Série especial em podcast do Estado de Minas conta detalhes da história das cervejas contaminadas que mobilizou autoridades sanitárias em BH
A situação que Camila Massardi Demartini, 29 anos, enfrenta, com as intoxicações do pai e marido dela ligadas à cerveja Belorizontina, poderia paralisar muita gente. Mas não foi o que ocorreu com esta farmacêutica de 29 anos. Ela é a primeira entrevistada na série especial de podcasts O caso Backer, publicada desde ontem no Estado de Minas. A articulação de Camila com outros parentes de vítimas foi possível depois da coincidência de sintomas de Paschoal Demartini e Luis Felippe Teles, respectivamente pai e marido dela. Dessas conversas entre as vítimas, surgiu a suspeita de contaminação a partir da cerveja artesanal. “Era a única coisa que havia em comum entre todos os pacientes. O fato de terem sido meus dois braços arrancados foi o que possibilitou toda essa descoberta. Se não fosse isso, talvez até hoje eu estaria bebendo a cerveja. E você também”, analisa. Aqui, você lê os principais trechos da entrevista.
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O caso Backer: podcast especial conta essa história como você ainda não ouviuCaso Backer: na fábrica, perícia encontra resistência de funcionários da empresaCaso Backer: Polícia Civil investiga intoxicações ocorridas em 2018 Famílias de pacientes intoxicados por dietilenoglicol divulgam carta aberta contra Backer'Minha filha chama pelo pai', diz esposa de vítima de intoxicação por dietilenoglicolCaso Backer: os bastidores do trabalho dos médicos diante da 'doença misteriosa'Primeiro você começa com essas dores, com esse mal estar. Depois você descobre a insuficiência renal. Depois, eles (pai e marido) começaram com uma paralisia facial unilateral, foi do lado esquerdo. Em seguida, uma insuficiência respiratória que tiveram de ser entubados e depois traqueostomizados. Então vem a tetraplegia, que é a paralisação do pescoço para baixo. O Felipe, meu marido, chegou a ficar sedado, inconsciente e depois tiraram a sedação e aos poucos, muito devagar. Ele ficou vários dias assim, totalmente paralisado, sem abrir os olhos, sem se movimentar. A gente não sabia o que estava acontecendo, se ele estava consciente ou não. Meu pai na mesma situação, mas ele já estava em Ubá, tinha passado o natal na minha casa, tinha participado do mesmo churrasco. Começou a sentir dores fortes também, foi internado e posteriormente transferido para Juiz de Fora. Ele dormiu, sedado e não acordou.
Da apuração à cerveja
Eu pensava: ‘Coincidência né? Meu pai e meu marido doentes, internados, com problemas renais’. Aí me fez pesquisar por conta própria porque que os dois estavam dessa forma, e eu não estava, minha mãe não estava... Oc CTI’s mantêm contato, um médico fala pro outro, eles têm grupos em que eles comentam: ‘Eu estou com um paciente assim, assim, assim’. Aí o Dr. Fabrício me disse: ‘Camila, eu estou sabendo de um paciente (de outro hospital) que mora perto da sua casa e de um outro que está aqui mesmo, que mora em frente à sua casa’. Em contato com a Flávia, que é esposa do Cristiano, perguntei a ela no dia 3 de janeiro: ‘Flávia, o Cristiano bebeu cerveja? Ele gosta de cerveja? O Cristiano tomou Belorizontina?’. Ela respondeu ‘Sim, só tomou Belorizontina’. A única coisa que todos os quatro tinham bebido ou comido era a Belorizontina, todas compradas no Super Nosso do Buritis, todas compradas na Black Friday. Então isso não poderia ser uma coincidência. E o que esses agentes químicos tinha a ver com a cerveja? Aí a gente também fez essa ligação. Poxa, dietilenoglicol é usado na produção de cerveja para resfriar no processo de fermentação. Então pronto. A gente ligou o que eles comeram/beberam com o que causava essa sintomatologia que eles apresentavam.
O sacrifício do pai
Então quando eu cheguei à Polícia Civil para prestar depoimento a primeira vez, eu já falei isso. ‘Vocês vão entrar lá e vão procurar metanol, dietilenoglicol e organofosforados. Porque nas nossas pesquisas, foi isso que a gente tinha encontrado que causariam os sintomas que eles tinham.. No dia 9, que eu já tava indo pra Ubá, levando o corpo do meu pai, que tinha vindo pro IML, pra fazer a necropsia, eu vi a notícia (relacionando a cerveja aos casos de intoxicação, a partir de coletiva de imprensa da Polícia Civil). E esse exame ajudaria a desvendar tudo: depois foi comprovado que tinha dietilenoglicol nele. Então tinha dietilenoglicol na cerveja, na Backer e no meu pai. Foi um sacrifício o meu pai ter ido. Eu acredito muito em missão, a missão dele foi brilhantemente cumprida. Eu só tenho muito orgulho e gratidão ao meu pai. Eu fico muito feliz por ter vivido por quase 30 anos ao lado dele e ele ter podido me ensinar tantas virtudes. Ele era um cara maravilhoso. E em relação à partida dele, acho que ele foi me ajudando a ajudar as outras pessoas que precisam. Eu não tive o Felipe que é a pessoa estaria do meu lado nesse momento de perda. Segurar essa barra sozinha não é fácil, mas eu não tive meu tempo de sofrer, não é hora de sofrer, é hora de eu fazer minha parte, de ajudar.