Jornal Estado de Minas

Danos da chuva em mais de 200 escolas deixam volta às aulas ainda incerta em BH



As escolas de Belo Horizonte não escaparam dos estragos causados pelo alto volume de chuvas que atingiu a capital mineira nos primeiros dias de 2020. Com a volta às aulas, a preocupação aumenta. Mais de 200 escolas sofreram danos diretos na estrutura física e ambiental, como queda de muros e árvores e alagamentos que levaram à perda de materiais escolares, além de deslizamentos em regiões que afetaram o acesso e até invadiram os espaços de educação. O fim das férias escolares, previsto para esta semana, foi adiado para o dia 10. Isso se o tempo permitir, pois, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SMED), caso a Defesa Civil de BH considere que as condições climáticas não são favoráveis para o retorno dos alunos, novos adiamentos poderão ocorrer.


A reportagem do Estado de Minas apurou estragos em algumas unidades. A Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Capivari, no Bairro Serra, Região Centro-Sul, foi interditada por causa de um desmoronamento. Na Emei Ipiranga, no Bairro Ipiranga, Região Nordeste, um barranco cedeu e a lama invadiu o prédio, atingindo materiais que estavam no depósito da escola. Ela também foi interditada. A Escola Municipal Eleonora Pieruccetti, no Bairro Cachoeirinha, na mesma região, foi afetada de várias formas. Nas partes mais baixas, houve alagamentos. Um dos muros caiu e outro tem risco de queda. O gesso do teto de uma das salas e uma árvore atrás da cantina também caíram.

O mês de janeiro teve chuva recorde na história de Belo Horizonte. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o volume de precipitação do período foi o maior em 112 anos, quando a série histórica teve início. Somente na Região Centro-Sul, foram 967 milímetros, número que supera os 850,3mm registrados em janeiro de 1985 – maior média mensal até então. Essa chuva deixou 10.146 pessoas desalojadas/desabrigadas na região metropolitana. Algumas unidades escolares, localizadas em áreas seguras e que não foram atingidas pelas chuvas, serviram de abrigo. Em BH, essas escolas já foram desocupadas e não devem ter problema no retorno às aulas.

A preocupação se concentra em 173 escolas e creches municipais e cerca de 30 estaduais que necessitavam de alguma intervenção, seja de limpeza, manutenção ou melhorias na infraestrutura, em razão de alguma situação causada pelas chuvas. Segundo levantamento feito pela SMED, no topo dos problemas estão afastamentos de telhas e ruptura de telhados com decorrentes infiltrações. Em segundo lugar, abalos e prejuízos em muros e taludes.


Segundo a secretaria, as obras de reparo começaram no dia 3 em regime de mutirão no que diz respeito a reparos e limpeza pesada. Restaurações em muros e correção de rachaduras, taludes e infiltrações ainda podem levar aproximadamente quatro meses para serem concluídas. A Secretaria estima que a reparação dos danos custará de R$ 10 a 15 milhões.

O levantamento de todos os bens móveis e equipamentos perdidos nas unidades escolares estaduais em razão das chuvas ainda não foi finalizado. Para a retomada das aulas, a Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG) também informou que as intervenções nos colégios estaduais já foram ou estão sendo realizadas. “Até o momento, apenas duas escolas estaduais da capital estão avaliando se será necessário alterar o início do ano letivo em razão de obras na unidade escolar”, informou a nota. A SEE/MG acrescentou que os recursos necessários para organizar a fluidez das aulas já foram disponibilizados.

Biblioteca perdida


Nesta semana, o depoimento de uma funcionária da Escola Municipal Magalhães Drumond, no Bairro Alto Barroca, na Região Oeste, repercutiu muito nas redes sociais. A autora do depoimento, que se identificava apenas como Andreza e afirmava ser coordenadora da instituição, dizia que a escola havia perdido cerca de 80% do seu acervo literário, sendo que a gibiteca foi completamente destruída.


Ela fez um pedido de doação de livros literários, revistas em quadrinhos, dicionários e gramáticas, chegando a afirmar até que poderiam buscar as doações. Em pouco tempo, muita gente passou a procurar a instituição.

“As pessoas que estavam interessadas em ajudar ligavam aqui na escola deixando nome e telefone para agendar possíveis doações”, afirmou uma funcionária da unidade, que preferiu não se identificar. Entretanto, rapidamente a situação mudou de figura. É o que confirma Jéssica Cruz, de 31 anos, secretária da escola: “No calor dos fatos a gente acaba se precipitando. Nós, funcionários, acabamos ficando mesmo muito tocadas com a situação depois da última tempestade, mas a secretaria de educação do município já se comprometeu a recompor o acervo. Estamos em processo de catalogar o material. Neste momento, a escola não está recebendo doação”.

Mauren Namorato, diretora escola, não quis se pronunciar sobre o assunto nem permitiu a liberação de imagens dos danos causados pela chuva.

Pelo menos 58 mortos em 12 dias


Os temporais que atingiram Minas Gerais deixaram pelo menos 58 mortos desde 24 de janeiro, segundo dados da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). A capital mineira foi a cidade com o maior número de vítimas, 13, seguida de Betim, com seis vidas perdidas em soterramentos, desmoronamentos e desabamentos – causas que mais resultaram em óbitos no estado. Outros motivos foram afogamentos e pessoas arrastadas pelas águas. De acordo com a Cedec, mais de 53 mil pessoas foram afetadas diretamente pelas chuvas. Em todo território mineiro, 45.284 pessoas ficaram desalojadas (temporariamente fora de casa) e outras 8.297 estão desabrigadas (sem poder mais voltar para casa). São, pelo menos, 68 feridos. Com os altos volumes de precipitação em curto período, mais de 100 municípios somaram estragos. Pelo menos 101 cidades tiveram o Decreto Estadual de Situação de Emergência (SE) e outras cinco decretaram Estado de Calamidade Pública (ECP).