Termina na sexta-feira o prazo para que consumidores que ainda têm garrafas de cervejas da Backer as entreguem às autoridades. A data foi estipulada pelas vigilâncias sanitárias de Minas e municipais e pelos Procons, considerando que “já transcorreu prazo suficiente para a adoção dessa medida”, informa boletim da Secretaria de Estado de Saúde sobre a intoxicação por dietilenoglicol.
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A comercialização e distribuição das cervejas da Backer estão suspensas em todo o território nacional uma vez que a Anvisa determinou a interdição cautelar de todas os rótulos da marca e lotes com data de validade igual ou posterior a agosto de 2020.
Trinta e três dias de inquérito policial
Aberto em 9 de janeiro, o inquérito da Polícia Civil de Minas Gerais para investigar o caso já dura 33 dias. Em 13 de janeiro, a corporação confirmou que a perícia encontrou monoetilenoglicol e dietilenoglicol em elementos da produção da cerveja, em pontos de venda da bebida e também em garrafas (lacradas) que estavam em posse de consumidores. A perícia constatou mono e dietilenoglicol no tanque de Chiller, equipamento usado na refrigeração da bebida em uma das etapas de produção.
Na ocasião, os delegados responsáveis pelo caso disseram que ainda não era possível afirmar se foi um erro ou sabotagem. As garrafas recolhidas na indústria foram enviadas a laboratório em Brasília, que atestou que os recipientes estavam lacrados e descartaram violação. Somente depois desse teste, as garrafas foram analisados pela perícia técnica da PC, com a constatação dos dois agentes químicos na bebida. Um delas tinha o rótulo “Capixaba”, que é a variação da marca distribuída para o Espírito Santo.
A Polícia Civil também cumpriu mandados de busca e apreensão na empresa que seria a fornecedora de monoetileglicol da cervejaria Backer. O galpão fica em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). A operação foi motivada por uma denúncia de que houve fraude e adulteração nos produtos na empresa Imperquímica . De acordo com a polícia, amostras colhidas nas duas empresas continuam em análise.
Em 27 de janeiro, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) colheu os três últimos de uma série de 24 depoimentos de vítimas e familiares, na 4ª Delegacia de Polícia Civil Barreiro, localizada no bairro Estoril, região Oeste da capital. O objetivo é entender sobre os acontecimentos que antecederam à intoxicação. As amostras recolhidas tanto na cervejaria, quanto da empresa química que vendia o monoetilenoglicol, continuam sendo analisadas pelas equipes de peritos do Instituto de Criminalística de forma criteriosa. Mas, ainda não há previsão para a conclusão dos laudos.
Sobre a possibilidade de novas vítimas: o cidadão que tenha consumido o produto e se sinta prejudicado com a ingestão da bebida pode registrar um boletim de ocorrência, com o maior nível de detalhamento possível, em qualquer unidade policial. Esse registro será apurado durante o trabalho investigativo, bem como verificada a viabilidade de inclusão de eventual vítima no inquérito policial.
Sobe para seis o número de mortes associadas a cerveja
Mais duas pessoas morreram, elevando para seis o número de óbitos em decorrência de síndrome nefroneural associada a intoxicação por dietilenoglicol, informou boletim da Secretaria de Estado de Saúde (SES) divulgado no início da noite de ontem. O boletim não cita os nomes dos pacientes que faleceram, mas o Hospital Madre Teresa, no Bairro Gutierrez, Região Oeste da capital mineira, confirmou que um deles é João Roberto Borges, de 74 anos, juiz titular da 28ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte. O juiz estava internado desde 12 de janeiro e morreu na madrugada de ontem. O outro óbito ocorreu no dia 1º, segundo os dados da SES, que revelam apenas que se trata de um homem. Força-tarefa de autoridades da saúde, sanitárias e policiais investigam casos suspeitos da intoxicação e sua ligação com o consumo da cerveja Belorizontina, da Backer.
Pela manhã, a Polícia Civil divulgou, sem informar o nome, que o paciente que morreu ontem era um dos listados no inquérito como casos suspeitos de contaminação por dietilenogligol e que o corpo foi levado ao Instituto Médico-Legal (IML), para exame de necropsia.
Testes realizados pela Polícia Civil e Ministério da Agricultura e até mesmo por um químico contratado pela própria empresa já apontaram a presença da substância, que Backer nega usar, em garrafas da Belorizontina e de outros rótulos da marca. Dietilenoglicol e monoetilenoglicol foram encontrados inclusive em tanque de água usada na composição das cervejas. Sobre o monoetilenoglicol, também tóxico, a empresa afirma usá-la exclusivamente em tanques de refrigeração e serpentinas na fase de fermentação da cerveja, que seriam isolados do produto.
Até ontem, foram notificados à SES 30 casos suspeitos de intoxicação exógena por dietilenoglicol, sendo 26 homens e quatro mulheres (veja quadro). Quatro casos – incluindo o de um dos pacientes que morreram – foram confirmados por meio de exames e os 26 restantes continuam sob investigação, uma vez que apresentaram sinais e sintomas compatíveis com o quadro de intoxicação por dietilenoglicol e com relato de exposição à Belorizontina.
O quadro de intoxicação é grave e produz alterações da função renal, sinais e sintomas neurológicos, como paralisia facial, borramento visual, alterações sensoriais, paralisia descendente e crise convulsiva.
Além das mortes informadas no novo boletim da SES, outros três homens e uma mulher faleceram em decorrência de síndrome nefroneural associada ao consumo da Belorizontina. São eles: um homem de Ubá que estava internado em hospital de Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira, e morreu em 7 de janeiro; dois homens que faleceram em Belo Horizonte nos dias 15 e 16 de janeiro; e uma mulher, em Pompéu, 28 de dezembro.
A maior parte dos casos, 22 no total, se concentra em Belo Horizonte. Mas a distribuição geográfica por município de residência do paciente inclui ainda registros em Capelinha, Nova Lima, Pompéu, Ribeirão das Neves, São João Del Rei, São Lourenço, Ubá e Viçosa.
Histórico
As investigações do caso pelas autoridades de saúde tiveram início na virada do ano, depois de a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e a mesma pasta do governo do estado terem sido notificadas, em 30 de dezembro, da ocorrência de um caso de paciente com insuficiência renal aguda e alterações neurológicas de etiologia a esclarecer, internado em hospital da rede privada de saúde do município de Belo Horizonte. Em 31 de dezembro, foi notificado um segundo caso com os mesmos sintomas, internado na Santa Casa de Juiz de Fora.
Nos primeiros dias de 2020, redes sociais ligavam o surgimento desses e de outros casos ao Bairro Buritis – onde vive ou por onde havia passado a maioria das vítimas até aquele momento. A partir daí, a saúde pública iniciou uma corrida para desvendar o que estava provocando a doença. Foram realizados exames laboratoriais, que excluíram uma série doenças transmissíveis.}
Ao mesmo tempo, as investigações iniciais realizadas pelas equipes da SMSA, SES e Ministério da Saúde (MS) indicaram que os pacientes notificados apresentaram os primeiros sintomas após ingerir a cerveja Belorizontina, da Backer. Os sintomas clínicos dos pacientes levantaram a hipótese de intoxicação exógena por dietilenoglicol. A presença da substância foi confirmada em amostras de cerveja coletadas nas casas de pacientes e encaminhadas pela Vigilância Sanitária do município de Belo Horizonte para a perícia da Polícia Civil. Exames realizados em amostras biológicas de quatro pacientes também detectaram a presença do mesmo composto químico. (Com Cristiane Silva e Esdras Moreira - TV Alterosa)