Famílias de pessoas com suspeita de intoxicação por dietilenoglicol, substância tóxica encontrada em cervejas da Backer, publicaram nesta segunda-feira carta aberta contra a empresa cobrando assistência aos pacientes.
Eles denunciam “o comportamento atroz que a Cervejaria Três Lobos - Backer vem apresentando perante os consumidores que estão com gravíssimos problemas de saúde após a ingestão da cerveja Belorizontina”.
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O Ministério Público promoveu, em 30 de janeiro, audiência pública entre familiares e representantes da cervejaria. A empresa se reuniu individualmente com 12 famílias.
“Durante essas reuniões individualizadas, ocorridas em 03 de fevereiro, o enfoque da Backer passou longe de ser a saúde das vítimas. A empresa pretendia coletar informações por meio de um questionário que envolviam perguntas sem nenhuma relação com as necessidades e custeios de tratamento. Tratou-se de investigação própria que pode até mesmo embasar teses de defesa em face das vítimas.”, informou.
A carta chama atenção para a gravidade do quadro dos pacientes.
“Existem vítimas que estão em coma, tetraplégicas e entubadas, outras em CTI com problemas nos rins, fazendo diálises diariamente, e com problemas neurológicos como paralisia de movimentos e facial, além de prejuízo a questões básicas como visão, fala e paladar. Existem vítimas que estão na fila do SUS aguardando tratamento e remédios, outras que não estão no hospital, mas não conseguem mais trabalhar devido às sequelas neurológicas e de visão”, relata o documento.
De acordo com as famílias, até 10 de fevereiro nenhuma família foi respondida e nenhjum contato informado.
“Temos certeza de que a comunidade mineira deseja que nossas empresas prosperem, mas não às custas de vidas, desprezo e tanto desamparo”, apontam.
Na quinta-feira, quando esse prazo havia encerrado, a cervejaria informou, em nota, que nas últimas 72 horas, analisou documentos e realizou reuniões de forma individualizada com 12 parentes de consumidores, com exceção de dois que não compareceram.
“E ficou definido que a ‘logística’ do atendimento (total ou parcial) será definida e formalizada junto aos familiares, uma vez que há pedidos que extrapolam o mero fornecimento de recursos financeiros”.
Nesta segunda-feira, a empresa informou que "as tratativas feitas em conjunto com o Ministério Público estão sendo observadas na íntegra e todas as comunicações oficiais estão sendo formalizados perante a autoridade competente que está ciente do cumprimento dos atos pela empresa. A Backer também informou que está oferecendo atendimento psicológico às famílias".
Nesta segunda-feira, a empresa informou que "as tratativas feitas em conjunto com o Ministério Público estão sendo observadas na íntegra e todas as comunicações oficiais estão sendo formalizados perante a autoridade competente que está ciente do cumprimento dos atos pela empresa. A Backer também informou que está oferecendo atendimento psicológico às famílias".
A Polícia Civil investiga 34 casos relacionados à contaminação das cervejas da Backer, sendo seis mortes.
CONFIRA A CARTA NA ÍNTEGRA
CASO BACKER – CARTA ABERTA DAS VÍTIMAS À COMUNIDADE DE MINAS GERAIS
Belo Horizonte, 10 de fevereiro de 2020.
As vítimas da intoxicação por dietilenoglicol e seus familiares vêm, por meio desta carta aberta, denunciar o comportamento atroz que a Cervejaria Três Lobos - Backer vem apresentando perante os consumidores que estão com gravíssimos problemas de saúde após a ingestão da cerveja Belo Horizontina.
É importante desde já indicar que dentre os mais de 30 (trinta) casos relacionados e 6 (seis) mortes, existem vítimas que estão em coma, tetraplégicas e entubadas, outras em CTI com problemas nos rins, fazendo diálises diariamente, e com problemas neurológicos como paralisia de movimentos e facial, além de prejuízo a questões básicas como visão, fala e paladar. Existem vítimas que estão na fila do SUS aguardando tratamento e remédios, outras que não estão no hospital, mas não conseguem mais trabalhar devido às sequelas neurológicas e de visão.
Diferentemente do que a empresa afirma na mídia, ATÉ AGORA, MAIS DE 30 (TRINTA) DIAS DA CONFIRMAÇÃO DO CASO E 5 (CINCO) DIAS DEPOIS DO PRAZO ESTABELECIDO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, A BACKER NÃO PRESTOU QUALQUER AUXÍLIO.
No dia 30 de janeiro deste ano, o Ministério Público de Minas Gerais notificou familiares das vítimas e a cervejaria para uma audiência pública, na qual ficou ajustado que a cervejaria custearia as despesas envolvendo o tratamento de saúde das vítimas intoxicadas e auxílio psicológico a todos os familiares. Ficou acordado que a empresa realizaria reuniões individualizadas com os representantes das vítimas e, em 72 (setenta e duas) horas, efetivaria o custeio das despesas por eles apontadas ou apresentaria negativa fundamentada.
Durante essas reuniões individualizadas, ocorridas em 03 de fevereiro, o enfoque da Backer passou longe de ser a saúde das vítimas. A empresa pretendia coletar informações por meio de um questionário que envolviam perguntas sem nenhuma relação com as necessidades e custeios de tratamento. Tratou-se de investigação própria que pode até mesmo embasar teses de defesa em face das vítimas. Ficou claro que, além de a cervejaria não estar preocupada com as vítimas e seus familiares, também não pretende arcar com os gastos referentes aos tratamentos. Muito pelo contrário. Frases como "vocês não sabem o que a Backer está passando" ou "está cheio de oportunistas por aí" para justificar a exigência de documentos pela empresa comprovaram a total FALTA de humanidade da empresa.
Em 06 de fevereiro, a empresa enviou nota à imprensa comunicando que por iniciativa própria (o que não é verdade), recorreu ao Ministério Público para ampliar o apoio humanitário que tem dado aos familiares dos consumidores intoxicados pela cerveja Belo Horizontina, e informando que a logística do atendimento seria definida e formalizada junto aos familiares. Além disso, disseram que seria informado contato para agendamento com psicóloga.
Ocorre que, até a presente data, NENHUMA família foi respondida. NENHUM contato foi informado. NÃO está sendo prestada qualquer assistência. Mesmo após o vencimento do seu prazo de 72 horas, a empresa ignora o nosso sofrimento.
Perante a mídia, no entanto, a Backer informa que está prestando assistência, inclusive por questão de humanidade e solidariedade. Onde está a humanidade em ser tratado como número, com descaso e sem respostas?
Como se não bastasse, a empresa utilizou do prazo concedido de boa-fé pelo Ministério Público de Minas Gerais e todas as vítimas da intoxicação para tomar providências em benefício próprio. O Pub Backer Gourmet, localizado no aeroporto de Confins, já teve seu nome alterado. Qual é o próximo passo? Esconder patrimônio?
Temos certeza de que a comunidade mineira deseja que nossas empresas prosperem, mas não às custas de vidas, desprezo e tanto desamparo. A falta de respeito conosco e a postura dissimulada da empresa devem ser de conhecimento de todos, contamos com a ajuda de cada um de vocês.
Minas Gerais não merece ter mais essa marca em seu povo.
Libertas quæ sera tamen.