Um decreto do prefeito de Itabirito, Orlando Amorim Caldeira (PPS), põe o funk no centro de uma polêmica envolvendo censura no carnaval.
O documento proíbe “músicas definidas como funk e, de quaisquer estilos, que incitam a violência", façam apologia a drogas, ao sexo, a injúrias raciais e que contribuam para a “alteração do comportamento humano”.
A determinação, publicada na sexta-feira passada (14/2), é de que esse tipo de música não seja tocada em blocos, trios e palcos do município da região metropolitana de BH.
Apesar de se aplicar a qualquer tipo musical com conteúdo violento, o decreto destaca o “funk”, único gênero citado especificamente no documento e que ainda aparece escrito em negrito e itálico.
A secretária de Patrimônio e Cultura da Prefeitura de Itabirito, Junia Melillo, responsável pelo carnaval no município, não detalhou como essa norma será cumprida e fiscalizada.
“Isso foi uma decisão do prefeito, a partir de orientação da Polícia Militar. A intenção dele não é restringir um estilo, mas as músicas que tenham conteúdo que incentivem a violência. Sou contra a restrição de qualquer estilo musical”, afirma Junia.
O funk e o estigma da violência
“O funk tem mais de 40 anos de existência sempre foi atrelado ao estigma da violência, porque é fruto da favelça. E, no imaginário social e estatal, a favela é um local de violência”, afirma a doutora em direito Maíra Neiva Gomes, do Observatório das Quebradas, que organiza o Baile Funk da Serra.Ela ressalta que, diferentemente da arte branca, que usa abstrações, a arte negra tende a descrever a realidade que o artista vive.
“Se o sujeito está inserido no meio violento, ele vai relatar violência. Como diz a Kika, organizadora do Baile Funk da Serra, se quer mudar as letras do funk, mude a realidade dos jovens”, ressalta Maíra Neiva.
O EM tentou contato com o prefeito e a Procuradoria do Município e não teve retorno até a publicação desta notícia.