“A Backer não me mandou nem um copo de água.” A frase de Geraldo Lopes Dias, de 68 anos, dita ao deixar a 4ª Delegacia da Polícia Civil de Minas Gerais, no Bairro Estoril, Região Oeste de Belo Horizonte, sintetiza – pouco mais de um mês após o início das investigações –, a sensação de desamparo que envolve vítimas de intoxicação por dietilenoglicol em produtos da cervejaria. O mesmo sentimento motivou a divulgação de carta aberta, por pacientes e seus familiares, em que cobram providências e apoio da Backer. O protesto coincide com o aumento de casos investigados, que passaram ontem a 34, segundo a Polícia Civil, com seis mortes.
O mecânico Geraldo ficou internado por nove dias no Hospital da Unimed, no Bairro Santa Efigênia, na Região Leste de Belo Horizonte, com a suspeita de intoxicação. Hoje se recupera em casa, de onde contou ter saído com dificuldade de se locomover e problemas nos olhos, para ir até a delegacia. Ele disse que consumiu três garrafas de cerveja em casa, durante confraternização em 2 de janeiro. “Tomei cervejas e uma dose de cachaça. No dia seguinte, comecei a me sentir mal. Senti muita tonteira, dor abdominal, dor no corpo, minha visão ficou turva e fiquei com dificuldade para respirar. Emagreci 10 quilos no último mês”, contou. A esposa dele, Luzi Braga, de 51, conta que tarefas simples de casa se tornaram desafiadoras para Geraldo: “Está melhorando, mas se tornou outra pessoa”.
A família cobra um posicionamento da Backer e ajuda para custear o tratamento. O mecânico sustenta que a empresa não ofereceu nenhum tipo de assistência. “A Backer tem que ter respeito pelo seu consumidor. Espero que ainda me procurem”, disse. Luzi reforça o apelo: “Preciso de ajuda. Não posso deixar meu marido sozinho. Sou faxineira e não estou podendo sair de casa. Ele é mecânico e também não consegue trabalhar. Temos uma filha. Espero que a empresa arque com os nossos gastos com o tratamento”.
Outro lado
A Backer afirma que recorreu ao MP para ampliar o apoio que tem dado aos familiares de consumidores que disseram ter sofrido algum problema de saúde. “Diante disso, dentro das 72 horas, a empresa analisou documentos e realizou reuniões de forma individualizada com familiares de 12 consumidores”, sustenta. De acordo com a cervejaria, ficou definido que o atendimento será formalizado junto aos familiares, uma vez que há pedidos que extrapolam o fornecimento de recursos financeiros. A empresa sustenta que vai informar um contato para agendamento do atendimento psicológico individualizado ou . “Os familiares deverão entrar em contato e realizar o agendamento de acordo com sua disponibilidade e comodidade”, informou.
“Os demais consumidores atendidos, que não foram contemplados pelo apoio preliminar da empresa nesse primeiro contato, continuarão a ser monitorados e receberão toda a assistência da cervejaria para auxílio nas próximas fases e suporte médico conveniente ao caso”, disse a empresa, em nota. “O atendimento de Geraldo Lopes está sendo realizado pela equipe multidisciplinar estruturada pela Backer. Ronaldo não entrou em contato por meio do canal disponibilizado. A cervejaria reforça que, por tratar-se de objeto de investigações pelas autoridades, as informações sobre esses essas pessoas são confidenciais, por isso é importante que eles entrem em contato”, conclui o texto.
Sobre a carta aberta, a empresa divulgou: “As tratativas feitas em conjunto com o Ministério Público Estadual estão sendo observadas na íntegra e todas as comunicações oficiais estão sendo formalizados perante a autoridade competente, que está ciente do cumprimento dos atos pela empresa”.