O retorno às aulas nas escolas particulares, na próxima semana, será uma prova de fogo para o trânsito de Belo Horizonte e a estrutura viária comprometida, especialmente nas regiões Centro-Sul, Oeste e Barreiro, após o temporal de terça-feira. Para as vans e os veículos particulares voltarem a circular, a prefeitura corre contra o tempo a fim de desobstruir vias públicas tomadas pela lama, limpar bueiros, retirar entulho e deixar a as áreas mais atingidas em condições de tráfego. Apenas na capital, estarão de volta 150,6 mil estudantes de 812 escolas, do ensino infantil ao médio, informa o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep), com base no Censo Escolar 2018/Inep/MEC. Em Minas, serão 649,8 mil alunos de 3,8 mil escolas.
Por meio de uma nota, o Sinep deu autonomia às escolas da capital para definir a data de retorno, desde que cumpram os 200 dias letivos. “Até agora, a única instituição que se manifestou foi o Colégio Batista, unidade do Buritis (Região Oeste), que não tem a mínima condição de retomar as atividades na segunda. Eles prorrogaram a volta às aulas para 10 de fevereiro”, informa a presidente do sindicato, Zuleica Reis Ávila. “As escolas particulares têm um programa e um currículo a serem cumpridos rigorosamente. São cobradas por isso, e a fiscalização é rigorosa.”
Zuleica explicou que, em função das chuvas, há muitas vias públicas com lugares interditados. “Algumas ainda estão com várias máquinas e tratores. Com o aumento do fluxo de veículos, a tendência é piorar ainda mais. Nossa intenção é não tumultuar ainda mais a situação. Por isso o sindicato pediu que as próprias escolas avaliassem. Não queremos transformar a volta às aulas em mais um problema para a cidade, neste momento. O Buritis, por exemplo, está em situação caótica. O trânsito já era um dificultador, imagine agora”, disse a presidente.
FLUXO A unidade do Colégio Batista no Bairro Buritis (Rua Pedro Laborne Tavares), na Região Oeste, foi bastante “prejudicada pelas chuvas”, diz o diretor-geral, Valseni Braga. “Já adiamos a volta às aulas e avisamos as famílias. E a comunidade escolar recebeu bem o adiamento, porque todos viram que não é um problema da escola”, acrescentou. No primeiro temporal (23 de fevereiro), conta Valseni, “a região da escola foi inundada e a gente limpou, com o apoio da prefeitura. Na terça-feira passada, inundou de novo. E as fortes chuvas ainda acabaram atrasando as obras de melhoria que estávamos fazendo na escola”.
O diretor-geral explicou que a intenção é colaborar para não causar mais problemas ao trânsito, pois alguns pais teriam dificuldade em chegar à escola. “Assim, resolvemos dar mais uma semana de 'folga', e isso não terá um impacto tão grande. As aulas serão repostas, o calendário será refeito e comunicamos as famílias. Vamos usar dias não letivos, talvez alguns sábados.”
Já a escola do Sesi-Goba, na Região do Barreiro, abre as portas aos 630 alunos, de 6 a 15 anos, na próxima segunda-feira. O gerente Albert Martins informa que, embora não tenha havido danos ao prédio, o acesso ficará prejudicado com os estragos na Avenida Tereza Cristina, na Região Oeste da capital. Mesmo com o problema principal na via tendo sido solucionado ontem – uma cratera que se abriu na altura do Bairro Nova Suíça –, ainda há muitos danos ao longo da avenida. “Sentimos, aqui, os impactos no trânsito.”
HISTÓRIAS CRUZADAS Nesses dias “pós-dilúvio”, cada belo-horizontino tem seu relato. “Devido à queda de um muro próximo, que acabou atingindo os postes e derrubando a fiação, ficamos sem energia da noite de terça a quinta-feira. Mas isso não afetará a retomada das aulas. Como estamos localizados em uma parte mais alta da rua, não fomos atingidos pela inundação, nem acumulou muito barro em nossa porta. Talvez alguns pais possam ter apenas certo transtorno para chegar à escola, já que algumas vias, aqui no Buritis, estão interditadas”, afirma o diretor financeiro da Escola Athena (Rua Pedro Laborne Tavares, no Buritis), Pedro Santana.
Moradora do Barreiro, região muito castigada na terça-feira, a auxiliar administrativa do Colégio Maria Clara Machado, na região, diz que as aulas serão retomadas normalmente. “Na região da Avenida Raja Gabaglia, houve estragos, como a queda do muro do Hospital Madre Teresa, mas aqui na nossa escola não tivemos problema. Assim, as aulas serão retomadas normalmente. Nossa preocupação é outra: nós, que trabalhamos longe, estamos sofrendo muito, principalmente com os desvios de trânsito. Fica tudo mais lento. A gente demora um pouco mais, mas chega. É contar com a compreensão de todos. Tomara que resolvam isso rapidamente.”
Para os motoristas de transporte escolar, será mesmo uma prova de fogo. “Sou motorista de van escolar há 10 anos, e confesso que será o retorno mais complicado”, afirma o condutor Eduardo Pereira de Paula. “Depois da chuva de terça-feira, a cidade ficou um caos, com muitos buracos nas ruas. Com o tempo, vai melhorar, mas, nesta primeira semana, teremos ainda os pais que gostam de levar os filhos à aula e parar em fila dupla”, diz Eduardo.
Férias ampliadas
Na rede pública estadual, as aulas retornam no dia 10, mas, nas escolas públicas municipais, a data ainda está indefinida. A novidade é que o recesso dos professores e demais funcionários foi prolongado até dia 9. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, devido à instabilidade causada pelas chuvas, o recomeço pode ser até mais tarde.