Equipes da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) começaram a retirada das vigas de sustentação no Ribeirão Arrudas que foram arrastadas pela correnteza na chuva que castigou Belo Horizonte no último fim de semana. As primeiras duas vigas, de um total de cinco, foram arrancadas na Avenida dos Andradas próximo ao Parque Municipal e pararam no leito do ribeirão a dois quilômetros e meio de distância, Esplanada, Região Leste.
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Avenida dos Andradas é parcialmente interditada após queda de vigas no ArrudasMoradores de bairros afetados pelo "dilúvio" de terça cobram explicaçõesCidades do interior de Minas tentam se reerguer após enchentes e desabamentosVigas caem no Ribeirão ArrudasPraça Marília de Dirceu volta a receber trânsito de veículosFotos dos estragos da chuva no Bairro BuritisBombeiros encontram corpo da última vítima desaparecida após as chuvas em MinasDesde então, parte da Andradas está interditada. No começo desta semana, era a faixa da esquerda de cada sentido da avenida, ao lado da mureta de proteção da galeria. Hoje, a BHTrans informou que duas faixas estavam interditadas em frente a sede da Guarda Municipal de Belo Horizonte. Depois da ponte da Alameda Ezequiel Dias (liberada), a interdição ocorre em uma faixa de cada sentido.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Sudecap informou que uma equipe vistoria o local nesta manhã para avaliar se as vigas poderão ser aproveitadas. Cada peça pesa aproximadamente 30 toneladas. Ainda não há previsão para o término dos trabalhos.
Desvios e medo de temporal
Limpeza da cidade e desobstrução de vias: essas são as prioridades da Prefeitura de Belo Horizonte para que a capital mineira minimize, neste primeiro momento, os danos provocados pelas chuvas de janeiro. Enquanto o período de cheias se prolonga até março, o Executivo municipal ainda não fala sobre obras, justamente pela impossibilidade técnica de realizá-las, e tem apenas um temor: novas tempestades como a de terça, que provocou danos sobretudo na Região Centro-Sul. Ainda assim, aos poucos, vias que cercam BH são liberadas total ou parcialmente. Ontem, as avenidas Cônsul Antônio Cadar, Prudente de Morais e a BR-356 foram desbloqueadas, o que ajudou a desatar o nó dado no trânsito de veículos no início da semana. No entanto, a Via 240 e as avenidas do Canal (Barreiro), Engenheiro Carlos Goulart (Oeste) e dos Andradas (Leste) continuam fechadas. O mesmo vale para a Tereza Cristina (Oeste), onde uma cratera se abriu e ainda passa por reparos das equipes da PBH.
Ontem, durante todo o dia, a BHTrans usa as redes sociais para atualizar as informações acerca do trânsito da cidade. Logo na manhã, a empresa pública informou que 22 locais com registro de ocorrências em função das chuvas geravam impacto em 57 linhas do transporte coletivo. Contudo, esse número diminuiu no decorrer da quinta-feira com a liberação de algumas vias. Porém, o bloqueio permaneceu na Avenida do Canal, o que forçou os veículos a passarem pela Rua Cabo Valério Santos, no Barreiro. O desvio prejudicou nove linhas de ônibus.
Na Região Oeste, o fechamento da Avenida Engenheiro Carlos Goulart, entre os bairros Estoril e Buritis, atrapalhou a circulação das linhas 5201 e SE02. Na mesma região, uma das situações mais graves é na Avenida Tereza Cristina. A via que liga a capital mineira a Contagem agora tem uma cratera. O buraco se abriu durante o temporal de terça-feira após o Viaduto Amazonas, no sentido Bairro-Centro. Ontem, equipes da PBH estavam no local, mas não há previsão de liberação.
Quanto ao trânsito na Tereza Cristina, a BHTrans informou que no sentido bairro – da Amazonas até a Dom João VI – a via está liberada para o tráfego com trânsito lento. A partir da Dom João VI até a Rua Amanda – trânsito local. Da Rua Amanda até o Anel Rodoviário, interditada. Já sentindo no Centro, a empresa informou que a via está interditada do Anel até a Rua Minasgás. De lá até a Rua Monte Branco, liberada para tráfego, porém em condições precárias. A partir da Rua Monte Branco até a Rua Alpes, interditada.
A Via 240, na altura da Estação São Gabriel, conforme a BHTrans, está com uma faixa liberada no sentido Belo Santa Luzia. A sugestão é utilizar as avenidas Cristiano Machado e Saramenha. Existe a possibilidade de fechamento de toda via para manutenção nos próximos dias.
Receio e prejuízo
No entorno da Praça Marília de Dirceu, no Bairro Lourdes, o cenário já é de mudança. Equipes da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), da Copasa, da BHTrans e da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) fizeram a limpeza do local e desobstruíram a rua que dá nome à praça para a circulação de veículos.
A área foi uma das mais atingidas durante a chuva registrada na noite de terça-feira. O asfalto foi completamente destruído e arrancado pela força da água e vários buracos abriram ao longo da rua. As agências bancárias que foram atingidas ainda não estão funcionando. Os estabelecimentos comerciais, localizados na redondeza, retomam aos poucos a rotina.
Flávia Bahia, de 55 anos, sócia e proprietária da Pastelaria Marília de Dirceu, contou que os moradores do bairro não estavam preparados. Ela afirma que a Defesa Civil não os alertou sobre o risco iminente de alagamento do Córrego do Leitão. “Perdemos só bens materiais aqui na pastelaria. Equipamentos, maquinário, computadores, documentos, a parte elétrica da loja e três carros de entrega que estavam parados na rua. Ainda não foi possível calcular o prejuízo”, lamentou Flávia. “O sentimento que fica é de tristeza profunda. São 28 anos de trabalho, para ver uma coisa assim acontecer com a gente. É muito doloroso”.
Residente do bairro há 40 anos, Fernando Jabu, de 50, conta que mesmo antes do temporal a rua não estava em plena condição de segurança. Ele cobrava o recapeamento da via, além de algumas mudanças nos tubulões de água do córrego que passam debaixo do asfalto. “O maior responsável pelo que ocorreu é o órgão público. O governo só sabe cobrar impostos e a gente fica refém da situação”, disse o morador. “Fui afetado diretamente. Meu psicológico está acabado. Na próxima chuva que der, não vou saber o que fazer”, completou. *Estagiário sob supervisão do subeditor Rafael Alves