, de 21, integrantes do programa Jovens com uma missão (Jocum), surpreenderam ao aparecer no local para ajudar.

“Recebemos mensagens nas redes sociais sobre o que havia acontecido. Conversamos e decidimos vir para cá, só para ajudar. Essas pessoas precisam de toda a ajuda que puder vir. Perderam muita coisa. As lojas precisam ser limpas e estamos aqui para isso”, conta Ortiz. Eles chegaram ao local por volta de 11h e foram direto pegando em rodos, baldes e ajudando na limpeza.



Anderson Oliveira da Silva, de 43 anos, um dos proprietários da loja atingida pelas águas, disse ter ficado surpreso. “Aceitei na hora. Toda ajuda é bem-vinda. Mas não é uma situação que se vê muito entre brasileiros. Sem dúvida, um exemplo.” Segundo ele, a água subiu cerca de 40 centímetros. “Grande parte da mercadoria se perdeu, quebrou, pratos, travessas, louças.” Tudo o que estava sujo ou quebrado foi sendo colocado no passeio, em frente a loja, por funcionários e pelos voluntários inesperados.





Com Anderson estava Isaac Jorge Vilela, de 41, um ambulante, que conta ter crescido naquele espaço: “sou vendedor, assim como meus irmãos; foi aqui que crescemos, trabalhando, e olha, nunca vi nada igual ao que aconteceu aqui ontem”. Anderson conta que em 1989 enfrentou problemas em uma das lojas do grupo, mas por conta de um a enchente do Rio Arrudas. “Nossa loja aqui tem 15 anos e é a primeira vez que isso acontece.”

Nas lojas vizinhas, mais desolação. Eram meio-dia e a maioria ainda não havia começado a funcionar. “Demoramos quatro horas para limpar. Tudo aqui dentro era lama”, conta a manicure Raiane Santos, de 22. Ao lado dela, o barbeiro Diego Alves, de 32, contava que previa o pior quando fecharam o salão, na noite de terça. “Estávamos saindo daqui, quando começou a chover, forte. Torcia para que nada acontecesse. Mas pouco depois de chegar em casa, vi as imagens do Mercado cercado de água. Pensei o pior. Viemos bem cedo pra cá. E, ao chegar, nos deparamos com um cenário apavorante.”



Na esquina, dois garis trabalham para a remoção a lama de pedras, que ninguém sabe explicar de onde vieram. Segundo eles, somente naquela esquina foram retirados dois caminhões basculante de entulhos e rejeitos.

Mendelson de Barros Andrade, de 60, um dos sócios de uma loja que vende material e equipamento para eletricistas, marceneiros e obras em geral, falava que não compreendia de onde tinha vindo tanta lama. “Normalmente vemos o pessoal da prefeitura fazendo a limpeza de bueiros, mas dessa vez foi muita água que caiu. Só não entendo a lama.”




audima