A falta de um reagente capaz de detectar a presença do dietilenoglicol, substância tóxica encontrada em produtos da cervejaria Backer, vem atrasando a realização de exames para confirmar a presença do contaminante em materiais colhidos em vítimas com suspeita de intoxicação. O Estado de Minas apurou que o material está em falta no Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte. A Polícia Civil confirma que o processo de aquisição do insumo “está em andamento”, e que seu uso pouco comum não justificaria a manutenção em estoque. Mais de um mês depois da abertura do inquérito, familiares de vítimas cobram celeridade nas investigações. A empresa, que está com a fábrica fechada desde 10 de janeiro e já demitiu um quinto de seus funcionários, também espera rapidez nas respostas.
A diretora de marketing da cervejaria, Paula Lebbos, cobra agilidade na apuração. Com a fábrica fechada desde 10 de janeiro, a empresa demitiu 52 funcionários, um quinto de seu quadro, e estima que esse número pode ser três vezes maior, se consideradas as vagas indiretas. “É essencial ter o reagente para fazer o exame, para essas pessoas e a própria cervejaria Backer entenderem o que está acontecendo”, afirma.
A interdição da fábrica ocorreu em 10 de janeiro, por determinação do Ministério da Agricultura. O bar da empresa, Templo Cervejeiro, também está fechado. “Estamos todos muito assustados. As autoridades precisam dar respostas”, diz a representante da empresa. A diretora de marketing da cervejaria, Paula Lebbos, cobra agilidade na apuração. Com a fábrica fechada desde 10 de janeiro, a empresa demitiu 52 funcionários, um quinto de seu quadro, e estima que esse número pode ser três vezes maior, se consideradas as vagas indiretas. “É essencial ter o reagente para fazer o exame, para essas pessoas e a própria cervejaria Backer entenderem o que está acontecendo”, afirma.
De janeiro para cá, exames encontraram dietilenoglicol no sangue de quatro pessoas, uma delas Paschoal Demartini Filho, de 55. Ele morreu em 7 de janeiro, em Juiz de Fora, na Zona da Mata. A filha dele, que é farmacêutica, falou sobre o caso do pai e do marido, que permanece internado, ao podcast “O caso Backer”. Os demais pacientes examinados sobreviveram.
“Um desses óbitos está entre os quatro casos em que foi confirmada a presença da substância dietilenoglicol no sangue. Trata-se de um homem, que esteve internado em hospital de Juiz de Fora e faleceu em 7/1”, informou boletim da SES sobre a intoxicação por dietilenoglicol. A confirmação da substância em Paschoal ocorreu em 13 de janeiro.
Reagente em falta afeta investigações
Ontem pela manhã, o EM questionou a Polícia Civil sobre o tipo de reagente usado no exame para confirmar a presença do dietilenoglicol e quando foi a última licitação para a compra do item. A resposta se limitou a informar que a questão não estava “no bojo das investigações”. O dietilenoglicol e o monoetilenoglicol, fluidos usados para resfriar tanques de cerveja e que não podem ter contato com a bebida, foram encontrados em cervejas, equipamentos e na água da Backer.
Questionada sobre a ausência do reagente, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública explicou que “as forças de Segurança de Minas Gerais têm orçamentos independentes da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública e autonomia na distribuição de recursos. Para apuração de compra envolvendo o IML, orientamos que apurem junto à Polícia Civil”.
Depois disso, a Polícia Civil mudou o posicionamento e informou que “parte das análises laboratoriais já foi concluída e os laudos já foram liberados. Outra parte está em andamento, necessitando de finalização de compra de reagentes específicos”. Segundo a nota, os reagentes não são de uso comum nas necropsias, “não se justificando manutenção em estoque”. A corporação ressaltou que as investigações estão “bem adiantadas”.
Em 35 dias de investigação, a corporação apura 34 casos relacionados ao consumo das cervejas contaminadas da Backer. Os pacientes desenvolveram um quadro chamado de síndrome nefroneural, com comprometimento, sobretudo, de funções neurológicas e renais. Seis pessoas morreram. Até agora, apenas quatro exames com a confirmação da substância tóxica no sangue dos pacientes – um dos quais morreu – foram divulgados pela força-tarefa que apura o caso, formada também pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).
A respeito da conclusão das investigações, a polícia diz que “o prazo foi prorrogado e ainda não há previsão para a conclusão das investigações”. “As amostras recolhidas tanto na cervejaria quanto da empresa química que vendia o monoetilenoglicol continuam sendo analisadas pelas equipes de peritos do Instituto de Criminalística, de forma criteriosa”, diz o texto.
De acordo com a Civil, ainda não há previsão para a conclusão da maioria dos laudos. “Os que estão prontos já foram disponibilizados para os advogados da empresa, atendendo aos princípios constitucionais e modernos atinentes ao inquérito policial. A Polícia Civil de Minas Gerais não vai comentar nenhum resultado isoladamente e falará sobre os exames, em momento oportuno, para não atrapalhar os trabalhos”, pontua.
A falta de respostas deixa as famílias angustiadas. “É tudo muito lento. É preciso cobrar responsabilidade da Backer. São muitas vidas em risco, pessoas que perderam a vida. É um descaso muito grande”, afirma Taciana Maciel, de 42 anos, esposa de Ney Eduardo Vieira Martins, de 65. Ontem, completaram-se 60 dias que o marido dela está fazendo hemodiálise. Apreciador de cerveja artesanal, ele consumiu a Belorizontina em novembro, numa festa de família. A Vigilância Sanitária recolheu exames de Ney, mas a família ainda não sabe o resultado.
Ainda não foi aprovada também a exumação do corpo de uma mulher que morreu em 28 de dezembro do ano passado, cujo pedido está em análise pela Justiça. “Estamos apreensivos e inquietos. Por orientação do delegado, a gente acredita que possa encontrar ainda a substância no organismo, que ainda possa ter alguma coisa preservada. Mas é um processo muito moroso”, afirma Christiani Assis, de 40. Ela é filha de Maria Augusta Cordeiro, que foi sepultada em Pompéu, na Região Central, em 29 de dezembro, antes de os casos virem à tona. (Colaborou Cristiane Silva)